Entre a Lámina e o Desejo
O som dos saltos ecoava no beco vazio. Era quase poético… metálico, preciso, como uma melodia sombria anunciando o inevitável.
A respiração ofegante da mulher à frente cortava o silêncio. Corria desajeitada, tropeçando nos próprios passos, os olhos arregalados pela certeza do fim.
Mas não adiantava correr.
Selena caminhava. Apenas caminhava.
Não precisava de velocidade.
Ela sabia exatamente onde aquilo terminaria.
Sempre sabia.
Puxou lentamente a lâmina da bainha presa na lateral do corpo. O aço refletiu a luz amarelada do poste mais próximo. Sua mão firme, acostumada ao peso da morte.
Ali, naquele instante, não havia hesitação. Nunca houve. Nunca deveria haver.
— Você corre tão mal... — sua voz saiu baixa, arrastada, quase divertida. — Parece que não foi feita pra sobreviver.
O grito abafado da mulher se perdeu quando ela virou abruptamente e deu de cara com uma parede de tijolos. Fim da linha.
Selena se aproximou. Cada passo seu parecia pesar toneladas sobre o peito da vítima.
— Por favor... — soluçou a mulher, escorregando pela parede até cair no chão, trêmula. — Eu... eu... não... não fiz nada...
Selena agachou-se, olhando nos olhos dela.
— E é isso que mais me fascina... — sorriu de canto. — Não precisar de motivo algum.
A lâmina deslizou.
Primeiro, um corte raso no queixo, só pra ver o vermelho brotar.
Depois, um segundo mais profundo, do canto da boca até a mandíbula.
A mulher gritava, se debatia, mas Selena segurava firme — ela sabia exatamente onde cortar sem matar de imediato.
— Olha só... que lindo... — deslizou os dedos no sangue, desenhando linhas no rosto da vítima. — Você é minha obra de hoje.
Por alguns minutos, só se ouviam os gritos, o som da carne rasgando, da lâmina deslizando, do choro se misturando com gargalhadas suaves, satisfeitas.
E então... silêncio.
A cabeça rolou alguns metros, parando perto de uma poça de água suja.
O corpo tombou, largado, sem vida.
Selena olhou por alguns segundos. Respirou fundo.
Havia uma paz naquele instante que ela jamais encontrava em outro lugar. Uma paz silenciosa, fria, perfeita.
Pegou um pano, limpou a lâmina com cuidado quase religioso e guardou-a de volta.
Sem pressa, ajeitou os cabelos, conferiu o batom no retrovisor quebrado de um carro abandonado e caminhou calmamente em direção à rua principal.
Ninguém nunca a via.
Ninguém nunca a pegava.
Ela era uma sombra.
Um fantasma.
✂️
Minutos depois, caminhava pela calçada, como qualquer mulher comum da cidade. As luzes da galeria de arte à frente chamaram sua atenção. Havia uma exposição naquela noite — algo sobre “a dualidade da beleza e da dor”. Irônico. Quase poético.
Por um impulso estranho, decidiu entrar.
E foi ali, exatamente ali, que viu ela.
Os cabelos negros, o olhar intenso, a boca desenhada com um tom escarlate perfeito. Ela estava de costas, observando uma escultura que parecia feita de cacos de vidro e pedaços de metal.
Havia algo... errado. Algo que Selena não sabia nomear.
Seu peito apertou. As mãos formigaram.
Por um segundo, a imagem daquela mulher com a garganta aberta, coberta de sangue, surgiu nítida em sua mente.
Mas, no instante seguinte... surgiu outra imagem.
Ela nua, arqueando o corpo, gemendo baixo, presa sob seu domínio.
Selena fechou os olhos, pressionando os dedos contra as têmporas.
— O que... — sussurrou para si. — O que diabos é isso?
Não sabia se queria matá-la… ou possuí-la.
E essa dúvida, para alguém como ela, era mais perigosa do que qualquer faca.
O coração que nunca batia fora do compasso... agora, parecia prestes a explodir.
A mulher virou o rosto, como se percebesse estar sendo observada.
Seus olhos se cruzaram.
E naquele olhar... Selena entendeu.
Ou aquele seria seu próximo cadáver...
...ou seria sua perdição.
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🩸 Continua...
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Atualizado até capítulo 31
Comments
Ana Faneco
Interessante 😛
2025-07-04
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