— Shh... já vai, meu amor, a mamãe tá aqui. — murmurou com a voz rouca de sono, embalando o pequeno Lorenzo nos braços.
O bebê de sete meses chorava baixinho, as bochechinhas vermelhas e os olhinhos marejados. Estava com fome. De novo.
Elliot encostou a testa na do filho, tentando disfarçar o aperto no peito.
Elliot.
— A mamãe vai dar um jeitinho, tá bom? Só mais um pouco... — sussurrou, sentando no sofá rasgado do apartamento.
A luz da cozinha tremeluzia, e a geladeira fazia um barulho estranho a cada cinco minutos. O cheiro de umidade dominava o ambiente, junto ao leve aroma adocicado que sempre escapava dos feromônios de Elliot — suave, maternal, doce como baunilha com leite morno.
Na pia, havia uma mamadeira pela metade, com água morna e dois dedos de leite. Era o último restinho que tinha conseguido comprar. Amanhã, não teria mais.
Elliot.
— Respirou fundo, tentando não chorar —
Abriu a geladeira. Um ovo. Meio limão. Um potinho com arroz grudado no fundo.
Elliot.
— Vamos dividir isso aqui, né, filho? Você fica com o leite, a mamãe fica com o arroz... justo. — disse, forçando um sorriso enquanto batia com uma colher na panela.
Lorenzo.
— Lorenzo deu uma risadinha banguela, e Elliot sentiu os olhos se encherem de lágrimas. —
Elliot.
— Você não sabe o quanto me salva todo dia, sabichão... — disse baixinho, se abaixando para beijar a testa do bebê.
O celular velho vibrou no canto da sala. Elliot pegou o aparelho com as mãos trêmulas.
Número desconhecido. Mensagem de texto.
> "Último aviso. R$3.400. Prazo: 10 de junho. Família Morelli não perdoa."
Elliot.
— Merda... merda, merda... — ele sussurrou, sentando no chão, de costas para a parede.
As lágrimas vieram sem pedir licença.
Elliot.
— Eu só queria... só queria que ele nascesse com segurança. Foi só por isso que eu pedi o dinheiro... — disse em voz baixa, como se pedisse desculpas a um mundo que já não o escutava mais.
Flashbacks curtos vinham e iam:
Lucas.
Como você pode está grávida, você não estava tomando os remédios que eu comprei pra você?! — Diz gritando com o Elliot.
Elliot.
E-eu tava, eu juro que estava — Elliot diz enquanto gaguejava de medo.
Lucas.
um fardo que ele não tinha que carregar. — Lucas gritando com ele, jogando o exame de gravidez no chão.
Elliot tentou não pensar nisso agora.
A dívida com a máfia não esperava o emocional de ninguém.
Ele olhou para Lorenzo, que agora brincava com os próprios dedinhos, alheio à tempestade que girava em torno dos dois.
Elliot.
— Eu vou dar um jeito. Mesmo que eu tenha que engolir meu orgulho. Mesmo que eu tenha que pedir mais... — ele disse, com a voz quase inaudível.
Mas ele sabia.
A Família Morelli não aceitava pedidos. Só pagamentos. E quem não pagava... desaparecia.
Comments