A porta da sala de reuniões se abriu diante de mim. Ajeitei o paletó do meu terno escuro com um gesto automático, puxando a manga da camisa branca até o punho ficar perfeitamente alinhado, e entrei no salão com passos lentos, firmes. O som dos meus sapatos ecoou discretamente no piso de mármore claro, e todos os olhares presentes se voltaram para mim quase de imediato.
Era assim sempre. Em qualquer ambiente que eu entrasse, havia um reconhecimento tácito. Era o respeito que se conquistava com esforço, suor e decisões frias. O respeito que eu construí, no trabalho que ela disse que eu nunca conseguiria.
Percorri a sala com um olhar atento, cumprimentando com um leve aceno os diretores e investidores que já me aguardavam. Meu rosto mantinha a máscara impassível que se tornou minha segunda pele. Não deixava espaço para sorrisos desnecessários. Não havia calor na minha postura.
Foi então que a vi.
Sentada próxima à extremidade da mesa, o corpo rígido numa tentativa desesperada de se manter calma. O vestido florido que ela usava destoava de tudo naquele salão — das gravatas escuras, dos ternos engomados, da atmosfera pesada de dinheiro e poder. E ainda assim, ela era o que mais prendia a atenção.
O choque foi instantâneo, cruel, traiçoeiro.
Meu peito se apertou sem que eu pudesse evitar.
Nossos olhos se encontraram. E naquele único segundo, todos os anos que nos separaram desabaram entre nós.
Ela piscou, surpresa, como se não conseguisse acreditar no que via. E eu desviei o olhar antes que qualquer fraqueza pudesse me trair.
Sentei-me na cabeceira da mesa, ajustando a cadeira com calma, sentindo cada fibra do meu corpo gritar para levantar e fazer alguma coisa. Qualquer coisa. Mas me mantive imóvel. Frio.
A sala se acomodou novamente no mesmo silêncio respeitoso de antes.
Olhei diretamente para ela, como se fosse apenas mais um nome na folha de contratados.
— Podemos começar, — declarei, minha voz ecoando fria.
Apontei com a cabeça para a projeção preparada na parede.
Helen ergueu o rosto. Seus olhos vacilaram por um instante, mas ela rapidamente se levantou, agarrando a pasta como se fosse uma armadura. Vi suas mãos trêmulas, mas ela manteve o queixo erguido.
— Senhorita Dupont, por favor, apresente seu trabalho. Gostaria que explicasse o conceito de cada peça desenvolvida, — pedi, com a mesma naturalidade que usaria para pedir um relatório financeiro.
Ela assentiu, caminhando com passos firmes até a frente da sala, embora eu soubesse que cada movimento custava caro. Eu a conhecia melhor do que qualquer um ali. Eu sabia que, por dentro, ela tremia.
Helen abriu a pasta e retirou os desenhos, posicionando-os sob o projetor. A luz realçou cada linha, cada curva, cada escolha de design que ela havia feito.
— O primeiro modelo — começou, sua voz suave, mas controlada — foi criado em ouro branco. O conceito é a força. Linhas geométricas entrelaçadas representam uma base sólida, uma construção firme que não se quebra facilmente, mesmo sob pressão.
Seus olhos percorriam a sala, mas evitavam os meus com cuidado.
Eu a observava sem desviar, mas sem deixar transparecer nada.
A segunda imagem foi projetada.
— O segundo modelo é em ouro rosé. As pedras pequenas, distribuídas em forma de gotas ao redor da aliança, simbolizam memórias, momentos marcantes. Cada diamante representa um instante, uma vitória conquistada a dois.
Havia uma emoção crua na voz dela, um tremor quase imperceptível, que ela tentava disfarçar com técnica.
Passei os olhos pelo desenho, mas na verdade, observava apenas ela.
O modo como os dedos dela roçavam os papéis. O jeito como a respiração dela vacilava quando falava de amor.
A terceira peça surgiu na tela.
— A terceira é feita em platina pura. Uma aliança sem adornos, polida, simples. Representa a eternidade. A pureza de um compromisso que não precisa de mais nada além da própria verdade para existir.
