5: A confusão interna

Estava no meu quarto, andando de um lado para o outro como um animal enjaulado.

Não conseguia parar, não conseguia respirar direito.

"Você beijou a Alice, seu idiota."

Fechei os olhos, esfreguei o rosto e tentei apagar a memória da boca dela na minha, do toque dela, do jeito como o corpo dela se encaixou no meu...

Mas era inútil estava tudo ali, vivo demais forte demais.

O celular vibrou.

Olhei a tela.

"Princesa."

Era assim que salvei o contato dela, sem nem perceber o quanto aquilo já dizia demais.

Meu dedo pairou sobre a tela.

Atender seria burrice, perigoso.

Mas quando levantei o olhar... lá estava ela.

Na janela.

A pele ainda úmida do banho, os cabelos soltos, o pijama leve, curto demais, que me tirou o ar.

Ela me olhava.

E naquele instante... eu era dela.

Atendi.

— Alô? — disse baixo, sem conseguir disfarçar o nervosismo.

— O que foi aquilo, Breno?

A voz dela soou firme, mas eu sentia o toque de incerteza escondido ali.

Me cortou por dentro.

Engoli seco sabia o que precisava dizer, mas cada palavra doía como uma facada.

— Foi errado, Alice, a gente não devia ter feito isso...

— Só quero entender. — ela insistiu.

— Não tem o que entender, só... esquece por favor, não conte pra ninguém se seus irmãos souberem... eu tô ferrado e você também eles te colocam num convento e me matam literalmente.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos e aí, veio a facada.

— Tudo bem se foi um erro pra você, então vamos esquecer.

— Alice... — tentei impedir, mas já era tarde.

Ela desligou.

Saiu da janela correndo, e tudo o que eu consegui fazer foi encarar a luz do quarto dela se apagando.

Eu a machuquei.

E o pior?

Foi por covardia.

Eu sabia o que sentia, sabia o quanto a queria o quanto ela mexia comigo, mas também sabia que ela era proibida, era a irmã dos meus melhores amigos, amigos de infância.

A menina que eu vi crescer.

A garota que agora tinha se tornado uma mulher capaz de me virar do avesso.

Sentei na cama, joguei o celular longe e apoiei os cotovelos nos joelhos.

Eu não podia tocá-la de novo.

Mas o gosto daquele beijo... o jeito como ela me olhou...

Eu já era dela mesmo que nunca pudesse ser.

A madrugada parecia não passar, joguei o corpo para o lado pela milésima vez, mas o sono não vinha, a cada vez que fechava os olhos, era o rosto da Alice que surgia, o cheiro dela, o gosto dela, o toque suave da pele, a forma como ela correu da janela, magoada.

Suspirei, eu era um idiota.

Mas um idiota apaixonado.

Estava prestes a levantar da cama e tomar um banho gelado quando um grito cortou a madrugada.

Me sentei de imediato, estava alerta.

Olhei pela janela instintivamente e o pânico tomou meu corpo.

Alice.

A luz do quarto dela estava acesa e havia alguém lá dentro, ela gritava, assustada, chorando.

— Não... por favor! Me solta! SOCORRO!

Não pensei nem por um segundo.

Calcei os tênis sem nem amarrar, pulei as escadas, saí pela porta da frente correndo feito louco.

A entrada dos fundos estava destrancada e entrei com tudo, subindo direto as escadas, já conhecia aquela casa como se fosse a minha o quarto dela estava com a porta entreaberta entrei... e o inferno estava montado esperando só mais fogo.

Alice estava encolhida na cama, chorando, com um homem estranho em pé, uma faca na mão, a poucos passos dela.

Meu sangue ferveu.

— FILHO DA PUTA! SE VOCÊ ENCOSTOU NELA EU MATO VOCÊ!!

Me lancei sobre ele com toda força nem lembrei de faca, a faca caiu da mão do desgraçado quando o acertei com o ombro no peito.

Ele tentou reagir, mas a adrenalina era maior, dei socos, muitos, um atrás do outro perdi a conta, tudo o que via era a Alice chorando, encolhida, assustada.

— BRENO, PARA! Ele vai morrer! Por favor! PARA!

A voz dela me quebrou.

Parei com a respiração descompassada, com as mãos manchadas de sangue e o rosto do cara quase irreconhecível.

Liguei pra polícia, ainda tremendo de puro ódio.

— Invadiram a casa da minha vizinha, tentaram machucá-la, já imobilizei o homem, mas precisamos de uma ambulância, Urgente!

Ela continuava encolhida na cama, sozinha, tremendo e chorando.

Quando a polícia chegou, expliquei tudo, mostrei o cara desacordado, eles o levaram algemado, Alice se recusou a ir ao hospital, estava em choque.

— Não avise os meus irmãos. — pediu baixinho, segurando o braço. — Amanhã eu mesma conto por favor.

