4: Breno

O som do despertador me tirou de um sonho que eu nem lembrava direito, era o primeiro dia de aula, meu último ano no ensino médio eu devia estar animado mas não estava.

Suspirei, me jogando de volta no colchão.

Último ano.

Mais um monte de regras, professores chatos, e garotas tentando se jogar pra cima de mim, o que não é ruim, mas as vezes elas são chatas e muito fáceis.

Desci, vesti uma camiseta qualquer, calça jeans e joguei a jaqueta por cima, peguei as chaves e fui esperar Lucas e Bruno no carro era o nosso ritual: eu dirigia, eles implicavam um com o outro, e Alice bufava no banco de trás por aguentar três idiotas logo cedo.

Alice.

Quando ela saiu de casa naquela manhã...

Puta merda.

Meu coração deu um pulo dentro do peito, quando foi que ela deixou de ser uma menina para ser aquele mulherão.

O cabelo dela estava solto meio bagunçado, o que só deixava o rosto mais evidente, o short da escola parecia ter se encurtado desde o ano passado e a blusa, mesmo larga, não escondia que ela tinha mudado.

Crescido.

Virado... mulher.

Desviei o olhar rápido, engolindo seco.

"Para com isso, Breno", pensei.

"É a irmã dos seus melhores amigos, seu idiota."

Tentei sorrir quando ela entrou no carro, fingir que estava tudo bem mas o cheiro do shampoo dela me pegou de surpresa.

Doce, quente.

Quase perdi a direção.

Lucas e Bruno começaram a discutir com ela no banco de trás algo sobre garotos pervertidos, como sempre e então veio a bomba:

— Um dia eu vou namorar e transar com alguém. — disse Alice, com a maior naturalidade do mundo.

Lucas quase bate o carro.

— O quê?! — Lucas gritou. — Transar?

Eu não consegui segurar a risada, o jeito que ela falou, a naturalidade...

Mas por dentro, meu estômago revirou.

A ideia dela transando com qualquer um...

Incomodou, muito.

"Ela tem 17 ainda é... uma menina ou era?", pensei, mais confuso do que nunca.

Na escola, os gêmeos se distraíram com uma loira qualquer como sempre e eu fiquei com Alice caminhamos até a sala dela, e sem nem pensar direito, coloquei o braço sobre os ombros dela, como sempre fiz.

Mas dessa vez foi diferente.

Tinha algo ali algo meu quase como... marcar território.

Ela olhou pra mim, curiosa, e eu... falei merda.

— Você tá diferente — saiu da minha boca sem filtro.

Ela franziu a testa.

— O quê mudou?

Engoli seco.

Tudo.

O jeito de andar, de falar, o jeito que ela me olhava sem perceber, as pernas e o cheiro.

O sorriso.

Mas não podia dizer isso.

Não podia pensar nisso.

— Nada, esquece — cortei, forçando um sorriso torto. — Já tá entregue na sala.

Fugi.

Literalmente.

Saí quase correndo, como um covarde.

Mas o problema é que, mesmo enquanto eu andava até a minha sala, o coração continuava acelerado.

E pela primeira vez, eu percebi.

Alice não era mais só a irmã dos meus melhores amigos.

Ela era... perigo.

E eu, estúpido o suficiente pra querer me queimar.

Aquela manhã estava uma bagunça dentro de mim e mesmo tentando, eu não conseguia parar de pensar nela.

Alice.

Alice com aquele sorriso debochado, Alice com aquele short colado, Alice com aquele cheiro doce que grudou na minha memória.

Alice com outra pessoa.

Mas uma parte minha se aliviou ao vê-la se entrosando com a nova garota Gabriela, ou Gabi, como ela mesma pediu pra ser chamada.

Elas riam juntas, cochichavam.

Alice parecia... feliz.

E, de algum jeito, aquilo me deu um alívio no peito.

Talvez, com uma amiga por perto, ela se afastasse de garotos.

Talvez com uma amiga por perto, eu parasse de pensar nela.

Mas era inútil, eu não conseguia.

Era o jeito que ela mordia o lábio quando estava entediada o jeito que jogava o cabelo pro lado, a forma como falava olhando direto nos olhos.

Era a boca dela, o corpo dela.

E mesmo contra a vontade dela que eu notei no olhar revirado e na cara fechada eu as acompanhei até a sala.

Ela achava que era por causa de alguma garota da turma...

Mal sabia ela que o único motivo de eu estar ali era ela.

Eu queria garantir que nenhum garoto encostasse nela.

Na saída, a garota que passou o dia todo me seguindo finalmente conseguiu o que queria me chamou, sorriu, mordeu o lábio.

E eu aceitei.

Beijei.

Mas foi... errado.

O beijo não tinha gosto, não tinha calor.

Fechei os olhos e tudo o que vi foi Alice.

Soltei a garota com uma desculpa qualquer, deixei ela lá parada e fui direto pra casa, Bruno e Lucas ainda tentaram me convencer a ir numa festa com eles em uma plena segunda-feira, Bebida, garotas, tudo o que antes parecia uma boa ideia.

Mas agora?

— Tô com dor de cabeça — menti.

Mentira.

Tô com Alice na cabeça.

Joguei meu corpo na cama, tentando dormir, tentando esquecer.

Mas era impossível.

Horas depois, o celular vibrou.

Era o Lucas.

— Mano, vê se a Alice tá bem? Ela ficou em casa sozinha, não sei se comeu direito no jantar e como você está em casa, a gente tá ocupado aqui, chegamos mais tarde.

— Pode deixar — respondi, levantando e pegando a chave de casa.

Quando entrei, ela estava na cozinha, jantando sozinha, de cara feia.

E como sempre, soltou os cachorros pra cima de mim.

— O que você está fazendo aqui? Meus irmãos ainda não chegaram?

Expliquei, mas ela já estava armada disse que não era mais criança, e que todo mundo precisava parar de tratá-la como uma.

Levantei as mãos, me rendendo.

— Ok... ok você tem razão.

Mas aí, olhei pra ela de verdade.

Cabelo preso de qualquer jeito, camiseta larga demais pra parecer planejada, mas mesmo assim...

Linda.

E, sem pensar, falei:

— Realmente, você não é mais uma criança, você é... uma mulher linda, Alice.

Ela me olhou com surpresa um silêncio pesado caiu na cozinha.

E eu... me aproximei.

Sem planejamento, sem coragem, só impulso.

Beijei.

Começou devagar, ela estava nervosa, claro, era o primeiro dela.

Mas aos poucos, ela se entregou.

Se encaixou, me segurou, me quis.

Meus dedos se enroscaram nos cabelos dela, meus braços a puxaram pra mais perto, com necessidade.

A boca dela era... perfeita, doce, quente.

E era só minha.

Mas a realidade me bateu como um soco.

"O que você está fazendo, Breno?"

Me afastei.

Olhei pra ela, perdida, corada, sem saber o que dizer.

— Desculpa — murmurei, e saí da cozinha correndo como um covarde.

Voltei pra casa e encarei o teto do meu quarto por horas.

Eu beijei Alice, a irmã dos meus melhores amigos.

E pior... eu gostei.

Não.

Eu amei.

E o pior de tudo?

Eu fui o primeiro.

Ela nunca tinha beijado ninguém e agora... eu era parte disso.

Uma parte que não dava mais pra apagar.

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Comments

Simone Rodrigues

Simone Rodrigues

tômara que ele.não seja idiota com ela

2025-06-02

1

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