Chapter 3

Capítulo 3

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O dia amanheceu cinzento, com o céu carregado de nuvens pesadas, como se a própria cidade pressentisse a tensão que se formava em Liora. Ela acordou com o corpo pesado e a mente inquieta, e, pela primeira vez desde sua chegada, percebeu que o mundo ao redor parecia irrelevante. A única coisa que importava era Celeste: o sorriso, a voz, o jeito de inclinar a cabeça, o modo como ela parecia perceber as coisas sem precisar perguntar. Liora sentia uma necessidade silenciosa, quase animal, de estar perto, de observar, de entender cada gesto, cada detalhe.

Sentou-se na cama, os cabelos ainda úmidos do banho da noite anterior caindo sobre os ombros. Cada lembrança de Celeste queimava como fogo, suave mas insistente, e Liora percebeu que o coração acelerava mesmo sem nenhum contato físico recente. Era uma fome silenciosa, diferente de tudo que já havia sentido: não era carnal, não era mera atração; era uma urgência de possuir a atenção, de capturar a essência da jovem, de manter aquele olhar preso em sua memória.

Quando desceu para o café da manhã, encontrou Celeste ocupada servindo outros hóspedes, mas, ao perceber Liora, um sorriso tímido surgiu em seus lábios. A simplicidade daquele gesto fez o peito de Liora doer de um jeito impossível de ignorar. Ela se aproximou da mesa, sentando-se sem palavras, observando cada movimento, cada detalhe. O modo como Celeste distribuía os pratos, inclinava-se ligeiramente ao ouvir perguntas, sua mão tocando levemente a borda da xícara… tudo parecia amplificado na percepção de Liora, cada gesto carregado de significado invisível.

Liora sabia que estava presa em um ciclo silencioso: quanto mais observava, mais queria. E quanto mais queria, mais difícil era manter a distância. Havia algo quase cruel nisso — uma tensão constante entre o que podia e o que desejava. Cada sorriso de Celeste era uma fagulha acesa em sua mente, e cada gesto de atenção era combustível para o fogo que ardia dentro dela.

Após o café, Liora decidiu caminhar pelas ruas do vilarejo. O chão ainda estava úmido da chuva da madrugada, e o cheiro de terra molhada misturava-se ao perfume das flores nos jardins discretos das casas. Mas ela não caminhava apenas para apreciar a cidade; cada passo era uma tentativa de lidar com o que crescia dentro dela. A obsessão silenciosa tornava-se cada vez mais concreta: cada imagem de Celeste em sua mente ocupava espaço demais, cada lembrança era vívida demais, cada detalhe parecia insistir para não ser esquecido.

Passou por uma padaria, e o cheiro de pão recém-assado a fez hesitar. Por um instante, tentou concentrar-se em algo mundano — a rotina das pessoas, o calor do café, o movimento do balcão. Mas era inútil. Celeste estava presente em cada pensamento, cada gesto, cada respiração imaginária. Era impossível ignorar.

No final da manhã, Liora retornou à estalagem. Celeste estava sozinha na recepção, revisando algumas anotações. O coração de Liora acelerou sem que pudesse evitar. Cada detalhe da jovem parecia pulsar diante dela: os olhos focados no papel, os lábios ligeiramente entreabertos, o modo como o cabelo caía sobre o ombro. Liora sentiu um impulso quase físico de se aproximar, de tocar, de dominar a presença que a consumia silenciosamente.

— Está se sentindo melhor hoje? — perguntou Celeste, percebendo a tensão silenciosa no corpo de Liora.

— Sim — respondeu Liora, controlando a voz, embora o peito doesse com a urgência que queimava em seu interior. — Mas… sinto que há algo em você que não consigo compreender.

Celeste ergueu os olhos, surpresa. — O que quer dizer?

Liora hesitou, engolindo a própria ansiedade. — É como se você tivesse uma luz que eu não posso apagar… mesmo que quisesse.

O silêncio caiu entre elas. Celeste desviou o olhar por um instante, depois voltou a fitar Liora, curiosa, intrigada. Havia algo na maneira como a visitante falava — na intensidade silenciosa, na urgência contida — que a deixava desconfortável, mas de forma estranha, fascinada. Liora percebia isso, e a percepção só intensificava o que sentia.

