Estava no meu quarto, andando de um lado para o outro como um animal enjaulado.
Não conseguia parar, não conseguia respirar direito.
"Você beijou a Alice, seu idiota."
Fechei os olhos, esfreguei o rosto e tentei apagar a memória da boca dela na minha, do toque dela, do jeito como o corpo dela se encaixou no meu...
Mas era inútil estava tudo ali, vivo demais forte demais.
O celular vibrou.
Olhei a tela.
"Princesa."
Era assim que salvei o contato dela, sem nem perceber o quanto aquilo já dizia demais.
Meu dedo pairou sobre a tela.
Atender seria burrice, perigoso.
Mas quando levantei o olhar... lá estava ela.
Na janela.
A pele ainda úmida do banho, os cabelos soltos, o pijama leve, curto demais, que me tirou o ar.
Ela me olhava.
E naquele instante... eu era dela.
Atendi.
— Alô? — disse baixo, sem conseguir disfarçar o nervosismo.
— O que foi aquilo, Breno?
A voz dela soou firme, mas eu sentia o toque de incerteza escondido ali.
Me cortou por dentro.
Engoli seco sabia o que precisava dizer, mas cada palavra doía como uma facada.
— Foi errado, Alice, a gente não devia ter feito isso...
— Só quero entender. — ela insistiu.
— Não tem o que entender, só... esquece por favor, não conte pra ninguém se seus irmãos souberem... eu tô ferrado e você também eles te colocam num convento e me matam literalmente.
Ela ficou em silêncio por alguns segundos e aí, veio a facada.
— Tudo bem se foi um erro pra você, então vamos esquecer.
— Alice... — tentei impedir, mas já era tarde.
Ela desligou.
Saiu da janela correndo, e tudo o que eu consegui fazer foi encarar a luz do quarto dela se apagando.
Eu a machuquei.
E o pior?
Foi por covardia.
Eu sabia o que sentia, sabia o quanto a queria o quanto ela mexia comigo, mas também sabia que ela era proibida, era a irmã dos meus melhores amigos, amigos de infância.
A menina que eu vi crescer.
A garota que agora tinha se tornado uma mulher capaz de me virar do avesso.
Sentei na cama, joguei o celular longe e apoiei os cotovelos nos joelhos.
Eu não podia tocá-la de novo.
Mas o gosto daquele beijo... o jeito como ela me olhou...
Eu já era dela mesmo que nunca pudesse ser.
A madrugada parecia não passar, joguei o corpo para o lado pela milésima vez, mas o sono não vinha, a cada vez que fechava os olhos, era o rosto da Alice que surgia, o cheiro dela, o gosto dela, o toque suave da pele, a forma como ela correu da janela, magoada.
Suspirei, eu era um idiota.
Mas um idiota apaixonado.
Estava prestes a levantar da cama e tomar um banho gelado quando um grito cortou a madrugada.
Me sentei de imediato, estava alerta.
Olhei pela janela instintivamente e o pânico tomou meu corpo.
Alice.
A luz do quarto dela estava acesa e havia alguém lá dentro, ela gritava, assustada, chorando.
— Não... por favor! Me solta! SOCORRO!
Não pensei nem por um segundo.
Calcei os tênis sem nem amarrar, pulei as escadas, saí pela porta da frente correndo feito louco.
A entrada dos fundos estava destrancada e entrei com tudo, subindo direto as escadas, já conhecia aquela casa como se fosse a minha o quarto dela estava com a porta entreaberta entrei... e o inferno estava montado esperando só mais fogo.
Alice estava encolhida na cama, chorando, com um homem estranho em pé, uma faca na mão, a poucos passos dela.
Meu sangue ferveu.
— FILHO DA PUTA! SE VOCÊ ENCOSTOU NELA EU MATO VOCÊ!!
Me lancei sobre ele com toda força nem lembrei de faca, a faca caiu da mão do desgraçado quando o acertei com o ombro no peito.
Ele tentou reagir, mas a adrenalina era maior, dei socos, muitos, um atrás do outro perdi a conta, tudo o que via era a Alice chorando, encolhida, assustada.
— BRENO, PARA! Ele vai morrer! Por favor! PARA!
A voz dela me quebrou.
Parei com a respiração descompassada, com as mãos manchadas de sangue e o rosto do cara quase irreconhecível.
Liguei pra polícia, ainda tremendo de puro ódio.
— Invadiram a casa da minha vizinha, tentaram machucá-la, já imobilizei o homem, mas precisamos de uma ambulância, Urgente!
Ela continuava encolhida na cama, sozinha, tremendo e chorando.
Quando a polícia chegou, expliquei tudo, mostrei o cara desacordado, eles o levaram algemado, Alice se recusou a ir ao hospital, estava em choque.
— Não avise os meus irmãos. — pediu baixinho, segurando o braço. — Amanhã eu mesma conto por favor.
