3: O Primeiro Beijo

Enquanto o micro-ondas apitava, eu me sentei à mesa com o prato na frente, a casa seguia silenciosa até mesmo sem uma ligação dos meus pais para saberem se estavam bem, como quase sempre, e tudo que se ouvia era o som dos talheres e do meu cérebro tentando me convencer de que aquele beijo entre Breno e a garota não me importava pois eu não tinha motivos para me importar.

Foi quando meu celular vibrou ao lado do prato, era uma mensagem.

Gabi:

“E aí, chegou bem? Eu amei nosso papo hoje 🥹 já te considero pakas hahaha”

Sorri sozinha, Gabi tinha esse jeito leve, como se já me conhecesse há séculos.

Respondi:

Eu:

“Cheguei sim! Também adorei finalmente uma amiga de verdade, né?”

Ficamos trocando mensagens por uns bons minutos, conversarmos sobre professores, pessoas estranhas da escola e até sobre crushes (os dela, claro), estava respondendo uma das mensagens quando ouvi o barulho da porta sendo aberta e passos entrando pela casa.

Escrevi rápido:

Eu:

“Preciso ir, acho que alguém chegou amanhã a gente se vê 💖”

Antes que pudesse guardar o celular, a porta da cozinha se abriu.

— Ué... o que você tá fazendo aqui? — perguntei, surpresa ao ver Breno entrando, as mãos nos bolsos e o cabelo meio bagunçado, meu coração deu um mini salto, contra a minha vontade.

Ele deu um sorriso torto.

— O Lucas pediu pra eu passar aqui e ver se você tava bem, disseram que você ia vir a pé porque não me avisou tinha te trazido em casa.

Minha resposta saiu mais ríspida do que eu queria:

— Eu não sou mais uma criança, tá? Sei cuidar de mim.

Ele levantou as mãos, como se se rendesse.

— Calma, só tô cumprindo ordens, não atira, soldado estou desarmado.

Só então percebi meu tom e a forma como o olhei, suspirei, abaixando um pouco o olhar.

— Desculpa... não foi por mal é só que... sei lá a culpa não é sua minha vida que é complicada demais.

Ele se aproximou um pouco e me olhou de um jeito diferente, os olhos dele desceram lentamente até meu rosto, como se me visse pela primeira vez a voz saiu mais baixa, quase grave:

— Você tem razão, você não é mais uma criança, longe disso...É uma mulher, uma mulher linda.

Senti meu rosto esquentar de imediato o quê?

Fiquei paralisada antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele deu mais dois passos e ficou bem na minha frente, eu via cada detalhe dos olhos dele, o jeito como ele olhava minha boca.

— Breno...? — chamei, quase num sussurro, mas foi inútil.

Ele se inclinou devagar, como se me desse tempo pra fugir mas eu não fugi e então ele me beijou.

No começo, o beijo foi leve, quase tímido, o primeiro beijo da minha vida, meu corpo reagiu devagar, tentando entender o que fazer mas logo as mãos dele foram parar nos meus cabelos, ele me puxou pela cintura com mais força e o beijo se aprofundou, quente, cheio de uma urgência que eu não entendi... mas senti.

Eu correspondi.

Era estranho, inesperado... e tão bom.

Até que ele parou do nada.

Se afastou, ofegante, com os olhos arregalados, como se tivesse cometido o maior erro do mundo.

— Desculpa, Alice, eu... não devia...

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele saiu quase correndo, sumindo pela porta como um fantasma fiquei ali, parada no meio da cozinha, o coração batendo rápido, a boca formigando e o prato de comida esquecido.

Acabei de beijar o melhor amigo dos meus irmãos.

E, pra piorar, o cara mais galinha da escola.

Meu primeiro beijo foi com Breno.

E agora... eu não fazia a menor ideia do que aquilo significava.

Subi pro quarto com o coração ainda acelerado, como se o beijo tivesse deixado uma descarga elétrica em mim.

Fechei a porta e encostei nela, soltando um suspiro longo.

Aquilo não podia ter acontecido.

Não com ele não com Breno, o melhor amigo dos meus irmãos.

Meus irmãos que, se descobrissem, iam me mandar pra um convento ou pra Marte e provavelmente matariam o Breno com as próprias mãos.

Levei as mãos à cabeça, me sentindo um furacão ambulante era muita coisa pra processar.

Fui direto pro banheiro.

Água fria.

Talvez me ajudasse a esfriar a cabeça... e tudo mais.

O banho gelado serviu como um balde de realidade, não adiantava nada me apegar à sensação daquele beijo se ele tivesse algum significado, Breno não teria saído correndo daquele jeito ele se arrependeu.

Foi um erro pra ele.

Vesti meu pijama, um short leve e uma camiseta solta e saí do banheiro, ainda secando o cabelo com a toalha fui andando até a janela, como sempre fazia à noite, pra sentir o ar e espiar o céu.

Foi quando o vi.

Breno.

Ele estava no quarto dele o que dava direto de frente pro meu andando de um lado para o outro, os cabelos bagunçados, parecendo agitado.

Fiquei ali, observando, o coração de novo apertando sem minha permissão.

Peguei o celular e liguei.

Ele olhou pro aparelho na mesma hora parou.

Hesitou.

Olhou pra janela e me viu.

Eu não desviei.

Depois de alguns segundos, ele atendeu.

— Oi... — a voz saiu baixa, quase rouca.

— O que foi aquilo, Breno? — fui direta, sem rodeios, meu coração batia tão alto que parecia que ele ia ouvir do outro lado.

Ele passou a mão pelos cabelos, sem desviar os olhos da minha janela.

— Foi... foi errado, Alice me desculpa não devia ter acontecido.

— Por quê? — perguntei, engolindo seco. — Porque sou irmã dos seus melhores amigos?

Ele suspirou, e o olhar dele caiu um pouco.

— Por isso... e porque... sei lá eu me perdi, você estava linda, eu... não pensei, foi instinto, eu ti vi crescer jamais deveria ter feito aquilo.

Mas foi errado, Alice.

— E, por favor — continuou antes que eu dissesse algo —, não conta pros seus irmãos juro, eles me matam literalmente.

Senti um nó na garganta.

Ah, então foi só impulso?

Nada mais?

— Não se preocupe — respondi, tentando manter a voz firme. — Não vou contar nada se pra você foi um erro... então é melhor a gente esquecer mesmo fingir que não aconteceu.

Desliguei antes de ouvir qualquer resposta.

Fechei a cortina num puxão e saí correndo da janela.

O travesseiro foi o primeiro a sentir meu drama afundei o rosto nele e fiquei ali, sem saber se estava mais triste, decepcionada ou com raiva por me importar meu primeiro beijo foi um erro.

No quarto ao lado, pela última espiada antes da cortina, vi Breno parando, olhando fixamente pra minha janela agora coberta.

Ele sabia que me magoou.

Mas a pergunta que ficou ecoando em mim era:

Por que isso doeu tanto, se até ontem ele era só o melhor amigo dos meus irmãos?

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Comments

Simone Rodrigues

Simone Rodrigues

tadinha o primeiro beijo e ouvi foi um erro doeu

2025-06-02

1

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