capítulo 3
O céu estava cinzento naquela manhã. Pesado. Umidade no ar. O tipo de dia que parece anunciar tragédia.
Elliot não dormiu. Não podia. Passou a madrugada acordado, sentado no chão da sala, observando Lorenzo dormir no colchão improvisado. O bebê mexia as mãozinhas no ar, resmungava baixinho, dava sorrisos involuntários enquanto sonhava com algo que Elliot jamais conheceria.
Talvez paz.
Às 06h12, ele se levantou e foi até o banheiro. Tinha olheiras fundas, a pele pálida, e os lábios secos. Ligou a torneira e jogou água no rosto, encarando seu reflexo no espelho rachado.
Elliot.
— Você só precisa aguentar. Só isso. Não surta. Não demonstra medo. Protege ele... mesmo que pra isso tenha que se ajoelhar. — murmurou para si mesmo.
Voltou para o quarto e arrumou a pequena mochila com algumas fraldas, a chupeta preferida de Lorenzo e a mamadeira — ainda com um restinho de leite em pó que havia misturado na noite anterior. Pegou também uma muda de roupa, o certificado de nascimento do bebê e uma carta.
Ele não queria deixar aquilo, mas era necessário. No mundo em que vivia, ômegas não voltavam da máfia.
A carta estava dobrada dentro de um envelope branco, escrito com letra trêmula:
> “Para qualquer um que encontre o Lorenzo, caso eu não volte.”
Às 08h47, ouviu o som da van chegando.
A respiração falhou.
Lorenzo dormia em seus braços, vestindo um macacão azul desbotado com um pequeno desenho de estrela. Elliot o apertou contra o peito uma última vez, inalando o cheiro adocicado do filho, como se gravasse aquilo na alma.
Três batidas.
Outra vez. Sempre três.
Capangas.
— Vamos. — disse o mesmo homem de antes, sem rodeios.
Elliot não respondeu. Só assentiu, engolindo seco, e seguiu com passos contidos, bebê nos braços, mochila nas costas e o coração explodindo dentro do peito.
A van era escura por dentro. Cheirava couro e ferro. Fria como um caixão.
O trajeto foi silencioso.
Nenhum dos dois capangas falou uma única palavra. Elliot também não ousou. Passou o caminho olhando pela janela, vendo a cidade mudar à medida que se afastavam dos bairros pobres. Prédios altos, carros caros, avenidas largas... E então, uma estrada mais estreita, ladeada por grades altas e árvores muito bem podadas.
Família Morelli.
Era um casarão imenso, cercado por muros altos, câmeras em cada canto e dois homens armados no portão principal. Luxuoso, imponente, feito pra lembrar a qualquer um quem mandava.
Quando a van parou, Elliot sentiu as pernas fraquejarem.
Elliot.
— Respira... respira... você não tá aqui pra morrer. Você tá aqui pra sobreviver. — pensou, enquanto descia do carro.
O capanga o guiou até a entrada. Não o empurrou, não falou nada. Só o olhou de lado, como quem sente pena.
A porta foi aberta por um homem de terno cinza. Mais elegante que os outros. Talvez um secretário.
Vicente.
— O Sr. Morelli está no salão principal. Ele quer vê-lo agora.
Elliot engoliu em seco e entrou, sentindo os pés afundarem no tapete grosso e vermelho.
A casa era silenciosa. Imensa. Cara demais pra ser real. Tudo ali parecia gritar "poder". Cada quadro, cada móvel, cada detalhe.
E então, a porta do salão principal se abriu.
Dante Morelli.
Sentado em uma poltrona de couro escuro, pernas cruzadas, camisa preta com as mangas dobradas, tatuagens visíveis até o antebraço. Olhar afiado. Mandíbula firme. A expressão de quem já viu o inferno — e sobreviveu.
Ele ergueu os olhos assim que Elliot entrou.
O cheiro do ômega — doce, suave, quente — atingiu o nariz do alfa como um estalo.
Dante arregalou os olhos por um segundo
Dante.
— Então... você é o pequeno ômega endividado. — ele disse, voz rouca, grave, arrastando cada sílaba como uma ameaça.
Elliot sentiu as pernas falharem, mas não baixou a cabeça.
Afinal... agora não era só sobre ele.
Era sobre sobreviver por Lorenzo.
Comments
Abadon007
Esperando ansiosamente pela continuação!
2025-06-06
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