Ártemis.
Os passos de Éris ecoam pelo corredor de pedra, firmes e impacientes como sempre.
Ela passa por mim com um aceno breve, indo em direção aos jardins do lado leste. Onde Emris a espera.
Fico observando até que sua sombra desaparece.
O salão está vazio agora. Todos parecem envolvidos com os preparativos da nova aliança. A nova noiva perfeita.
Puxo a porta do escritório com cuidado. Ela range — como se também discordasse do que estou prestes a fazer. Mas eu entro mesmo assim.
Na escrivaninha de meu pai, encontro papel e tinta. O selo da casa repousa ao lado. Não o usarei.
Me sento com calma, como se já tivesse feito isso mil vezes.
E então começo.
> “Lord Emris,
Escrevo como uma amiga da família. Como alguém preocupada com a honra de nossa casa e com a verdade.
Há rumores de que a jovem Éris mantém proximidade indevida com o cavaleiro estrangeiro que chegou recentemente — Kieiran.
A ligação entre eles ultrapassa o respeito entre mestre e aprendiz. O castelo sussurra.
Julgue como achar justo, mas não diga que não foi avisado.”
Assino com a mesma frieza com que escrevi:
— Uma amiga da família.
Dobro a carta.
Ninguém suspeitaria. Éris sempre foi descuidada com suas palavras e seus olhares. Eu apenas… organizei as peças.
Assim que termino, coloco o capuz e saio pelos corredores. Meus passos são silenciosos. Sei onde Emris costuma deixar os pedidos de mensagens e relatórios. Não preciso entregá-la em mãos.
Deslizo a carta entre os documentos.
Feito.
No caminho de volta, passo pelos jardins.
Vejo Emris tomando a mão dela, tentando sorrir.
E ela — com aquele jeito insolente de sempre — desvia o olhar como se fosse livre.
Por quanto tempo mais?
Ajeito o capuz e sigo andando, sem que ninguém perceba.
Éris
Estou voltando do castelo de Emris. Que homem mais egoísta, sério.
Pelo menos fiz o que precisava para garantir meu retorno aos campos amanhã.
Os portões do castelo se abrem com um rangido grave. Entro com o queixo erguido, mesmo cansada.
Meu pai está à minha espera — e, ao lado dele, como uma sombra constante, está Ártemis.
— Olá, papai. Precisa de alguma coisa? — pergunto, tentando parecer casual.
— Só vim avisar que, a partir de hoje, você não treinará mais nos campos — ele diz, a voz rígida como ferro frio.
— O quê? Mas papai, você promet...
— Eu retiro minha palavra.
Você não é adequada para os campos de batalha. A partir de amanhã, cuidará de seus deveres como futura esposa.
Fico ali parada, com as palavras cravadas no peito.
Não digo nada. Não confio na minha voz.
Contenho as lágrimas. Sinto Ártemis me observando, como se esperasse minha reação.
Quando passo pelos corredores em direção aos meus aposentos, Ael — o mais novo — corre distraído e esbarra em mim.
— Ei, cuidado, meu bem. — murmuro, com um sorriso cansado.
Ele ri, sem nem olhar pra trás, e continua correndo, os passos ecoando pelas pedras.
É quando percebo algo no chão.
Um pedaço de papel.
Curvo-me para pegá-lo, sem pensar muito. Mas ao desdobrá-lo, minhas mãos congelam.
A caligrafia.
Refinada. Cuidadosa.
Mas eu conheço cada traço.
Leio as primeiras linhas, e meu estômago se revira.
> “Lord Emris,
Escrevo como uma amiga da família...”
A pressão em meu peito aumenta a cada palavra.
Meu nome.
Kieiran.
"Proximidade indevida."
"Desonra."
Meus dedos tremem.
O mundo parece girar por um instante.
Ael deve ter encontrado isso no lugar errado. Nos aposentos errados.
E eu sei exatamente de onde esse papel veio.
Ártemis.
O silêncio, às vezes, dói mais que qualquer grito.
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Atualizado até capítulo 20
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