Assenti, mesmo contra minha vontade, pois eles já deveriam está em casa para proteger a irmã.
— Você tá bem? — perguntei, ajoelhado à frente dela.
Ela balançou a cabeça afirmando, mas os olhos estavam vermelhos, perdidos, ela não estava bem, estava quebrada, assustada.
— Vem... — disse baixo, estendendo a mão.
Ela hesitou, mas aceitou.
A levei de volta para o quarto, ajudei a se deitar, a cobri com cuidado, depois limpei o quarto que tinha vestígios de sangue e quando me virei para sair...
— Fica, — ela pediu. — Por favor.
Não pensei duas vezes.
Deitei ao lado dela, puxei seu corpo para o meu, e a abracei com força, como se aquilo fosse o suficiente para protegê-la do mundo.
Ela tremia, chorava baixo e eu acariciava seus cabelos, em silêncio.
— Eu tô aqui, Alice, ninguém vai encostar mais um dedo em você, nunca mais.
Ela enterrou o rosto no meu peito e, aos poucos, o corpo relaxou.
Adormeceu ali, em meus braços.
E eu fiquei... com medo, com raiva, com culpa.
Mas acima de tudo... com a certeza de que não conseguiria mais viver fingindo que não sentia nada por ela.
Naquela noite... eu soube que a Alice era minha, e eu seria capaz de tudo para protegê-la, mesmo que isso significasse enfrentar o mundo inteiro... até os irmãos dela.
O primeiro raio de sol invadiu o quarto pelas frestas da cortina, acordei com o corpo dolorido pela tensão da noite anterior.
Alice ainda dormia.
Mesmo com o rosto marcado pelas lágrimas, havia uma certa paz ali…
Ela parecia segura, e eu queria mantê-la assim, com cuidado, afastei o braço de sua cintura e me levantei sem fazer barulho.
A última coisa que queria era acordá-la antes da hora, desci as escadas lentamente, respirando fundo a cabeça ainda latejava.
E então… dei de cara com o inferno: Lucas e Bruno entrando pela porta da frente.
Ambos estavam de cara fechada, olhos semicerrados e olhares afiados, Lucas deu um passo à frente, a voz carregada de suspeita:
— Tem algo que você quer contar, Breno? Tipo o que faz saindo da nossa casa a essa hora e escondido?
Bruno cruzou os braços, encarando a direção de onde eu vinha, as escadas.
Eu suspirei sabia que não poderia enrolar.
— Vamos pra cozinha. — disse apenas.
Os dois seguiram atrás dele em silêncio, pesados como uma sentença.
Já na cozinha, apoie as mãos na bancada, tentando achar as palavras certas.
— Teve uma invasão essa noite.
— Como é que é? — Bruno largou a garrafa de água que acabara de pegar.
— Um cara invadiu a casa, entrou no quarto da Alice com uma faca, ela gritou, eu ouvi e fui até lá… consegui imobilizar ele, chamei a polícia, levaram o desgraçado.
— E a Alice? — Lucas perguntou, mais pálido do que o normal. — Ela tá bem?
— Tá abalada… chorou muito mas tá bem, só fiquei porque ela não queria ficar sozinha, se eu não tivesse escutado a tempo…
O silêncio que seguiu foi pesado, os dois irmãos estavam paralisados, digerindo a informação.
— E a gente em uma maldita festa… — murmurou Bruno, se culpando.
Lucas deu um soco leve na mesa.
— A gente nunca devia ter saído e deixado a Alice sozinha, obrigada Breno você foi mais que um amigo.
Antes que Breno pudesse dizer algo, passos leves ecoaram pela escada.
Eles se viraram ao mesmo tempo e viram Alice descendo, ainda com a expressão abatida, vestida com a camiseta larga que ele havia deixado para ela dormir.
A tensão na cozinha se tornou quase visível, Bruno deu um passo à frente, confuso:
— O que…?
Breno respirou fundo.
— Eu contei. — disse antes que ela dissesse qualquer coisa. — Eles me viram saindo do seu quarto e contei antes que eles me matassem.
Alice abaixou os olhos, envergonhada, mas assentiu com a cabeça.
Lucas se aproximou devagar e a puxou para um abraço apertado, como se precisasse sentir que ela estava mesmo ali.
— Desculpa, maninha… desculpa mesmo.
Bruno a abraçou em seguida, passando a mão nos cabelos dela.
— Eu juro que esse cara vai pagar.
Breno, de longe, observava.
Sabia que havia cruzado uma linha invisível ao passar a noite no quarto dela.
Mas também sabia que, se fosse preciso, cruzaria de novo.
Porque naquele quarto, naquela noite… ele não salvou apenas Alice salvou a si mesmo.
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Atualizado até capítulo 34
Comments
Simone Rodrigues
tomara que eles é tendam que a Alice cresceu
2025-06-02
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