cap 3- ⋆˙၄၃

O sinal do fim do intervalo soou, mas, por um momento, parecia que nenhum dos dois queria se levantar dali. Ivan olhou para o relógio no pulso, respirou fundo e ajeitou novamente a alça da mochila.

— A gente... se vê depois da aula? — perguntou, olhando rapidamente para Max, e depois desviando o olhar, como sempre fazia quando estava um pouco nervoso.

— Claro. — respondeu Max, sorrindo, enquanto prendia o chaveirinho recém-recebido no zíper da mochila, fazendo questão de deixar visível. — No jardim, como ontem?

Ivan assentiu, balançando a cabeça.

— No jardim... lá é tranquilo. — respondeu, com aquele tom calmo que Max começava a reconhecer como sinal de segurança, de conforto.

— Então combinado, namorado. — disse Max, meio provocando, meio encantado, só para ver a reação de Ivan.

Ivan corou instantaneamente, puxando o capuz do moletom pra cima, escondendo um pouco o rosto.

— Você tá... usando isso contra mim agora... — murmurou, apertando a barra do moletom entre os dedos.

Max deu uma risada baixa, se levantando.

— É só... justiça poética. — respondeu, piscando. — Até mais.

Ivan só balançou a cabeça, segurando o sorriso enquanto se levantava também. E, juntos, caminharam até a porta da escola, mantendo a distância confortável, mas sentindo, de um jeito silencioso, que algo entre eles estava diferente. Melhor. Mais bonito.

As aulas da tarde passaram, e, assim que o último sinal tocou, Ivan já estava de pé, guardando tudo rapidamente e organizando seus materiais da maneira meticulosa de sempre. Seu coração batia mais rápido, não porque estivesse desconfortável, mas porque a ansiedade agora vinha de algo... bom.

Ele foi direto pro jardim, chegando alguns minutos antes, como sempre fazia. O vento balançava as folhas, e o som dos pássaros preenchia aquele espaço escondido, que parecia ser só deles.

E não demorou muito até ouvir passos conhecidos.

Max surgiu, sorrindo, mochila no ombro e o chaveirinho das duas estrelas balançando no zíper. Quando viu, Ivan não conseguiu evitar que seus lábios se curvassem num sorriso pequeno, mas sincero.

— Você... tá usando. — comentou, apontando discretamente pro chaveiro.

— Claro que tô. — respondeu Max, se aproximando até aquela distância que já era natural entre eles. — Você acha que eu ia guardar uma coisa tão especial na gaveta? Nem pensar.

Ivan desviou o olhar, apertando o moletom nas mãos, mas estava visivelmente feliz.

— Eu... fiquei pensando... — começou, ajeitando uma mecha do cabelo, — se... você quiser... talvez... a gente possa... fazer coisas juntos. Tipo... não só aqui na escola.

Max arqueou as sobrancelhas, sorrindo ainda mais.

— Coisas juntos? Tipo o quê?

Ivan respirou fundo, organizando as ideias antes de falar.

— Tipo... ir num lugar tranquilo... talvez... uma livraria... ou... um parque... algum lugar sem muito barulho...

Max segurou um riso, não de deboche, mas de puro carinho.

— Isso soa... como um encontro? — perguntou, meio brincando, meio esperançoso.

Ivan piscou, processando a palavra.

— Acho que... sim. — respondeu, desviando o olhar, apertando os dedos uns contra os outros. — Nunca... nunca fiz isso antes. Então... não sei muito bem como funciona.

Max respirou fundo, com o coração batendo acelerado, mas de um jeito feliz.

— A gente descobre juntos. Do nosso jeito. Sem regras prontas, sem pressa.

Ivan levantou o olhar, encontrando o de Max, e, pela primeira vez, segurou aquele contato visual por mais tempo do que de costume.

— Do nosso jeito... — repetiu, com aquele sorriso tímido, porém cheio de significado. — Sempre.

E, ali, no velho jardim, onde o vento parecia saber segredos e os pássaros cantavam como trilha de fundo, eles selaram mais um capítulo da história que estavam construindo juntos.

