cap 5- ⋆˙၄၃

O dia seguinte amanheceu diferente. O céu parecia meio nublado, como se refletisse exatamente o que Ivan sentia: um misto de medo e esperança, com nuvens cinzentas, mas brechas de sol tentando passar.

Na escola, Max percebeu na hora que Ivan estava mais quieto que o normal — não no jeito de sempre, mas daquele jeito tenso, de quem carrega um peso novo. Mesmo assim, não forçou conversa, só ficou perto, oferecendo aquele silêncio confortável que já era parte deles.

Quando o sinal do fim da aula tocou, os dois se entreolharam. Max ajeitou a mochila nas costas e deu um sorrisinho, meio nervoso, meio empolgado.

— Então... é hoje. — disse, quase como quem precisava confirmar que aquilo tava mesmo acontecendo.

Ivan apertou o chaveirinho, respirou fundo e assentiu.

— É... hoje. — respondeu, e apesar do medo, no fundo dos olhos havia determinação.

O caminho até a casa de Ivan pareceu mais curto do que nunca. Cada passo parecia acelerar o coração, como se ele estivesse prestes a fazer algo absurdamente difícil — e, de certa forma, era.

Quando chegaram na porta do prédio, Ivan parou, respirou fundo e olhou pra Max.

— Você... — começou, ajeitando uma mecha do cabelo com os dedos nervosos. — Se... se eu travar... se eu não conseguir falar... você só... fica. Só fica, tá?

Max não precisou nem pensar.

— Eu fico. Sempre fico. — respondeu, com aquele sorriso cheio de gentileza que parecia sempre dizer "você tá seguro comigo".

Subiram as escadas em silêncio, até chegarem na porta do apartamento. Ivan ficou alguns segundos parado, encarando a maçaneta, sentindo o coração pulsar tão forte que parecia ecoar no ouvido.

Levantou a mão, hesitou... e então apertou o chaveirinho no zíper de Max, segurando firme por alguns segundos. Max colocou a mão por cima, devagar, sem apertar, só pra dizer "eu tô aqui".

— Pronto? — perguntou, baixinho.

Ivan não respondeu com palavras. Só assentiu, soltou o chaveiro... e girou a maçaneta.

Do outro lado, a voz da mãe veio, vinda da cozinha:

— Filho? Chegou? Tá com fome? Fiz bolo...

E então ela apareceu na porta do corredor, secando as mãos no pano de prato, sorrindo... até perceber que Ivan não estava sozinho.

Por alguns segundos, ficou olhando de um pro outro, processando.

Ivan respirou fundo, apertou a barra do moletom, olhou pra Max e depois pra ela, com os olhos arregalados, mas decididos. E, com a voz mais trêmula que já usou na vida — mas firme, de algum jeito —, falou:

— Mãe... esse... é o Max. É... meu namorado.

Por um segundo, o silêncio pareceu tomar conta do ambiente. Max sentiu o corpo inteiro ficar tenso, como se estivesse se preparando para qualquer coisa — um olhar estranho, uma pergunta desconfortável, ou, quem sabe, aquele silêncio pesado que às vezes dói mais do que palavras.

Mas, pra surpresa dos dois, nada disso aconteceu.

A mãe de Ivan piscou, processou as palavras e, de repente, abriu um sorriso tão natural, tão cheio de carinho, que parecia até que ela já sabia, de alguma forma.

— Ah… então você é o famoso Max! — disse, se aproximando com um tom de voz leve, acolhedor, como se estivesse reencontrando um velho amigo. — Finalmente te conheço! Entra, menino, não fica aí parado na porta, não.

Max ficou tão surpreso que travou por um segundo, olhando pra Ivan, que também parecia estar em choque — mas agora por um motivo muito diferente. Ivan apertou a barra do moletom com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos.

— Tá… tudo bem? — ele perguntou, num sussurro pra Max, como se precisasse confirmar se aquilo era real.

Max só conseguiu assentir, meio sem acreditar.

A mãe deles já estava indo pra cozinha, falando enquanto ajeitava as coisas:

— Eu fiz bolo de cenoura. Espero que vocês gostem. E tem suco, ou vocês preferem café? — perguntou, casual, como se receber o namorado do filho fosse a coisa mais normal do mundo.

Ivan piscou várias vezes, tentando entender se aquilo tava mesmo acontecendo.

— Mãe… você… você tá... — engoliu em seco. — Tá... bem... com isso?

Ela parou, colocou as mãos na cintura e olhou pra ele com aquele olhar típico de mãe — meio divertido, meio sério.

