Chapter 4

Capítulo 4

🪻

O dia começou morno, carregado do cheiro de café fresco e da umidade da cidade após uma madrugada de chuva. Liora acordou antes do sol nascer, como de costume, sentindo uma inquietação que não podia ser ignorada. Levantou-se silenciosa, os pés descalços tocando o chão frio, a pele morena marcada pelo vitiligo reluzindo sob a luz tímida que entrava pela janela. Cada mancha em seus braços e pescoço parecia irradiar uma história, um segredo, um fragmento de si que não podia ser apagado. Ela se observou no espelho por um instante — os cabelos cacheados presos de forma solta, algumas mechas caindo sobre o rosto, os olhos âmbar escuros fixos em sua própria imagem. Havia beleza ali, sim, mas havia também o traço de algo incontrolável, uma intensidade silenciosa que Liora sabia carregar consigo sempre que alguém a olhasse de perto.

Celeste ainda dormia quando Liora saiu do quarto. A luz suave da manhã iluminava o cabelo loiro quase dourado da jovem, que se espalhava sobre o travesseiro em ondas desordenadas. A pele clara, levemente corada nas bochechas, contrastava com os olhos azuis profundos, intensos e quase hipnotizantes. Liora sentiu uma pontada estranha no peito, uma mistura de desejo e fascinação que não podia ser ignorada. Cada traço de Celeste parecia gravado em sua memória: o formato delicado do nariz, a curva suave dos lábios, o modo como o cabelo caía sobre os ombros, como se cada fio tivesse vida própria.

A jovem negra observou Celeste de longe por alguns instantes, em silêncio, absorvendo cada detalhe. Era impossível desligar-se daquilo; era impossível não perceber a forma como o mundo parecia girar em torno da loira quando ela se movia. Liora sentiu novamente o frio conhecido da obsessão crescendo dentro dela — não era apenas curiosidade, não era apenas interesse. Era uma necessidade silenciosa de possuir a atenção de Celeste, de compreender cada gesto, de marcar cada memória em sua mente de forma definitiva.

Após um banho rápido, Liora desceu para o café da manhã. A estalagem estava quase vazia, exceto por alguns hóspedes espalhados em mesas pequenas, absorvidos em seus próprios mundos. Celeste estava à frente do balcão, arrumando algumas xícaras com delicadeza, o cabelo loiro preso em um rabo de cavalo solto, fios rebeldes caindo sobre o rosto. Liora sentiu o coração apertar ao perceber como a luz da manhã refletia nos olhos da jovem, tornando-os quase etéreos.

— Bom dia — disse Celeste, ao notar Liora entrando. A voz suave, melódica, parecia tocar algo dentro dela que Liora não conseguia nomear.

— Bom dia — respondeu Liora, mantendo o tom calmo, mas o olhar fixo em Celeste. Cada gesto da jovem era amplificado, cada movimento parecia carregado de significado silencioso.

O café da manhã foi servido em silêncio, mas não era um silêncio desconfortável. Liora observava cada detalhe: como Celeste segurava a xícara entre os dedos, a forma como inclinava a cabeça ao falar com os hóspedes, a leveza de seus movimentos, quase como se cada gesto fosse ensaiado para capturar a atenção sem esforço. A obsessão silenciosa que Liora sentia crescia, alimentando-se de cada detalhe que podia absorver.

— Você sempre observa tanto assim? — perguntou Celeste, finalmente rompendo o silêncio, como se sentisse a intensidade do olhar de Liora sobre si.

Liora desviou o olhar por um instante, depois voltou a encará-la, com os olhos âmbar brilhando de maneira intensa. — Talvez… — respondeu, a voz baixa, controlada, mas carregada de uma urgência quase física. — Talvez eu apenas não consiga ignorar algo que insiste em permanecer aqui, mesmo quando tento me afastar.

Celeste arqueou uma sobrancelha, intrigada, e Liora percebeu que havia capturado sua atenção de forma definitiva. Não era apenas curiosidade; era fascínio. E isso apenas aumentava a tensão silenciosa entre elas.

O dia avançou lentamente, e Liora permaneceu na estalagem, ora observando Celeste, ora perdendo-se em seus próprios pensamentos. Cada gesto, cada palavra, cada sorriso da jovem parecia amplificar a obsessão silenciosa que crescia em Liora. Era uma fome diferente, quase espiritual, que não podia ser saciada apenas pela proximidade física. Era desejo e obsessão condensados em cada lembrança, em cada respiração, em cada olhar furtivo.