O dia do encontro chegou mais rápido do que Max imaginava. Desde que combinaram, ele não parava de pensar em como poderia fazer tudo ser perfeito, mas, ao mesmo tempo, sabia que perfeito, pra eles, significava algo diferente. Não precisava ser cheio de surpresas ou planos mirabolantes — só precisava ser confortável, seguro e, acima de tudo, verdadeiro.

Ivan, por sua vez, havia passado os dois últimos dias pesquisando na internet: “Como funciona um encontro?”, “O que fazer no primeiro encontro?” e “Encontros para pessoas que não gostam de lugares barulhentos”. Ele até abriu um documento no computador e listou possibilidades.

No fim, escolheram juntos: uma livraria pequena, aconchegante, que também tinha uma cafeteria tranquila nos fundos, e, depois, um passeio no parque próximo, onde poderiam sentar na sombra, conversar e observar as nuvens.

Ivan chegou primeiro, como sempre, usando seu moletom azul favorito e segurando uma garrafa de água. Seus dedos apertavam levemente a alça da mochila enquanto seus olhos varriam o movimento da rua, procurando Max. Seu coração batia mais rápido que o normal, e ele tentava regular a respiração, repetindo mentalmente: Está tudo bem. Max entende. Vai ser do nosso jeito.

E então, lá estava ele. Max vinha andando com aquele jeito tranquilo, sorriso largo, o chaveirinho das duas estrelas balançando no zíper da mochila, exatamente onde Ivan tinha visto da última vez.

— Oi. — disse Max, quando parou a uma distância confortável, sorrindo, ajeitando a alça da própria mochila. — Tá lindo hoje, né?

Ivan olhou para o céu, como se precisasse confirmar.

— Tá... sim... céu azul... poucas nuvens... não muito quente. É... bom. — respondeu, balançando a cabeça, e depois voltou o olhar pra Max. — E... você também tá... bonito.

Max piscou, surpreso, e depois riu, levando a mão à nuca, meio sem saber onde enfiar toda aquela felicidade que parecia querer escapar pelo sorriso.

— Nossa... você me pegou de surpresa agora. — disse, rindo. — Obrigado, namorado.

Ivan apertou a barra do moletom entre os dedos, escondendo um sorrisinho.

— Só... sendo honesto. — respondeu, com aquele tom direto e fofo que fazia Max se derreter por dentro.

— Bora entrar? — perguntou Max, apontando pra livraria. — Parece bem tranquila.

Ivan assentiu, aliviado por Max entender seu ritmo. Eles entraram lado a lado, caminhando entre as estantes, cada um apontando livros, comentando capas, lendo contracapas em voz baixa. Às vezes, não diziam nada, só compartilhavam aquele silêncio confortável, onde nenhum dos dois se sentia pressionado a preencher o espaço com palavras desnecessárias.

Em determinado momento, Max puxou um livro de astronomia, abriu numa página com uma ilustração linda de duas estrelas binárias — duas estrelas que orbitam uma em torno da outra, ligadas gravitacionalmente para sempre.

Ele virou o livro discretamente pra Ivan e comentou, sorrindo:

— Olha... somos nós.

Ivan olhou, observou por alguns segundos, e depois deixou escapar aquele sorriso tímido, que só Max conseguia arrancar.

— Somos... sim... — respondeu, baixinho. — Ligados... do nosso jeito.

Max sentiu o coração apertar, daquele jeito bom, quente, confortável.

Depois de um tempo na livraria, seguiram pro parque. Encontraram uma árvore grande, onde a sombra formava um círculo perfeito, e sentaram lado a lado, respeitando a distância que já fazia parte do entendimento silencioso dos dois.

Ali, ficaram olhando as nuvens, brincando de imaginar formas, conversando sobre filmes, livros e até sobre coisas que só eles entendiam.

E, naquele momento, Max percebeu que não existia encontro mais perfeito no mundo do que aquele. Porque não precisava de nada além do que já tinham: compreensão, carinho, respeito... e aquele amor que crescia, simples e bonito, do jeitinho deles.

