O clima em Paris começava a mudar. O verão dava lugar a manhãs mais frescas, e as tardes ficavam tingidas de dourado, como se a cidade respirasse poesia a cada esquina. Mas para Beca, o mundo parecia se concentrar em um só lugar: os andares superiores da Gauthier Enterprises — mais especificamente, no homem que habitava o topo daquele império.
Desde o almoço com os investidores, Adrien Gauthier tornara-se uma presença constante em seus pensamentos. O gesto com o paletó, o modo como ele a olhou, o tom da voz — tudo aquilo deixara marcas que ela não conseguia apagar. E, embora se obrigasse a manter o foco, era impossível não sentir o corpo reagir quando ele cruzava o corredor, quando seu nome surgia num e-mail, ou quando a presença dele pairava como um perfume discreto e viciante.
Nos dias que seguiram, Adrien parecia mais próximo. Não havia familiaridade explícita, mas ele passava por sua mesa com frequência incomum, fazia perguntas diretas, confiava a ela pequenas tarefas importantes. Às vezes, apenas a olhava, por um segundo a mais do que o necessário — e esse segundo era suficiente para acelerar o coração de Beca por minutos.
Camille notou.
— Ele te observa — disse num fim de tarde, enquanto tomavam café juntas na copa.
— Quem?
Camille arqueou uma sobrancelha.
— Adrien. Não é comum. Ele é reservado, metódico. Nunca se envolve com ninguém da empresa — enfatizou. — Pelo menos, não desde que assumiu o cargo de CEO.
— Talvez eu esteja apenas trabalhando bem — desconversou Beca.
— Talvez. Mas tome cuidado. Ele é como o Sena: parece calmo, mas esconde correntes perigosas.
As palavras de Camille ecoaram durante a noite. Ainda assim, Beca não conseguia evitar a atração. Era involuntária. Como se o coração tivesse encontrado uma frequência específica, e essa frequência fosse Adrien.
---
Na semana seguinte, uma nova campanha de marketing exigiu uma série de reuniões criativas. Camille decidiu que Beca poderia participar ativamente, não apenas como observadora. Ela ajudaria no brainstorm de ideias para um lançamento europeu com foco em jovens consumidores.
Na primeira reunião, Adrien estava presente. Vestia uma camisa preta de botões, mangas dobradas até os cotovelos, e uma expressão impassível. O tipo de figura que podia silenciar uma sala apenas ao entrar.
Beca ficou no canto da mesa, com o caderno aberto e a caneta pronta. Quando os criativos começaram a apresentar propostas, Adrien ouviu em silêncio por longos minutos. Então, apontou para o quadro com os slogans sugeridos.
— Todos parecem dizer a mesma coisa. Genérico. Seguro. Irrelevante.
Camille tentou ponderar:
— Estamos tentando atender o que o mercado espera, sem arriscar demais...
— O problema é exatamente esse. Se queremos inovar, temos que incomodar um pouco. Criar ruído. Chamar atenção. — Seus olhos percorreram a sala. — Alguém tem uma proposta que realmente faça isso?
Beca hesitou. Havia rabiscado algo no caderno. Uma ideia ousada, fora do padrão. Uma campanha que explorava a rebeldia da juventude, o desejo de ruptura com o tradicional. Mas ela era apenas estagiária...
Adrien a notou.
— Beca. O que está pensando?
Todos os olhares se voltaram para ela.
— Eu... — Ela engoliu em seco. — Talvez algo mais provocador? Uma campanha que diga “não precisamos seguir o padrão europeu de consumo para sermos relevantes.” Mostrar jovens reais, de diferentes culturas, corpos, sotaques. Mostrar que a Europa não é só um rosto branco e rico.
Silêncio.
Adrien inclinou levemente a cabeça. Depois, um leve sorriso surgiu no canto dos lábios.
— Agora sim. Algo com alma. Continue desenvolvendo isso. Camille, ela vai trabalhar com você nesse eixo criativo.
Quando a reunião terminou, Camille se aproximou.
— Você está brincando com fogo.
— Ele pediu minha opinião — disse Beca, tentando soar firme.
— Sim. Mas Adrien não pede opinião de qualquer um. Se ele começa a ouvir, é porque está abrindo espaço. E quando ele abre espaço...
— O quê?
— As coisas deixam de ser profissionais.
---
Na tarde daquele mesmo dia, Beca foi chamada à sala dele. Uma reunião rápida, segundo o e-mail.
Quando entrou, Adrien estava sentado à mesa, lendo relatórios. Levantou os olhos quando ela entrou.
— Feche a porta.
Ela obedeceu, engolindo a ansiedade.
— Recebi os primeiros esboços da campanha. Você realmente acredita naquela proposta?
— Sim. Acredito que precisamos mostrar mais do que um produto. Precisamos mostrar coragem. Conexão.
Ele apoiou os cotovelos na mesa, entrelaçando os dedos.
— Isso é raro. A maioria dos profissionais só quer agradar. Você... provoca.
— Não foi minha intenção provocar o senhor.
— Mas provocou.
Ela corou.
Ele se levantou, caminhando até a janela, observando a cidade. A Torre Eiffel brilhava ao fundo.
— Quando você entrou aqui, achei que fosse como os outros estagiários. Cheia de medo, tentando não errar.
— E eu não sou?
— É. Mas também é mais do que isso. Tem algo nos seus olhos. Uma coragem silenciosa. E isso... me intriga.
Ela sentiu o corpo inteiro reagir. Adrien não estava falando como CEO. Estava falando como homem.
— Senhor Gauthier...
— Adrien.
Ela o encarou. A mudança de tom era clara. O ar entre eles parecia mais denso, mais carregado.
— Adrien, eu... sou apenas uma estagiária.
— Não use isso como escudo.
Ele deu um passo mais perto. Não a tocou, mas estava perto o suficiente para que ela sentisse sua respiração.
— Nada vai acontecer que você não queira — disse, com a voz mais baixa. — Mas se algum dia quiser... saber o que está acontecendo entre nós... eu estarei aqui.
Ela ficou sem palavras.
Então ele recuou, voltando à mesa como se nada tivesse sido dito.
— Agora, sobre o slogan. Quero algo em francês, direto. Pense nisso. Traga ideias amanhã.
Ela saiu da sala com as pernas trêmulas.
Não havia toque. Nenhuma palavra indecente. Mas algo fora dito. Algo real. E aquilo ardia mais do que qualquer beijo.
---
Naquela noite, caminhou até a margem do Sena sozinha. Precisava de ar, de distância, de silêncio. Mas a cidade parecia sussurrar o nome dele a cada luz refletida na água, a cada casal que se abraçava no banco de praça.
Ela sabia que estava no limite. Adrien a atraía como um ímã, mas era perigoso demais. A linha entre a admiração e o desejo estava ficando tênue — e se cruzasse, talvez não conseguisse voltar.
Mas, no fundo, algo já tinha mudado.
E talvez, só talvez... ela não quisesse voltar.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 22
Comments
Gladis Detoni
Ele vai seduzir
2025-05-27
1