Gabriela, ou melhor Gabi, ela me corrigiu rapidinho, era exatamente o que eu não sabia que precisava: simples, divertida e totalmente indiferente ao fato de eu ser “a garota que anda com o trio sensação” a gente se deu bem logo de cara.
Durante as aulas da manhã, trocamos bilhetes, comentários sussurrados e algumas risadas abafadas, ela não tentava forçar intimidade, nem parecia estar esperando um convite pra conhecer meus irmãos e Breno, só… conversava comigo e isso era raro.
Na hora do intervalo, Gabi sugeriu irmos ao refeitório.
— Você vai se esconder deles? — perguntou, se referindo a Lucas, Bruno e Breno.
— Exatamente — respondi, com um leve sorriso. — Se der sorte, eles vão estar ocupados sendo adorados ou beijando qualquer uma.
Pegamos nossos lanches e escolhemos uma mesa mais afastada, próxima à janela, estávamos rindo de uma história da antiga escola dela, algo envolvendo um professor que caiu do palco numa apresentação de teatro quando, inevitavelmente, a sombra dos três apareceu embustes apareceu.
— Olha só quem a gente encontrou — disse Bruno, jogando-se ao meu lado com o típico ar de galã preguiçoso.— está se escondendo da gente maninha?
— Droga, tava indo tão bem — murmurei, mordendo meu sanduíche.— me admira você ainda ter essa dúvida.
Lucas veio logo atrás, e Breno sentou do outro lado, ao lado de Gabi, com um sorriso educado e um olhar que parecia estudar cada traço dela.
— A gente vai precisar que você vá pra casa sozinha hoje — avisou Bruno, já mastigando uma batata. — Temos um compromisso depois da aula.
— Deixa eu adivinhar... a loira já marcou o horário pra dar a vocês dois? Me falem que pelo menos ela vai levar uma amiga né porque você com a mesma piranha não dá.— disparei, de olhos fixos no suco.
Lucas tossiu, engasgando levemente com o refrigerante, e me lançou um olhar indignado.
— Alice! Que tipo de palavra é essa? Não estamos te dando essa educação.
— Ah, qual é, Lucas, como se vocês fossem inocentes, vocês praticamente se jogaram nela no estacionamento só perderam para ela, que foi mais fácil que pegar uma moeda no chão.— falei, dando de ombros.
Breno riu baixinho, e Gabi me olhou surpresa, mas divertida.
— Enfim... Seus mal educados — suspirei, largando o copo e apontando pra ela — essa é a Gabi, minha nova amiga, Gabi, esses são os meus irmãos insuportáveis e o amigo deles que ri de tudo.
— Oi — disse Gabi, sorrindo com educação.
— Oi — murmuraram Lucas e Bruno quase ao mesmo tempo, mas sem muito interesse em seguida, levantaram-se rapidamente, murmurando um “até mais” e desaparecendo entre as mesas.
Sobrou eu, Gabi e Breno, ele estava com o cotovelo apoiado na mesa, girando uma tampa de garrafa com os dedos distraidamente.
— Gostei da sua amiga — ele comentou, com um tom leve.
— Eu também ela é verdadeira — respondi, olhando para Gabi, que sorriu tímida.
— Diferente da maioria aqui — completou Gabi, se encaixando com naturalidade na nossa conversa.
Fiquei um instante olhando os dois conversando, era estranho… ver Breno falando com outra garota que não fosse uma das “seguimores” dele e por um segundo só um segundo não soube explicar a sensação que me apertou o estômago.
Mas, como sempre, fiz o que sei fazer de melhor: ignorei.
O sinal tocou, interrompendo nosso papo animado no refeitório, Gabi e eu nos levantamos juntas, e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ouvi a voz de Breno atrás de nós.
— Vou com vocês até a sala — disse ele, já nos alcançando com passos tranquilos.
Ergui uma sobrancelha, desconfiada.
— Desde quando você acompanha alunas do segundo ano até a sala, hein? Quem é a garota que você está de olho?
Ele riu, balançando a cabeça.
— Nenhuma só queria ir, mas se você não quer minha companhia, posso ir embora…
Ele já tinha começado a dar um passo para trás quando falei, num impulso:
— Tá, tá... vem logo, drama king.
Ele voltou com um sorriso satisfeito e, sem pensar muito, passou o braço pelos meus ombros num meio-abraço desajeitado, fiquei parada por um segundo, surpresa era um gesto normal, eu sabia, Breno era desses, sempre brincalhão, sempre físico mas... por algum motivo, aquele abraço me causou um leve nó no estômago.
Algo tinha mudado, mas eu não fazia ideia do quê.
Gabi nos olhou com curiosidade, mas não disse nada e assim seguimos os três até a sala quando chegamos, Breno soltou meu ombro com um leve toque na minha cabeça, tipo um carinho bagunçado de irmão mais velho o que ele não era e saiu para a turma dele.
As aulas da tarde passaram num ritmo lento, mas leve Gabi e eu rimos, dividimos balas e cochichamos sobre os professores mais esquisitos, era bom ter alguém e o melhor: alguém que não esperava nada, nem dor meus irmãos e nem de Breno.
Quando o último sinal tocou, Gabi e eu saímos juntas pela porta da sala o sol começava a descer no céu, dourando o pátio nos despedimos na saída, e eu ajeitei a mochila nas costas, pronta para caminhar até em casa.
Mas aí... eu vi.
Na lateral do prédio da escola, Breno estava encostado na parede, uma garota qualquer praticamente colada nele, os dois se beijando com pressa, como se o mundo fosse acabar dali a cinco minutos por reflexo, meus passos diminuíram só por um segundo.
Não sei por que aquilo me causou aquele incômodo, era Breno, ele fazia isso sempre fez, não fazia sentido aquilo me incomodar.
Balancei a cabeça, como se pudesse jogar fora o pensamento idiota, e continuei meu caminho.
O trajeto até em casa foi tranquilo, silencioso, às vezes era até bom caminhar sozinha a cabeça parecia respirar melhor.
Assim que entrei, o silêncio típico da casa me recebeu nossos pais estavam, como sempre, longe algum evento, alguma conferência, alguma cidade diferente, Lucas e Bruno provavelmente ainda estavam com seus “compromissos”.
Subi pro quarto, larguei a mochila no canto e tentei me concentrar nas tarefas, li duas vezes o mesmo parágrafo de biologia sem absorver absolutamente nada desisti, fechei o caderno e desci para a cozinha.
Abri a geladeira o de sempre: sucos, iogurte, uma vasilha com arroz do dia anterior e frango grelhado que provavelmente a faxineira tinha deixado preparado antes de sair.
Suspirei e comecei a improvisar uma janta básica enquanto o cheiro da comida esquentando preenchia o ar, eu tentava entender por que, entre todas as coisas do dia, o abraço estranho de Breno e a garota da parede eram as únicas imagens que insistiam em voltar à minha cabeça.
E eu não tinha resposta.
Ainda.
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Atualizado até capítulo 34
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