No início da tarde, Liora decidiu sair para caminhar pela cidade. As ruas ainda estavam molhadas da chuva da madrugada, o céu carregado de nuvens cinzentas. O vento frio tocava seu rosto, trazendo a lembrança do toque de Celeste, do calor invisível que parecia acompanhar cada pensamento. A cada passo, a obsessão silenciosa crescia, tornando-se quase tangível. Cada memória de Celeste se misturava ao som da cidade, aos cheiros da rua, ao movimento das pessoas ao redor, transformando tudo em uma espécie de labirinto onde Liora se perdia voluntariamente.

Ela passou por uma livraria, e algo dentro dela se acendeu. Celeste havia mencionado, dias antes, o gosto por romances e poesias, e Liora se pegou imaginando a loira lendo, sorrindo para si mesma, absorvendo cada palavra. A necessidade de capturar aquela imagem, de mantê-la para sempre em sua mente, era quase física, como se cada lembrança fosse um fio de vida que Liora precisava manter aceso.

Ao retornar à estalagem, Liora encontrou Celeste organizando alguns papéis na recepção. A luz da tarde filtrava-se pelas janelas, iluminando o cabelo loiro de Celeste e deixando o azul profundo de seus olhos ainda mais vívido. Liora sentiu uma tensão intensa, quase dolorosa, crescendo dentro dela. Cada detalhe da jovem era uma marca invisível, uma lembrança gravada, impossível de apagar.

— Você parece… cansada — disse Celeste, finalmente olhando para Liora. Havia preocupação na voz, mas também curiosidade, uma sensação de que algo estava sendo revelado sem palavras.

— Talvez — respondeu Liora, aproximando-se um pouco mais do balcão, sem perceber o quanto a proximidade aumentava a tensão silenciosa. — Ou talvez seja apenas a intensidade do que sinto em relação a você… algo que não consigo controlar.

Celeste desviou o olhar por um instante, depois voltou a encarar Liora, claramente intrigada. — O que quer dizer com isso? — perguntou, a voz baixa, quase um sussurro.

— Não sei nomear — respondeu Liora, sentindo o coração acelerar. — Mas há algo em você que insiste em permanecer, mesmo quando tento me afastar. Algo que não posso ignorar.

Celeste permaneceu em silêncio, sentindo a intensidade daquelas palavras. Era desconcertante e fascinante ao mesmo tempo. Liora sentiu que havia finalmente exposto parte de sua obsessão silenciosa, e isso a deixava vulnerável de um jeito que não havia sentido antes. Mas, ao mesmo tempo, havia poder nisso — o poder de despertar atenção, de capturar interesse, de marcar presença de forma indelével.

A tarde avançou lentamente. Liora não conseguia se afastar da ideia de Celeste, cada movimento da jovem parecia hipnotizante, cada gesto carregado de significado. A obsessão silenciosa crescia, e a necessidade de proximidade tornava-se quase física. Liora percebeu que não havia como controlar aquilo; não havia como escapar.

Quando a noite caiu, a cidade mergulhou em silêncio novamente, e Liora sentiu que a fome emocional e psicológica que consumia seu interior só aumentava. Cada gesto de Celeste durante o dia, cada sorriso, cada palavra, cada olhar, estava gravado em sua mente, tornando impossível a distância. Era um desejo silencioso, intenso, avassalador, uma obsessão que crescia com cada instante de proximidade ou lembrança.

Sentou-se junto à janela do quarto mais uma vez, observando o luar refletido nas ruas molhadas. Celeste estava lá fora, em algum ponto da estalagem, e apenas pensar nela provocava em Liora um calor estranho, quase doloroso. A loira parecia tão perto, e ao mesmo tempo tão inacessível. Cada detalhe da jovem era uma chama que consumia silenciosamente Liora, mas que ela não desejava apagar.

Ela respirou fundo, tentando organizar os pensamentos, mas era inútil. A obsessão não podia ser contida. Não havia sombra suficiente, nem distância, nem rotina que pudesse apagar o que crescia dentro dela. E, naquela noite, Liora percebeu que estava perdida, entregue à necessidade silenciosa de possuir, de capturar, de marcar cada lembrança de Celeste como algo que ninguém mais poderia tocar.

A tempestade interna estava apenas começando.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!