Ela deu um passo para trás, permitindo que todos na sala contemplassem os três modelos juntos.
Força.
Amor.
Eternidade.
Senti a mandíbula se apertar, controlando o impulso de bater na mesa.
Porque aquelas alianças... aquelas malditas alianças eram a nossa história.
Era aquilo que ela destruiu.
E agora ela entregava tudo embalado em platina e ouro, sem sequer saber para quem desenhava.
O silêncio tomou conta do ambiente.
Por longos segundos, ninguém falou. Nem mesmo eu.
Mantive minha expressão fria, a postura impecável.
— Alguma pergunta? — perguntei, num tom seco, quase entediante.
Alguns executivos balançaram a cabeça, outros fizeram anotações breves.
Helen continuava parada na frente da sala, o rosto neutro, mas eu via o brilho nos olhos dela. Uma mistura de orgulho e felicidade, por ninguém falar mal de seus projetos.
— Senhorita Dupont, — minha voz saiu gélida — antes de criar algo tão simbólico como alianças baseadas em força, amor e eternidade, talvez fosse prudente refletir se a própria vida da pessoa representa, minimamente, algum desses conceitos.
O rosto dela empalideceu.
Vi seu queixo endurecer, vi os dedos dela apertarem a pasta com força.
Eu continuei, implacável.
— Porque é fácil desenhar palavras bonitas no papel, senhorita Dupont. É muito mais difícil sustentá-las na prática. Não acha?
Olhei para os desenhos projetados, e mesmo sabendo que eram excelentes, desprezei-os publicamente.
— Eu ...
Ela tentou falar, mas eu a interrompi.
— Quanto aos seus modelos, eu aprecio o esforço... mas não pretendo colocar essas porcarias no dedo da mulher que amo. — disse num tom carregado de frieza.
Os diretores trocaram olhares constrangidos. Alguns abaixaram os olhos para suas anotações. Outros simplesmente se imobilizaram, sem saber como reagir.
Helen permaneceu imóvel, como uma estátua de porcelana rachando por dentro.
Inclinei-me para frente, apoiando os cotovelos na mesa.
— Refará tudo. Quero três novos projetos. Sem filosofias baratas, sem discursos vazios. Algo digno do nome Moreau’s Jewels. Algo digno da minha noiva.
Ela não respondeu. Não questionou.
Apenas assentiu com um movimento mínimo da cabeça, lutando para manter a compostura.
— Pode se retirar, e ir para sua sala — finalizei, indiferente. — Terá três dias para me mostrar os novos projetos em minha sala, três dias.
— Sim!
— A reunião está encerrada — avisei-os, e todos foram saindo.
Helen fechou a pasta devagar, como se cada movimento doesse, e saiu da sala sem olhar para trás.
Esperei até ouvir a porta se fechar.
Agarrei a caneta sobre a mesa com força, sem levantar a cabeça.
Força, amor, eternidade.
Palavras que, vindas dela, soavam como um insulto. Palavras que um dia foram nossas e que ela jogou fora como se fossem lixo.
Respirei fundo, controlando a raiva silenciosa que queimava sob a pele.
Ela estava de volta na minha vida.
Mas desta vez, era no meu mundo.
Sob as minhas regras.
E Helen aprenderia, da maneira mais dolorosa possível, que algumas cicatrizes não se curam. Elas se tornam armas. E eu ainda sabia exatamente onde atingir para fazê-la sangrar.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Ana Beatriz Jacinto
tadinha vai sofrer na mão dele
2025-06-07
5
Tânia Campos
Mesmo que ela não teve culpa,
Mereceu,
Mas, mostrou o quanto ele ainda está ferido!!!
2025-06-10
2
Meire
Ah Helen sabe pq ele não vai dar essas alianças para a noiva?
Pq ele vai mandar confecciona--las para a mulher que ele realmente ama, vai te fazer sofrer um pouco, mas aguente firme que no final ele vai juntar os três modelos em um e vai mandar fazer pra VOCÊ! ❤
2025-06-14
1