Ele a deitou com delicadeza sobre os lençóis macios, como se o corpo dela fosse sagrado.
E era.
O orgasmo ainda reverberava, mas ela estava mole, tremendo, não de dor — mas de intensidade. O coração acelerado, a pele hipersensível, os músculos frágeis como se tivessem se dissolvido por dentro.
Ele a cobriu com um cobertor de algodão leve, morno, e apagou a luz mais forte. Ficaram apenas as velas, lançando sombras suaves nas paredes. O ambiente mudara — do vermelho do domínio para o âmbar do acolhimento.
Sem dizer nada, ele trouxe uma toalha úmida morna, e começou a limpá-la com gestos pequenos, meticulosos. Primeiro entre as pernas, onde os resíduos do lubrificante e do suor ainda estavam presentes. Depois, os seios, os braços, o pescoço. Ela não precisava se mover. Ele fazia tudo.
Depois, massageou óleo de camomila e lavanda nas marcas vermelhas das coxas, com movimentos suaves, quase como quem pede desculpas através do toque. Os dedos dele sabiam o que estavam fazendo: não era mais um jogo, era cuidado. Ela sentiu que, mesmo vendada, podia confiar.
Ele soltou a venda com cuidado, e seus olhos piscaram ao ver a luz suave. Ela o encarou, e não disse nada. Mas o olhar dizia: obrigada por me guiar até o limite… e me buscar de volta com ternura.
Ele a puxou contra o peito, a cabeça dela no seu ombro, e a envolveu com os braços como se ela coubesse perfeitamente ali.
— Eu estou aqui. Te vejo. Inteira. Forte. Sublime.
O corpo dela ainda tremia, mas agora era de alívio.
Um choro baixo escapou, sem tristeza.
Era catarse. Era liberação. Era entrega honrada.
Ele a beijou no alto da testa e murmurou:
— Você me deu algo precioso. E eu prometo: sempre vou cuidar do que é meu.
E assim ficaram. Pele na pele. Respiração sincronizada. O domínio e a dor haviam ficado no outro lado da sessão. Agora só existia o calor. O toque. E o silêncio seguro de quem ama através da presença.
Quando acordou na manhã seguinte, ela já estava sozinha. A pele carregava marcas leves: vermelhidão nas costas, pressão onde as presilhas haviam estado, uma sensação interna de presença mesmo sem o plug. Era como se seu corpo tivesse sido redesenhado de dentro para fora.
Mas o que mais a assustava… era o silêncio dentro da própria mente. Não havia grito de revolta. Não havia repulsa.
Só uma pergunta: Por que isso me fez sentir viva?
No criado-mudo, uma jarra de água, toalhas novas e um envelope preto repousando sobre uma bandeja de prata.
Ayla sentou-se devagar, cobrindo-se instintivamente com o lençol. Com mãos trêmulas, pegou o envelope.
No centro, em letras prateadas, apenas uma palavra: CONTRATO
CONTRATO DE SUBMISSÃO TEMPORÁRIA
Prazo de Vigência: 6 meses
Dominador: D.
Submissa: Ayla (designada)
CLÁUSULA 1 – TERMOS GERAIS
Este contrato estabelece um acordo consensual de natureza íntima, psicológica e disciplinar entre Dominador e Submissa. O objetivo é a entrega progressiva, o despertar da submissão plena e o desenvolvimento emocional por meio de práticas sadomasoquistas e jogos de poder dentro dos limites do BDSM.
CLÁUSULA 2 – SEGURANÇA E GARANTIAS
2.1. Segurança Física
A submissa será monitorada periodicamente por equipe médica privada, com livre acesso a atendimentos sempre que necessário.
Nenhuma prática poderá gerar ferimentos permanentes, fraturas, cortes ou risco de vida.
Equipamentos utilizados deverão estar esterilizados e em perfeito estado.
2.2. Segurança Psicológica
A submissa terá sessões mensais com terapeuta licenciado, com sigilo absoluto.
Caso demonstre sinais de trauma, o contrato será suspenso até avaliação.
Palavras de segurança são inegociáveis e respeitadas com interrupção imediata da prática.
2.3. Segurança Financeira
Durante o período de contrato, todas as despesas da submissa estarão sob responsabilidade do Dominador: moradia, alimentação, vestuário, saúde e higiene.
Ao final do contrato, a submissa receberá um valor financeiro pré-determinado (cláusula confidencial) como compensação de tempo, além de acesso a estudos ou requalificação profissional, caso deseje.
Nenhum valor poderá ser descontado sem motivo formal e por escrito.
CLÁUSULA 3 – LIMITES E PALAVRAS DE SEGURANÇA
Palavras de segurança:
Verde: continuar.
Amarelo: desacelerar.
Vermelho: parar completamente.
Limites Absolutos (nunca praticáveis): mutilação, queimaduras, fezes, sangue, práticas ilegais ou exposição pública não consentida.
Limites Relativos (explorados com cautela): humilhação verbal, privação sensorial, bondage prolongado, treinamento comportamental.
