Os lábios de Elisa tinham gosto de vinho e perigo. Suaves e violentos na mesma medida. Selena a prensava contra a bancada, as mãos deslizando da garganta para os ombros, dos ombros para os quadris, apertando, dominando, testando até onde ela iria.
E, para sua surpresa, Elisa não recuava.
Pelo contrário.
Revidava.
Puxava seus cabelos, mordia seus lábios até o sangue brotar, cravava as unhas na pele com força suficiente para deixar marcas. Ela queria mais. Queria tudo. Queria saber até onde aquele jogo podia ir.
Quando os lábios se separaram, ambas ofegavam. O silêncio que veio depois não era constrangedor. Era denso, carregado, quase palpável.
Selena passou a língua no canto da boca, limpando o filete de sangue que escorria.
Olhou para baixo, para a faca caída no chão. O aço brilhava sob a luz baixa do apartamento.
Era como se ela tivesse deixado cair não só a lâmina, mas também o controle.
E isso a apavorava.
Elisa percebeu. Sorriu de canto.
Ajeitou a toalha, que quase deslizava do corpo, mas não o fez. Proposital.
Sempre proposital.
— Sabe... — disse, cruzando os braços, como se nada tivesse acontecido. — Eu imaginava que você era intensa... mas não tão intensa.
Selena franziu o cenho, passando a mão pelos cabelos, tentando recuperar o fôlego — e o controle da própria sanidade.
— Você é louca. — A voz saiu baixa, rouca, mais para ela mesma do que para Elisa. — Completamente louca.
— E você é o quê? — Elisa rebateu, sorrindo. — Uma artista? Uma colecionadora de cabeças? Uma mulher entediada que não sabe se quer transar ou matar?
As palavras bateram como tapas.
Porque eram verdades.
Verdade demais.
Selena apertou os olhos, respirando fundo, lutando contra o próprio corpo, que tremia, suava, queimava.
— Eu deveria te matar. — Sua mão apertou o ar, imaginando a lâmina na garganta de Elisa. — Agora. Aqui.
Elisa deu dois passos, ficando cara a cara com ela, tão perto que Selena podia sentir o calor da pele, o cheiro do banho, o perfume misturado com o álcool do vinho.
— Então faz. — A voz era um sussurro, provocante, deliciosamente cruel. — Me mata. Vai. Quero ver se você consegue.
Selena segurou o rosto dela com força, apertando as bochechas, forçando Elisa a encará-la.
Seus olhos tremiam. Sua respiração falhava.
O corpo inteiro gritava.
Desejo. Fome. Ódio. Tesão. Tudo misturado, confuso, caótico.
— Você não tem ideia... — rosnou. — ...do que está pedindo.
Elisa deslizou os dedos pela mão dela, lenta, insinuante, e segurou-a.
— Eu tenho, sim. — Sorriso. — E quero.
A mão de Selena tremeu. Ela largou o rosto de Elisa como se queimasse. Deu dois passos para trás, segurando a cabeça com ambas as mãos.
O que diabos estava acontecendo com ela?
Isso nunca aconteceu. Nunca.
Ela sempre foi dona do jogo. Sempre foi quem escolhia. Quem decidia. Quem ditava quem vivia... e quem morria.
Mas aquela mulher...
Aquela mulher estava quebrando cada linha, cada regra, cada muro.
— Eu não sei... — murmurou, a voz embargada, quase falhando. — ...se eu quero te foder... ou te cortar em pedaços.
Elisa caminhou até ela, parando tão perto que seus seios quase roçavam no peito de Selena.
— Quem disse... — passou o dedo lentamente pela linha do queixo dela, descendo para o pescoço, depois para o colo — ...que você precisa escolher?
Selena segurou o pulso dela no meio do caminho, apertando com força.
Os olhos de ambas se encontraram.
Fagulhas. Choque. Guerra.
Por um instante, só o som das respirações, rápidas, entrecortadas.
— Você é insuportável. — A voz de Selena era grave, densa, carregada. — Irritante.
Elisa sorriu, deslizando a outra mão pelo quadril dela.
— E você... — apertou o cinto da calça de Selena, puxando-a para mais perto — ...é a coisa mais perigosa e deliciosa que eu já vi na vida.
Selena fechou os olhos, respirando fundo, buscando força em algum lugar dentro de si que já não existia mais.
Empurrou Elisa contra a parede, com violência. Mas, ao invés de reagir com medo, ela sorriu, rindo, mordendo o lábio inferior.
Deslizou as mãos pelos braços de Selena, subindo, segurando seu rosto, puxando-a para outro beijo — esse mais lento, mais profundo, mais... desesperado.
Entre beijos e mãos que se apertavam, que se agarravam, Selena deslizou uma das mãos até a coxa de Elisa, apertando-a com força. A toalha caiu. E, pela primeira vez, Selena não sabia se era a predadora... ou se havia se tornado, enfim, presa.
Porque, às vezes, o desejo corta mais fundo que qualquer lâmina.
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🩸 Continua...
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Atualizado até capítulo 31
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