O prédio não era difícil de encontrar. Um bloco de concreto, antigo, pintado de preto, com grafites por toda parte. Moderno, descolado, cheio de gente que achava que arte podia ser qualquer coisa — inclusive caos.
Selena estava parada do outro lado da rua, observando. Seus olhos mapeavam cada janela, cada movimento. Estudava as entradas, as câmeras, os pontos cegos. Fazia isso como quem respira.
Deslizou a lâmina pela coxa, conferindo o encaixe perfeito.
O plano era simples.
Entrar. Observar. Decidir.
Decidir se aquilo que queimava dentro dela era desejo… ou fome de morte.
Cruzou a rua como quem pertencia àquele lugar. O porteiro nem a olhou. Carregava uma mochila simples, fingindo ser mais uma das dezenas de visitantes que aquele prédio recebia todos os dias.
No elevador, apertou o sétimo andar. As portas se fecharam. O reflexo no espelho do elevador a encarava: impecável, fria, letal. Mas... havia algo errado naquele reflexo. Algo que tremia nas pupilas. Algo que ela não sabia nomear.
Quando a porta abriu, respirou fundo.
Corredor longo. Tapetes escuros. Luzes fracas. Cheiro de tinta e incenso.
Apartamento 703.
Ela parou em frente.
O som de uma música ambiente escapava pela fresta da porta — um jazz lento, quase sensual.
Selena sacou uma ferramenta fina, deslizando-a pela fechadura. Dois segundos. Clique. A porta cedeu.
Empurrou devagar, entrando como uma sombra.
O apartamento era uma extensão perfeita de quem Elisa parecia ser: paredes com quadros abstratos, fotos em preto e branco, esculturas deformadas, livros espalhados, uma bicicleta pendurada na parede, uma rede na sala. Caos organizado. Sexy. Provocante.
Caminhou lentamente, os olhos absorvendo cada detalhe.
Mas então...
Um som.
O rangido de um piso.
Passos.
Ela congelou atrás de uma divisória.
E então a viu.
Elisa saía do banheiro, enrolada apenas em uma toalha branca, os cabelos molhados, pingando. A pele úmida brilhava sob a luz. A curva dos ombros, o contorno da clavícula, a linha perfeita dos seios escondidos por pouco tecido.
Selena apertou a lâmina na mão, com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos.
Droga.
O peito apertava. O corpo tremia.
Por que... por que você faz isso comigo?
Elisa caminhou até uma cômoda, abriu uma gaveta, pegou uma taça e serviu vinho. Encostou-se na bancada da cozinha, cruzando uma perna sobre a outra.
— Sabe... — sua voz cortou o silêncio, rouca, lenta. — Se vai me observar... pelo menos tenha a decência de não arranhar o chão com essa lâmina.
Selena arregalou os olhos. O corpo inteiro gelou.
Ela sabia... Ela sabia que eu estava aqui...
Elisa virou-se lentamente, levando a taça aos lábios. Deu um gole, lambendo um pouco do vinho que escorreu no canto da boca.
— Ou... — continuou, olhando direto para onde Selena estava. — Você pretende sair daí e... fazer o que veio fazer?
Selena respirou fundo. O instinto dizia para correr.
Mas ela não era de correr. Jamais.
Saiu de trás da divisória, caminhando lenta, precisa, com a lâmina agora visível na mão.
— Você... — a voz saiu mais baixa do que planejava. — Você deveria estar gritando. Correndo. Implorando.
Elisa riu, inclinando levemente a cabeça.
— E por quê? Vai me matar... aqui... agora?
Selena apertou os dentes.
Maldita... Maldita... Maldita...
Se aproximou até ficar a poucos centímetros dela. O cheiro de Elisa a deixou tonta. Doce, amadeirado, úmido... provocante.
A ponta da lâmina roçou de leve na coxa exposta de Elisa. Um arranhão. Nada mais.
Ela sequer se moveu.
Pelo contrário. Arqueou uma sobrancelha e deslizou lentamente a mão, segurando o pulso de Selena — aquele que segurava a faca.
— Vai fazer? — perguntou, a voz agora mais baixa, mais rouca. — Vai me cortar... ou só gosta de ameaçar?
A pressão no peito de Selena era insuportável. O corpo inteiro vibrava, dividido entre dois impulsos:
Abrir aquela pele. Ver o sangue escorrer. Ou...
...beijá-la. Morder aquela boca. Rasgar aquela toalha e dominá-la de outra forma.
Selena empurrou-a contra a bancada, segurando-a pelo pescoço, não com força suficiente para sufocar, mas o bastante para fazer Elisa arfar.
— Você não sabe com quem está brincando... — sussurrou entre dentes.
Elisa sorriu. E aquele sorriso foi sua sentença.
— Eu sei... e é exatamente isso que me excita.
O choque explodiu. As bocas se encontraram com violência, um beijo que não era só desejo — era guerra. Selena a segurava como se quisesse quebrá-la. Elisa puxava seus cabelos, arranhava suas costas, arfando, mordendo.
A lâmina caiu no chão. Pela primeira vez... Selena não sabia se queria pegá-la de volta.
Ou se, finalmente... havia encontrado algo mais perigoso do que a morte.
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🩸 Continua...
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Atualizado até capítulo 31
Comments
Nilva Santos
nossa muito boa sua história cheia de surpresas
2025-06-06
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