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Jensen a observava desde sempre. Sabia cada mania de Zara — o estalar dos dedos quando confusa, os três piscares rápidos quando tentava organizar os pensamentos. Seu dom raro lhe permitia ouvir não apenas a mente, mas a alma das pessoas. E ainda assim, algo em Zara permanecia indecifrável.
Apesar de querer usá-la como peça final em sua vingança, Jensen não conseguia negar o fascínio que sentia. Era algo além do controle, uma mistura de obsessão e desejo que crescia a cada dia.
— Pena você ser a última do seu clã. Usaria outro para minha vingança... e talvez pudesse tê-la só para mim — murmurou Jensen, a voz rouca como um sussurro carregado de veneno, rente ao ouvido de Zara.
Ela o viu. E congelou.
Um homem alto, cabelos castanhos e olhos de um laranja vívido, envolto numa capa da mesma cor flamejante. Seu olhar cortava como lâmina, mas por mais que tentasse, não conseguia atravessar Zara. Ela era um enigma, e isso o enlouquecia.
Então, ele desapareceu, como se nunca tivesse estado ali. E o medo se infiltrou em Zara como uma corrente fria. Ou ela matava o vampiro... ou eles a drenariam até o último suspiro.
— O que acabou de acontecer...? — murmurou, ofegante, levantando-se num pulo. O vestido branco e curto marcava suas curvas, e os seios apertados demais contra o tecido a faziam se sentir vulnerável.
— E ainda tenho que dormir com esse pijama maldito... — resmungou, irritada.
Desceu as escadas em silêncio, rezando para que Vlad estivesse longe. Ao tentar o portão, ouviu o estalo libertador da tranca. Estava aberto.
— Não posso desperdiçar isso agora... — sussurrou para si mesma, os olhos atentos.
~ Não recue, Zara... seja mais do que eles pensam.
Correu. O vento chicoteava seu rosto, galhos secos agarravam seus cabelos, o cheiro de morte pairava no ar. Cada passo era um grito desesperado de liberdade.
Tombou no chão molhado, mas não parou. Sangue no joelho, coração disparado. A floresta parecia viva, vigiando. E então... a sombra. Veloz demais. Um vulto.
Jensen.
Ele caiu sobre ela como uma fera.
— Pra onde pensa que vai, garotinha? — rosnou. — Eu não ia buscá-la agora, mas já que se ofereceu...
Sorria com os olhos cravados nela, como se pudesse despedaçá-la com o olhar.
Zara sentia. O cheiro dele. A pressão do corpo. E, pior, os olhos dele nos seus seios, expostos pela queda. Estava vulnerável. O medo a paralisava, mas a raiva também queimava.
— Que belo corpo você tem... é quase uma pena o que vai acontecer — disse Jensen, saindo de cima dela devagar, com um sorriso predador.
Zara rangeu os dentes e gritou, cheia de fúria:
— Seu maldito! Tarado nojento!
— Ei, foi inevitável... — disse ele, com fingida leveza, se aproximando por trás. — Mas não se preocupe, o que eu realmente quero é...
Seu sussurro gelado roçou a nuca dela:
— ...o seu sangue e a sua alma. Assim, poderei trazê-lo de volta.
Um impacto. Vlad surgiu das sombras, empurrando Jensen contra uma árvore. A luta irrompeu em segundos. Zara, sem pensar duas vezes, correu.
— Por que está fazendo isso, Jensen? — rugiu Vlad, desviando de um golpe.
— Eles mataram todos! E você me abandonou! — Jensen gritou, acertando o estômago do irmão com força.
— Eu não escolhi lado nenhum... só quero paz. Nunca te deixei. — A voz de Vlad tremia entre a dor e a lembrança.
Mas a mágoa de Jensen escorria dos olhos, junto com uma lágrima solitária. E então, ele desapareceu.
— Merda... a garota — Vlad praguejou.
Com um único salto, a encontrou. Ela tentava atravessar uma colina, ofegante. Ele a agarrou por trás, tapando-lhe a boca, e retornou com ela ao castelo.
— O que você quer de mim?! — berrou Zara, se afastando dele assim que a soltou.
— Quero você. Só pra mim. — respondeu Vlad, com um sorriso lento e estranho, antes de deixá-la sozinha na sala.
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[Carta deixada no quarto de Zara, por Vlad]
> “Use um vestido em cada dia.”
Ao lado, estavam três vestidos: um vinho que acentuava sua cintura fina, um azul profundo que destacava seu cabelo e o favorito de Vlad — um vestido preto longo com capa, dramático e encantador. Um pijama novo também a aguardava.
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Zara Garland
— Tá bom, vampiro esquisito... até que tem bom gosto. — murmurou, vestindo o vinho.
Desceu as escadas e parou, surpresa. Uma mesa repleta de comida... e flores. Mas tudo parecia colocado às pressas, como se ele não soubesse o que estava fazendo.
— O que é isso? Você basicamente jogou tudo na mesa! — exclamou.
— O quê...? — Vlad ficou imóvel. Corou. Um vampiro... corando?
— Senta aí, antes que eu desista de comer. — Zara se sentou também, disfarçando a curiosidade.
Ele tomou sua bolsa de sangue, se sujando todo. Zara bufou.
— Você não é nem um pouco elegante, né? — disse, aproximando-se. Com um guardanapo, limpou o canto da boca dele, num gesto involuntário.
— Ah... obrigado. — murmurou Vlad, atordoado.
E mesmo sem palavras, os olhares se tocaram — e disseram mais do que a boca jamais conseguiria.
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Atualizado até capítulo 63
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