CLÁUSULA 4 – OBRIGAÇÕES DA SUBMISSA
1. Será submissa 7/24, Cumprir pontualmente horários e ordens determinadas dentro das sessões.
2. Estar emocional e fisicamente disponível durante os encontros.
3. Apresentar-se com a aparência solicitada (roupas, postura, asseio).
4. Respeitar o silêncio e a hierarquia designada.
5. Comunicar ao Dominador qualquer desconforto ou dúvida após sessões.
CLÁUSULA 5 – OBRIGAÇÕES DO DOMINADOR
1. Garantir o bem-estar físico, emocional e financeiro da submissa.
2. Cumprir limites acordados e supervisionar práticas com vigilância constante.
3. Oferecer cuidados pós-sessão (aftercare) físicos e emocionais.
4. Desenvolver gradualmente a entrega da submissa, sem pressa ou coação.
5. Garantir que tudo ocorra com propósito transformador, e não destrutivo
CLÁUSULA 6 – PRÁTICAS, GOSTOS E BRINQUEDOS PREFERIDOS
> A submissa deverá estar ciente de que estas práticas representam os desejos pessoais do Dominador e serão aplicadas conforme o nível de entrega e desenvolvimento da submissão.
Brinquedos e acessórios:
Floggers e chicotes leves (uso em costas, coxas).
Plug anal (treinamento, sessões de contenção).
Vibradores clitorianos e internos (controle por app ou controle remoto).
Presilhas com corrente (uso em mamilos, genitais).
Dildos e dilatadores vaginais/anais.
Máscaras de privação sensorial (venda, mordaça, abafadores de som).
Ropes (shibari simples, bondage).
Colar de submissão (uso simbólico em sessões).
Bancos de spanking e mobiliário específico.
Ganchos de suspensão (com limites de tempo e suporte físico adequado).
Práticas psicológicas e físicas:
Controle de orgasmo e abstinência programada.
Punições por rebeldia (negação, imobilização, jogos mentais).
Sessões de dominação verbal, obediência cega e instrução erótica.
Leitura em voz alta de confissões íntimas.
Chamadas noturnas para reforço de posse (uso de título: “Senhor”).
CLÁUSULA 7 – PENALIDADES E RESCISÃO.
Caso a submissa viole os termos, será advertida formalmente.
Três advertências resultam em revisão do contrato e possível afastamento.
O Dominador pode encerrar o contrato caso sinta quebra de confiança.
A submissa pode solicitar término com aviso prévio de sete dias e análise emocional.
CLÁUSULA 8 – FINALIDADES
Ao fim do contrato, ambas as partes terão liberdade para:
Renovar por período estendido com novos termos.
Encerrarem a relação com suporte emocional mútuo.
Firmar compromisso exclusivo, se assim desejarem.
DATA DE INÍCIO: ________
DATA DE TÉRMINO: ________
ASSINATURAS:
Ayla
---
D.
A ponta dos dedos de Ayla tremia enquanto repousava sobre o papel. As palavras do contrato ainda dançavam diante de seus olhos — cada cláusula, um peso; cada linha, um laço invisível que parecia apertar-se ao redor do pescoço dela.
Ela se sentia marcada. Mesmo nua de joias, roupas ou coleiras, era como se o toque dele ainda estivesse preso à sua pele.
Havia um gosto estranho na boca. Não era medo, não exatamente. Era algo mais denso. Como se tudo dentro dela estivesse em guerra: a parte ferida que gritava para fugir… e a parte silenciosa que, envergonhadamente, queria ficar.
Queria entender por que tinha gozado sob comando. Por que tinha se arrepiado ao ouvir a própria respiração acelerando entre ordens.
Por que, mesmo depois, sentia falta das mãos dele no controle.
Ela pegou o contrato de novo, agora com os olhos mais firmes.
“Garantia de segurança emocional.”
“Desenvolvimento da submissão.”
“Cuidados pós-sessão.”
Não era amor. Não era carinho. Mas havia estrutura. Regras. Coisa que o mundo dela nunca ofereceu.
Será que é isso que ele quer de verdade? Me moldar? Me quebrar e remontar como uma estátua feita por desejo?
O nome dele, ainda oculto no papel, era quase um sussurro na mente dela.
D.
Ela sabia. Desde o momento em que ele a olhou pela primeira vez — não como vítima, mas como algo que ainda poderia ser lapidado.
Ela leu pela última vez.
Se assinasse, deixaria de ser apenas uma peça no bordel. Passaria a ser propriedade de alguém. Dele.
Mas não como antes, quando foi vendida e jogada nas mãos de homens que a viam como objeto descartável.
Dante não queria descartar. Ele queria possuir.
E isso… era perigosamente mais íntimo.
O silêncio do quarto parecia vibrar.
Ela esticou o braço.
Pegou a caneta.
Segurou firme.
E então — com a mão ainda trêmula, mas com os olhos fixos na linha pontilhada — assinou.
Um traço firme. Definitivo.
Ao terminar, pousou a caneta sobre o papel e respirou fundo. Foi quando percebeu: o peito ardia. O coração batia alto, como se tivesse cometido algo proibido.
Mas não sentia arrependimento.
Ela sentia… liberdade camuflada de prisão.
A porta se abriu logo depois, silenciosamente.
Não era preciso que ele falasse.
Ela já sabia: Agora, ela era dele. Por contrato. Por escolha. Por desejo.
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Atualizado até capítulo 29
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