O tempo parecia ter parado ali, sob a sombra daquela árvore. A luz suave filtrava pelas folhas, desenhando padrões no chão, no moletom azul de Ivan e nos tênis de Max. O mundo, com seus barulhos e correria, parecia muito distante daquele espaço que, de alguma forma, agora pertencia só aos dois.

— Tá sendo... — Ivan começou, ajeitando uma mecha do cabelo, olhando para as próprias mãos — mais fácil do que eu imaginei.

Max sorriu, encostando levemente as costas no tronco da árvore.

— Fácil? — perguntou, curioso. — Tipo... estar aqui comigo?

Ivan assentiu.

— Sim... — respondeu, com sinceridade. — Eu achei que ia ser... desconfortável... estranho... muita informação. Mas... com você... não é assim. É... tranquilo. Seguro.

Max sentiu o peito se aquecer de um jeito que nenhuma palavra conseguia explicar completamente. Ele não queria assustar Ivan, não queria forçar nenhum gesto, então apenas respondeu com um sorriso sereno:

— Fico tão feliz de ouvir isso... porque, pra mim, estar com você é exatamente isso também. Um lugar seguro.

Ivan respirou fundo, olhou pro céu e depois virou-se um pouco mais na direção de Max.

— Eu tava pensando... — começou, ajeitando nervosamente a barra do moletom — se... você quiser... a gente pode... criar um sinal. Tipo... quando eu estiver desconfortável ou... precisar de espaço. Assim não preciso... explicar toda vez.

Max arregalou os olhos, genuinamente surpreso, e depois sorriu largo.

— Isso é... genial, Ivan. — respondeu, animado. — A gente pode sim!

— É sério? — Ivan piscou, surpreso com a reação tão positiva.

— É claro! — respondeu Max, ajeitando a mochila no colo, empolgado. — E, olha, não precisa ser nada complicado. Pode ser um gesto, uma palavra... algo só nosso.

Ivan levou a mão até o próprio moletom, apertando discretamente a barra entre os dedos, pensativo. Olhou pro chaveirinho que balançava no zíper da mochila de Max e, após alguns segundos, murmurou:

— Talvez... se eu... segurar no chaveirinho. — falou, quase como uma pergunta, olhando rapidamente e desviando o olhar em seguida. — Tipo... apertar ele por alguns segundos. Assim você... sabe.

Max seguiu o olhar de Ivan até o chaveiro e sorriu, genuinamente tocado, mas sem se mover, respeitando aquele espaço confortável que sempre mantinham.

— Eu adoro isso. — respondeu, com a voz mais baixa, tranquila. — Vai ser o nosso sinal, então. Sempre que você apertar, eu vou entender. A gente pode fazer uma pausa... respirar... ou só ficar quieto. Tudo bem, do jeitinho que for melhor pra você.

Ivan assentiu, ajeitando uma mecha do cabelo, visivelmente mais relaxado.

— Obrigado... — respondeu, quase num sussurro. — Isso... me ajuda muito. Saber que... não preciso... forçar palavras quando não consigo.

Max ajeitou a alça do moletom.

— …E nem precisa se explicar, tá? — completou, com aquele tom gentil que Ivan já começava a reconhecer como um abraço disfarçado em palavras. — Eu vou estar aqui. Sempre.

Por alguns segundos, ficaram em silêncio. Mas não era aquele silêncio desconfortável — pelo contrário. Era um silêncio macio, cheio de entendimento, onde nenhum dos dois sentia que precisava preenchê-lo à força.

Max então se levantou, ajeitando a mochila no ombro.

— Bora? — perguntou, estendendo a mão, não como quem puxa, mas como quem oferece um apoio, uma ponte segura.

Ivan olhou para a mão, depois para o chaveirinho que balançava suavemente, e então segurou — não a mão, ainda —, mas o chaveirinho. Apertou, só por alguns segundos. Max percebeu e, sem dizer nada, apenas assentiu, apertando de leve a alça da mochila, como se aquele gesto também fosse uma resposta silenciosa.

— Bora. — respondeu Ivan, com um meio sorriso, se levantando ao lado do amigo.

E assim, os dois seguiram, lado a lado, com um novo tipo de acordo selado. Invisível para o mundo, mas claro e forte entre eles.

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