O quarto estava em silêncio, exceto pelo som da respiração de Lorenzo.
Elliot o embalava devagar, andando de um lado para o outro como fazia todas as noites. Mesmo exausto, mesmo com o estômago vazio, ele não parava. Só quando o bebê finalmente adormeceu, ele o deitou no berço improvisado com cuidado.
Elliot.
— Desculpa por te trazer pra cá, — sussurrou, passando os dedos pela bochecha rosada do filho. — Mas a gente precisava de um teto... e isso foi o que sobrou.
Sentou-se no chão, recostado na cama. O moletom velho ainda cheirava a cigarro da rua. A cabeça girava. Não sabia o que esperar dali. Não sabia se sairia vivo. Mas pelo menos, por agora, Lorenzo tinha onde dormir.
Do lado de fora da mansão, no andar debaixo, Dante Morelli terminava um telefonema, de pé no escritório.
Dante.
— Sim. O ômega chegou. Trouxe o bebê. Tem os olhos do pai. — Ele se calou por alguns segundos, ouvindo a resposta do outro lado. — Não. Não sei quanto tempo ele aguenta. Mas tem alguma coisa ali. Coragem ou burrice. Talvez os dois.
Desligou e ficou em silêncio, encarando o copo de uísque. A imagem de Elliot parado naquela sala, com o bebê no colo e o envelope na mão trêmula, ainda estava viva na mente dele. Um ômega quebrado, mas não destruído. Isso o incomodava mais do que deveria.
.
Três batidas secas na porta do quarto.
Elliot se levantou de um pulo.
Elliot.
— Já vai!
Abriu a porta com o coração disparado. Um homem de terno escuro o encarava com frieza.
Capangas.
— O chefe quer ver você. Agora.
Elliot.
— O Lorenzo tá dormindo, eu posso levá-lo... ou—
Capangas.
— Sozinho. Ele disse.
Elliot olhou para o berço por um segundo a mais do que devia.
Elliot.
— Tá. Tudo bem... Eu já vou.
Desceu as escadas em silêncio, sentindo o chão de mármore gelado sob os pés cansados. A cada passo, se perguntava se aquilo era uma armadilha. Se ele estava sendo testado. Se aquele jantar era só uma desculpa para algo pior.
Dante estava de pé na sala de estar, agora com uma camisa preta aberta nos punhos, mangas dobradas. Um cigarro aceso entre os dedos.
Dante.
— Você sabe cozinhar? — perguntou, sem nem se virar.
Elliot.
— Sei. Desde novo. Meu pai abandonou a gente cedo. Tive que aprender ou passava fome.
Dante soltou a fumaça lentamente.
Dante.
— Sabe fazer carne?
Elliot.
— Sim, senhor.
Finalmente, ele se virou. O olhar intenso encontrou o de Elliot.
Dante.
— Então prove. Hoje você cozinha. Se for ruim, vamos considerar isso uma afronta pessoal.
Elliot arregalou os olhos, mas manteve o tom calmo.
Elliot.
— Tempero eu tenho. Só espero que a sua dispensa seja melhor que a da pensão onde eu vivia.
Um canto da boca de Dante se curvou levemente. Quase um sorriso. Quase.
E, naquele instante, Elliot soube: ele ainda estava à beira de um precipício — mas talvez, só talvez, tivesse chamado atenção do lobo.
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