Mais tarde, durante a tarde, Liora permaneceu na estalagem. Cada gesto de Celeste parecia amplificado em sua mente, cada palavra sussurrada, cada sorriso contido. Ela observava com uma atenção quase doentia, e a sensação de posse aumentava. Não havia toque, não havia proximidade física, mas a presença da jovem preenchia cada canto de seu corpo e mente. Era uma obsessão silenciosa, intensa, impossível de ignorar.

Liora sabia que precisava controlar-se. Mas, quanto mais tentava, mais difícil se tornava. Cada respiração, cada olhar furtivo, cada gesto de cuidado de Celeste parecia criar um vínculo invisível, mas poderoso, impossível de quebrar. Ela sentia uma necessidade quase desesperada de manter Celeste perto, de capturar cada momento, de fazer parte de sua rotina de maneira silenciosa, invisível, mas constante.

Quando a noite caiu novamente, Liora decidiu sair para caminhar. As ruas do vilarejo estavam quase desertas, e o cheiro de chuva ainda recente misturava-se ao perfume da cidade adormecida. Cada passo de Liora era medido, silencioso. Ela não precisava procurar por Celeste, porque Celeste estava presente em cada lembrança, em cada pensamento. A obsessão havia se tornado física, quase palpável, e Liora percebia que não havia como escapar dela.

Chegou à pequena praça central, onde o lampião projetava uma luz amarelada sobre o chão molhado. Sentou-se no banco, observando as sombras projetadas nas paredes das casas. O vento frio tocava seu rosto, mas não conseguia apagar a chama que queimava dentro dela. Cada gesto de Celeste estava registrado em sua mente, cada sorriso, cada olhar, cada toque imaginário. Era uma prisão doce, silenciosa, quase irresistível.

O telefone vibrou. Liora olhou, mas não respondeu. Era uma mensagem de alguém do trabalho, exigindo relatórios, presença, tarefas pendentes. Mas não havia espaço para isso. Celeste ocupava cada pensamento, cada espaço, cada memória. Liora sabia que estava perdida, mas não se importava. A obsessão silenciosa tinha vencido, e não havia retorno possível.

Quando finalmente retornou à estalagem, encontrou Celeste ainda na recepção, revisando alguns papéis. Liora aproximou-se sem pensar, como se fosse puxada por um ímã invisível. Cada detalhe da jovem parecia amplificado: o modo como inclinava a cabeça, o modo como as mãos se moviam sobre os papéis, o leve franzir de sobrancelhas. Liora sentiu o impulso de se aproximar ainda mais, de tocar, de sentir, de possuir silenciosamente a atenção que a consumia.

— Você parece… distraída — disse Celeste, finalmente percebendo a intensidade silenciosa no olhar de Liora.

— Talvez — respondeu Liora, a voz baixa, controlada, mas com uma urgência quase perceptível. — Ou talvez eu apenas não consiga desviar os olhos de algo que… não sei nomear.

Celeste sorriu, mas havia algo de tenso no gesto. — Você sempre observa tanto assim?

— Não sei… talvez — disse Liora, desviando o olhar por um instante, depois retornando-o. — Mas há algo em você que não consigo ignorar. Algo que insiste em permanecer aqui, mesmo quando tento me afastar.

O silêncio caiu novamente. Celeste permaneceu parada, observando Liora, como se tentasse decifrar a intensidade que emanava da visitante. Liora sentiu uma pontada de poder, mas também de vulnerabilidade. Estava entregue a uma obsessão silenciosa, que consumia cada pedaço de sua mente e corpo, e ainda assim, não podia resistir.

Quando finalmente se afastou para o quarto, Liora sentou-se junto à janela, observando as luzes da cidade refletirem nas ruas molhadas. Cada passo que Celeste dava ao seu redor, cada gesto, cada sorriso, cada olhar, estava registrado em sua mente como uma marca indelével. O desejo silencioso havia se tornado obsessão, e Liora percebeu que não havia como voltar atrás.

Ela respirou fundo, tentando organizar os pensamentos, mas era inútil. Celeste ocupava cada canto de sua mente, cada memória, cada respiração. E Liora sabia que, no fim, não havia fuga possível. A obsessão silenciosa crescia a cada instante, tornando-se uma presença física, quase tangível, impossível de ignorar.

E, naquela noite, enquanto a cidade adormecia sob o céu cinzento, Liora sentiu a certeza incômoda: a obsessão não conhecia limites. Não havia sombra suficiente, não havia distância que pudesse apagar o que crescia dentro dela. E, silenciosa, persistente, ela sabia que aquela chama não poderia ser extinta.

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