Contrato Com o Amor
Paris não era como nos filmes. Era melhor. Ao menos para Beca, que observava as ruas pela janela do táxi com os olhos brilhando. Cada prédio antigo, cada sacada florida, cada café com mesinhas na calçada parecia um fragmento de um sonho que ela finalmente tocava. A Torre Eiffel despontava ao fundo, majestosa, como uma promessa silenciosa de que sua vida estava prestes a mudar.
Ela tinha dezoito anos, um passaporte carimbado pela primeira vez e uma mala meio furada que carregava roupas simples, dois pares de sapatos e uma esperança gigante. Nunca imaginou sair de sua cidade natal no interior do Brasil, mas ali estava, prestes a começar um estágio na Gauthier Enterprises, uma das empresas mais respeitadas da Europa.
Respirou fundo quando o táxi parou em frente ao prédio. O número 126 da Rue Saint-Honoré era imponente: vidros espelhados, portas giratórias, segurança impecável e uma fachada moderna que destoava do romantismo parisiense ao redor. Um símbolo claro de poder e inovação.
Pagou a corrida com notas suadas de euros, agradeceu ao motorista num francês cauteloso e desceu. Um frio subiu pela espinha, embora fosse verão. Era agora.
— Vamos, Beca... você consegue.
Adentrou o saguão com passos pequenos e rápidos. O ambiente era silencioso, o chão de mármore cintilava e o perfume caro dos executivos parecia grudar no ar. Funcionários passavam com pressa, todos vestidos com elegância discreta, como se fizessem parte de um filme em que ela claramente era figurante.
No balcão de recepção, uma mulher loura de coque perfeito a olhou de cima abaixo antes de perguntar:
— Bonjou... Vous êtes?
— Beca Ribeiro. Estágio em marketing — respondeu, com o sotaque carregado.
A recepcionista confirmou algo no computador e indicou o elevador com um leve aceno.
— Cinquième étage. Camille Lenoir vous attend.
No quinto andar, as portas do elevador se abriram para um ambiente mais descontraído, ainda que sofisticado. Mesas organizadas, paredes brancas com toques de verde e quadros modernos. Logo, uma mulher de trinta e poucos anos, cabelos ruivos e um tablet nas mãos, se aproximou sorrindo.
— Beca Ribeiro? Bonjour! — disse em inglês com um leve sotaque francês. — Eu sou Camille, sua supervisora.
— Bonjour, prazer em conhecê-la.
— Você está pontual. Isso já conta pontos.
Camille era gentil, prática e eficiente. Em poucos minutos, apresentou a estrutura do departamento de marketing, as funções básicas que Beca assumiria nos primeiros dias e a equipe. A jovem tentava absorver tudo, embora estivesse distraída pelo nervosismo e pela beleza surreal do local.
Ao final do tour, Camille a conduziu até uma mesa próxima à janela.
— Aqui é sua estação. Temos vista para a Torre, mas ela só aparece inteira nos dias claros. Hoje está nublado — disse com um sorriso. — Não se preocupe, hoje será leve. Quero que se familiarize com os sistemas e observe. Amanhã começamos pra valer.
Beca assentiu, grata. Não sabia nem por onde começar. Quando Camille se afastou, ela sentou-se devagar, ligou o computador e tentou respirar. Abriu o e-mail institucional, organizou a mochila aos pés e olhou pela janela. Mesmo com o céu cinzento, era impossível não sorrir.
Estava em Paris. De verdade. Trabalhando em uma multinacional.
Não era mais só a menina que cresceu com a avó assistindo novelas e sonhando com outro mundo. Agora, era Beca Ribeiro, estagiária da Gauthier Enterprises.
A tarde passou lentamente. Entre tutoriais internos, documentos digitais e apresentações antigas, ela sentia que tudo era novo e complexo. Mas era exatamente disso que gostava: de desafios.
Perto do final do expediente, Camille reapareceu com uma pasta preta nas mãos.
— Pode fazer um favor, Beca? Entregue isso na sala 28 do último andar. É para o CEO.
— O CEO?
— Sim. Adrien Gauthier.
O nome soou como uma lenda. Era o herdeiro e atual presidente da empresa. Jovem, milionário, reservado. Já tinha lido sobre ele em artigos e revistas — o tipo de homem que parecia intocável.
— Eu... claro. Só entregar?
— Sim. E apenas entregue ao assistente dele. Ele não gosta de ser interrompido, ok?
Com um nó no estômago, Beca pegou a pasta e caminhou até o elevador. As mãos suavam. A cada andar que subia, seu coração acelerava mais.
As portas se abriram no 20º andar revelando um ambiente diferente de tudo que já tinha visto. O piso de madeira escura brilhava. As paredes eram decoradas com arte contemporânea. O silêncio ali era ainda mais denso. Andou devagar até a porta 28. Bateu duas vezes.
— Entrez, disse uma voz firme do outro lado.
Beca entrou devagar. Esperava encontrar um assistente. Mas ali estava ele, sentado atrás de uma mesa ampla de vidro, com dois monitores e uma xícara ao lado.
Adrien Gauthier.
Ele não parecia ter mais de trinta anos. Tinha cabelos castanhos escuros levemente bagunçados, olhos cinzentos profundos e um rosto de traços fortes. Usava uma camisa branca dobrada até os antebraços, uma aliança nenhuma e um olhar que poderia cortar aço.
— Você não é minha assistente.
— Não, senhor. Eu sou... estagiária. Me pediram para entregar isto — disse, estendendo a pasta.
Ele pegou, folheou rapidamente. Fez um som quase inaudível com a garganta e apontou um gráfico.
— Há um erro. Vê?
Ela se aproximou, hesitante. Os dedos dele passavam pela linha torta.
— Esta curva está invertida. E não é a primeira vez que isso acontece. O material deveria ter sido revisado. Você revisou?
— Não, senhor. Me pediram apenas para entregar...
— Mesmo assim. A responsabilidade nunca deve ser terceirizada. Se passar pelas suas mãos, deve estar certo. Lembre-se disso.
— Sim, senhor.
Ele a olhou por um segundo a mais do que o necessário. Depois, indicou a porta com um movimento breve de cabeça.
— Pode ir, Beca Ribeiro.
Ela deixou a sala sentindo as pernas moles. Ele havia decorado o nome dela? Como?
Quando voltou à sua mesa, encontrou uma mensagem de Camille: “Soube que ele falou com você. Isso é raro. Bem-vinda ao topo.”
Aquele dia seria inesquecível. Ela não fazia ideia do quanto ele ainda mudaria sua vida.
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Atualizado até capítulo 22
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