O restaurante escolhido por Isadora era um dos mais sofisticados de Manhattan.
Uma sala reservada no último andar, com paredes de vidro que permitiam ver toda a cidade iluminada como um tapete de estrelas. A música ambiente era baixa, elegante, o tipo de trilha sonora que não perturbava, mas marca presença.
Garçons em trajes impecáveis deslizavam de mesa em mesa, servindo vinhos caros e pratos de nomes tão refinados que até soavam ridículos para quem sabia o que era passar fome.
Sentei-me à mesa pontualmente às oito, como combinado.
Meu terno sob medida parecia fazer parte de mim agora. O relógio de ouro discreto no pulso brilhava sob a luz suave do salão. Tudo em mim gritava poder e controle.
Vi Isadora entrando.
Ela estava linda. Vestia um vestido preto longo que se moldava perfeitamente ao corpo esguio. Cabelos presos em um coque elegante, maquiagem sutil que realçava a beleza natural.
Ela caminhou até mim com a graça de quem sempre soube pertencer a lugares assim.
Sorri, o sorriso treinado que eu sabia dar nessas ocasiões, e me levantei para beijar sua bochecha.
— Está deslumbrante — disse, puxando a cadeira para ela.
— E você, como sempre, irresistível — respondeu Isadora, piscando de forma encantadora. — Um namorado perfeito.
Sentamo-nos. Um garçom se aproximou para anotar os pedidos, e logo tínhamos duas taças de vinho tinto diante de nós.
Isadora era boa companhia. Conversava com inteligência, sabia os assuntos certos, fazia as perguntas corretas. Falou sobre a nova galeria de arte que estava ajudando a inaugurar, sobre a viagem que planejava para o sul da França no verão, sobre amigos em comum do círculo social que agora fazíamos parte.
Eu a ouvia, participava da conversa, mas parte de mim parecia sempre distante.
Era estranho.
Ela tinha tudo o que qualquer homem desejaria. Beleza, educação, ambição. Era o tipo de mulher que eu precisava ao meu lado. A parceira perfeita para eventos, para construir uma imagem impecável. Mas não tocava a parte de mim que, secretamente, permanecia intocada.
Brindei com ela quando o vinho chegou, e sorri para suas histórias engraçadas, seus comentários afiados sobre o mundo das aparências.
O jantar chegou.
Pedi um filé alto, malpassado, o mesmo de sempre. Isadora optou por uma massa artesanal com frutos do mar.
A conversa continuou fluindo naturalmente.
Ela comentou sobre nosso casamento.
— Estive pensando — disse, girando a taça de vinho entre os dedos finos —, talvez em nosso casamento, pudéssemos fazer algo mais discreto. Nada muito chamativo. Apenas algo elegante, para amigos e familiares próximos. O que acha? Falei com sua mãe essa manhã, e ela concordou, ela disse que nos apoia em tudo, você sabe, ela me adora.
A palavra "casamento" pareceu ecoar dentro da minha cabeça, como um sino distante.
Assenti com calma.
— Me parece perfeito.
Mentira.
Nada parecia perfeito.
Nada parecia certo.
Mas o que mais havia para fazer?
Eu não era mais um homem para correr atrás de sonhos tolos. O mundo real exigia decisões práticas. Um casamento com Isadora consolidaria ainda mais minha posição. Seríamos o casal perfeito nos olhos da sociedade.
Ela sorriu satisfeita com minha resposta e esticou a mão sobre a mesa, tocando a minha. O toque era cálido, macio. Eu o aceitei.
Durante o jantar, por um breve momento, me peguei pensando em Helen.
Me perguntei se ela já tinha se casado com aquele cara, que ela havia ido embora. Se ele segurava a mão dela em noites como essa, se ela sorria para ele como sorria para mim, quando ainda acreditávamos que o amor podia ser suficiente.
Afasto esses pensamentos como se fossem mosquitos irritantes.
Helen era passado.
Isadora era o presente.
E o futuro? Bem... o futuro seria construído com escolhas conscientes, não com impulsos.
Enquanto cortava meu filé, ouvi Isadora comentando sobre o anel de noivado.
— Estive pensando também sobre o anel — disse ela, casualmente. — Sei que você tem toda uma rede de designers maravilhosos na Moreau’s. Talvez devêssemos pedir que criassem algo único para nós.
Sorri de leve.
— Já está providenciado.
E estava.
Helen estava desenhando os modelos naquele exato momento, sem ter a menor ideia para quem eram. A ironia disso era quase poética. O mesmo amor que ela desprezou... agora seria celebrado em alianças criadas pelas próprias mãos dela. Meu estômago revirou discretamente com o pensamento, mas mantive a expressão inalterada.
— Nossa amor, você é maravilhoso. Pensa em tudo e resolve com rapidez. — disse ela, com um sorriso tranquilo.
— Sempre!
A sobremesa foi servida.
Isadora escolheu um crème brûlée, eu preferi apenas um café forte.
Conversamos mais um pouco sobre viagens, sobre os negócios, sobre a recepção que planejaríamos. Cada palavra, cada sorriso, cada gesto... tudo tão impecável que parecia ensaiado.
Quando terminamos, paguei a conta e depois levantei-me para puxar a cadeira dela. Acompanhei-a até o elevador particular que nos levaria ao saguão.
No caminho, ela entrelaçou seu braço no meu.
— Estou feliz — sussurrou. — Muito feliz. E sei que faremos grandes coisas juntos.
Olhei para ela.
Tão segura.
Tão certa de nós.
Destribui um beijo leve em sua testa.
— Também estou, Isadora — minto.
E uma parte de mim queria acreditar nisso, de verdade.
Entramos no carro que nos aguardava.
Durante o trajeto, Isadora recostou a cabeça no meu ombro e adormeceu suavemente.
Fiquei olhando pela janela.
As luzes da cidade passavam depressa, como borrões dourados. Pensei em tudo que havia conquistado. Pensei no homem ajoelhado com uma caixinha de alianças nas mãos. Pensei no homem frio que eu havia me tornado.
Quando chegamos, ajudei Isadora a sair do carro, acompanhei-a até a porta de seu prédio, e me despedi com um beijo breve na bochecha. Estamos juntos há um ano, e em nenhum momento tive coragem de tocá-la intimamente.
— Te ligo amanhã — prometi.
Ela sorriu, meio sonolenta.
— Vou esperar. Boa noite! — entrou.
Fiquei parado por um momento, encarando a porta fechada.
Depois me virei e entrei novamente no carro.
— Para casa, senhor Moreau? — perguntou o motorista.
— Para casa — confirmei.
O carro arrancou, silencioso.
Encostei a cabeça no banco de couro e fechei os olhos.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Maria Sena
O pior disso tudo é que ele vai pisar muito nele antes de saber a verdade. Acho que quando a Helen descobrir que ele tá noivo, aí mesmo que ela não vai ter coragem de contar. Talvez depois se ele tiver interesse, mande investigar ele vai saber da verdade, mas, até lá ela já sofreu horrores. Coitada.
2025-06-10
3
Adriane Alvarenga
Oxi....ambos vão sofrer e muito....ele querendo vingança, mesmo gostando dela, ela ficará surpresa por ser o seu amor do passado e vai ser humilhada e terá que aceitar por precisar pagar as contas do tratamento da mãe....vai ser difícil....já estou tentando me preparar psicologicamente.....kkkkkk
2025-06-14
0
Rosana Silva Mariano
quero ver a reação dele quando ver Helen e saber da e história dela o porq o deixou ,falar de longe e fácil ,mas cara a cara,o negócio muda
2025-06-07
1