— Filho... claro que tô bem! Por que não estaria? — deu alguns passos até ele e passou a mão carinhosamente no cabelo do Ivan, que se encolheu, tímido, mas não se afastou. — Você acha que eu não percebi que você andava diferente? Mais leve, mais... — ela sorriu, olhando de canto pra Max. — Mais sorridente? Eu só não forcei nada porque sabia que, quando você estivesse pronto, você ia me contar.

Max sentiu uma mistura tão absurda de alívio, alegria e vontade de rir que quase não sabia o que fazer. Sorriu, meio bobo, meio emocionado, e ajeitou a alça da mochila.

— Dona… — começou, meio sem saber como chamar — é... é um prazer te conhecer. De verdade.

Ela riu.

— Me chama de Ana. E o prazer é todo meu, Max. — respondeu, dando um tapinha leve no ombro dele. — Agora, bora pra mesa. Quero saber tudo desse namoro aí. — piscou, divertida. — Bom… pelo menos o que vocês quiserem me contar.

Ivan não sabia se sorria, se chorava ou se escondia debaixo da mesa. Mas, olhando pra Max, e depois pra mãe, percebeu que, pela primeira vez, o mundo lá fora parecia um pouquinho menos assustador.

E, naquele momento, percebeu também que amor não era só aquele que se constrói no silêncio, no cuidado e no olhar. Amor também podia ser acolhimento. Aceitação. Casa.

E, enquanto eles sentavam à mesa, com cheiro de bolo fresco e suco de laranja, Ivan apertou de leve o chaveirinho de Max — não mais por medo, mas por gratidão.

Enquanto Ana cortava fatias generosas do bolo, a cozinha parecia envolta por uma energia diferente — leve, aconchegante, quase mágica. Max olhava ao redor, meio encantado, reparando nos detalhes da casa que, até então, só conhecia pelas descrições tímidas de Ivan: os quadrinhos na parede, a toalha xadrez azul sobre a mesa, e um vaso com flores meio tortas, mas cheias de vida, no centro.

— Então... — Ana puxou conversa, apoiando os cotovelos na mesa, olhando para os dois — vocês se conheceram na escola, né? Como foi isso? Quem deu o primeiro passo? — perguntou, sorrindo com uma curiosidade genuína, mas sem aquele tom invasivo.

Max riu, olhando pra Ivan, que imediatamente ficou vermelho, apertando a barra do moletom.

— Foi... meio... engraçado. — começou Max, ajeitando a mochila no colo, mais por costume do que por necessidade. — Na verdade, acho que... foi meio sem querer, né?

Ivan tentou falar, mas a voz falhou. Ele respirou fundo, apertou o chaveirinho e, com a ajuda do olhar encorajador de Max e do sorriso tranquilo da mãe, conseguiu:

— A gente... se viu no correfor .eu vi ele e me spaiconei na hora...— max falou, baixinho, mas com um meio sorriso surgindo no canto dos lábios.

Ana colocou a mão na boca, segurando uma risada.

— Ai, meu Deus! Que romântico. — brincou. — Nunca imaginei que tropeçar nos outros podia dar namoro. Vou até começar a prestar mais atenção no mercado.

Os três riram, e, pela primeira vez, o riso de Ivan saiu fácil, sem travas, sem aquele medo constante de errar ou de parecer estranho.

— E... desde então... — continuou Max, olhando pra Ivan com aquele olhar cheio de carinho — a gente meio que... não se desgrudou mais. Quer dizer... metaforicamente, né. — sorriu, lançando um olhar rápido, quase cúmplice, pro chaveirinho.

Ana percebeu. E, com uma sensibilidade que poucos teriam, não comentou diretamente, não perguntou, não pressionou. Só assentiu, com um sorriso doce, deixando claro que entendia — e aceitava — sem precisar transformar aquilo num assunto.

— Fico tão feliz por você, filho. — disse, olhando pra Ivan, passando a mão de leve no braço dele. — Você merece ter alguém assim do seu lado. Alguém que te faz bem, que te entende, que te faz sorrir desse jeito.

Ivan abaixou o olhar, apertando o chaveirinho mais uma vez, mas, dessa vez, não de nervoso — era um gesto que agora parecia significar "eu tô seguro aqui".

— E você, Max... — Ana virou-se pra ele, com aquele olhar acolhedor — saiba que essa casa é sua também, tá? Sempre que quiser, pode aparecer. Aqui tem bolo, tem suco, e... tem espaço pra quem gosta do meu filho de verdade.

Max sorriu, meio emocionado, e respondeu, com a voz um pouco embargada:

— Pode deixar, Ana... pode deixar. Eu... eu gosto muito dele. Muito mesmo.

Ana sorriu, balançando a cabeça como quem confirma pra si mesma: "Esses dois... são ouro."