Assenti, mesmo contra minha vontade, pois eles já deveriam está em casa para proteger a irmã.

— Você tá bem? — perguntei, ajoelhado à frente dela.

Ela balançou a cabeça afirmando, mas os olhos estavam vermelhos, perdidos, ela não estava bem, estava quebrada, assustada.

— Vem... — disse baixo, estendendo a mão.

Ela hesitou, mas aceitou.

A levei de volta para o quarto, ajudei a se deitar, a cobri com cuidado, depois limpei o quarto que tinha vestígios de sangue e quando me virei para sair...

— Fica, — ela pediu. — Por favor.

Não pensei duas vezes.

Deitei ao lado dela, puxei seu corpo para o meu, e a abracei com força, como se aquilo fosse o suficiente para protegê-la do mundo.

Ela tremia, chorava baixo e eu acariciava seus cabelos, em silêncio.

— Eu tô aqui, Alice, ninguém vai encostar mais um dedo em você, nunca mais.

Ela enterrou o rosto no meu peito e, aos poucos, o corpo relaxou.

Adormeceu ali, em meus braços.

E eu fiquei... com medo, com raiva, com culpa.

Mas acima de tudo... com a certeza de que não conseguiria mais viver fingindo que não sentia nada por ela.

Naquela noite... eu soube que a Alice era minha, e eu seria capaz de tudo para protegê-la, mesmo que isso significasse enfrentar o mundo inteiro... até os irmãos dela.

O primeiro raio de sol invadiu o quarto pelas frestas da cortina, acordei com o corpo dolorido pela tensão da noite anterior.

Alice ainda dormia.

Mesmo com o rosto marcado pelas lágrimas, havia uma certa paz ali…

Ela parecia segura, e eu queria mantê-la assim, com cuidado, afastei o braço de sua cintura e me levantei sem fazer barulho.

A última coisa que queria era acordá-la antes da hora, desci as escadas lentamente, respirando fundo a cabeça ainda latejava.

E então… dei de cara com o inferno: Lucas e Bruno entrando pela porta da frente.

Ambos estavam de cara fechada, olhos semicerrados e olhares afiados, Lucas deu um passo à frente, a voz carregada de suspeita:

— Tem algo que você quer contar, Breno? Tipo o que faz saindo da nossa casa a essa hora e escondido?

Bruno cruzou os braços, encarando a direção de onde eu vinha, as escadas.

Eu suspirei sabia que não poderia enrolar.

— Vamos pra cozinha. — disse apenas.

Os dois seguiram atrás dele em silêncio, pesados como uma sentença.

Já na cozinha, apoie as mãos na bancada, tentando achar as palavras certas.

— Teve uma invasão essa noite.

— Como é que é? — Bruno largou a garrafa de água que acabara de pegar.

— Um cara invadiu a casa, entrou no quarto da Alice com uma faca, ela gritou, eu ouvi e fui até lá… consegui imobilizar ele, chamei a polícia, levaram o desgraçado.

— E a Alice? — Lucas perguntou, mais pálido do que o normal. — Ela tá bem?

— Tá abalada… chorou muito mas tá bem, só fiquei porque ela não queria ficar sozinha, se eu não tivesse escutado a tempo…

O silêncio que seguiu foi pesado, os dois irmãos estavam paralisados, digerindo a informação.

— E a gente em uma maldita festa… — murmurou Bruno, se culpando.

Lucas deu um soco leve na mesa.

— A gente nunca devia ter saído e deixado a Alice sozinha, obrigada Breno você foi mais que um amigo.

Antes que Breno pudesse dizer algo, passos leves ecoaram pela escada.

Eles se viraram ao mesmo tempo e viram Alice descendo, ainda com a expressão abatida, vestida com a camiseta larga que ele havia deixado para ela dormir.

A tensão na cozinha se tornou quase visível, Bruno deu um passo à frente, confuso:

— O que…?

Breno respirou fundo.

— Eu contei. — disse antes que ela dissesse qualquer coisa. — Eles me viram saindo do seu quarto e contei antes que eles me matassem.

Alice abaixou os olhos, envergonhada, mas assentiu com a cabeça.

Lucas se aproximou devagar e a puxou para um abraço apertado, como se precisasse sentir que ela estava mesmo ali.

— Desculpa, maninha… desculpa mesmo.

Bruno a abraçou em seguida, passando a mão nos cabelos dela.

— Eu juro que esse cara vai pagar.

Breno, de longe, observava.

Sabia que havia cruzado uma linha invisível ao passar a noite no quarto dela.

Mas também sabia que, se fosse preciso, cruzaria de novo.

Porque naquele quarto, naquela noite… ele não salvou apenas Alice salvou a si mesmo.

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Comments

Simone Rodrigues

Simone Rodrigues

tomara que eles é tendam que a Alice cresceu

2025-06-02

1

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