E, naquela tarde, entre fatias de bolo, histórias, risadas e olhares cheios de carinho, o mundo deles ficou um pouco maior, mais colorido, mais leve. E, acima de tudo, mais cheio de amor.

Enquanto mordia um pedaço de bolo, Ana olhou pros dois, cruzou os braços sobre a mesa e soltou, com aquele sorrisinho de quem já tava juntando as peças faz tempo:

— E me contem uma coisa... — começou, arqueando uma sobrancelha — como é que foi que vocês... assim... começaram a namorar, hein?

Ivan arregalou os olhos na mesma hora, quase engasgando com o suco. Levou a mão rapidamente pro chaveirinho, apertando como quem buscava um esconderijo. Max, por sua vez, ficou vermelho até as orelhas, mas riu, meio sem saída.

— Ai... mãe... — Ivan tentou, mas a voz saiu num fiapo.

Max respirou fundo, olhou pra Ivan — como se perguntasse silenciosamente "posso contar?" — e, ao ver um aceno tímido, começou:

— Foi... meio doido, na real. — ajeitou-se na cadeira, enfiando as mãos nos bolsos. — Eu... é... eu me declarei pra ele no fundo da escola.

Ana arregalou os olhos, levando a mão à boca.

— Jura? No fundo da escola? Meu Deus, isso parece coisa de filme! — disse, rindo.

Ivan enfiou o rosto nas mãos, completamente corado, mas com um sorriso que ele tentava, inutilmente, esconder.

— É... — Max continuou, olhando de canto pra ele, com um sorriso cheio de carinho. — A gente se encontrou lá, algumas cezes entao ja sabia q ele estaria la..no intervalo. Um cantinho mais afastado, meio escondido... mais tranquilo, sabe? Sem muito barulho, sem muita gente.

— Sim, sim, eu imagino. — Ana assentiu, atenta.

— Aí, teve um dia que... eu não aguentei mais guardar. — Max sorriu, meio nervoso só de lembrar. — Eu falei que... que gostava dele. Que ele era... a melhor parte dos meus dias. — desviou o olhar, apertando a alça da mochila. — E que... se ele quisesse, eu... eu queria muito... tentar... ser algo mais, sabe?

Ana levou as duas mãos ao peito, sorrindo tão largo que quase não cabia no rosto.

— Meu Deus do céu... isso é a coisa mais fofa que eu já ouvi na minha vida! — exclamou, balançando a cabeça, emocionada. — E aí, Ivan? — olhou pra ele, divertida. — O que você fez? Correu? Desmaiou? Ficou mudo?

Ivan, com o rosto ainda escondido nas mãos, deixou escapar uma risadinha abafada.

— Quase tudo isso... — respondeu, sem tirar as mãos do rosto, mas a voz já saía mais leve, divertida. — Eu... travei. Fiquei olhando pra ele... sem conseguir falar nada. Só... assenti. — tirou as mãos devagar, encarando o chaveirinho com carinho. — Foi... foi meu jeito de dizer sim... mesmo sem conseguir falar.

Max sorriu, meio bobo, olhando pra ele com tanta ternura que até Ana percebeu.

— Depois, quando ele percebeu... que aquilo era um sim, a gente ficou sentado lá... só... olhando o céu. Sem falar muito, só... ficando. — completou Max, apertando de leve o próprio joelho, nervoso, mas sorrindo. — E foi... foi perfeito. Do jeitinho que a gente consegue ser.

Ana respirou fundo, os olhos marejados, e balançou a cabeça, segurando o riso.

— Olha... se vocês tão achando que vão me fazer chorar hoje, vocês tão certíssimos, tá? — disse, limpando discretamente o canto dos olhos. — Eu tô... tão feliz por vocês. Tão orgulhosa. O amor de vocês é... é lindo, gente. É de verdade.

Ivan apertou o chaveirinho mais uma vez, olhou pra Max, e, pela primeira vez na vida, disse algo na frente de outra pessoa — e principalmente na frente da mãe — que ele nunca achou que teria coragem:

— E... eu amo ele, mãe. Muito.

Ana respirou fundo, sorriu largo e respondeu, com toda a convicção do mundo:

— E eu amo ver você assim, filho. Feliz. Inteiro. Sendo quem você é. E vocês dois... vocês têm meu apoio. Sempre.

Max apertou os olhos, segurando uma lágrima que ameaçava escapar, e só conseguiu dizer:

— Obrigado... de verdade. Isso... isso significa mais do que qualquer coisa.

E, por um instante, entre bolo, risadas e olhares cheios de amor, o mundo parecia exatamente do tamanho certo: o tamanho de um lar.

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