Capítulo 4

O som do despertador vibrou no meu ouvido e eu abri os olhos devagar, sentindo o coração acelerar com aquela expectativa boa que fazia tanto tempo que eu não sentia. Hoje é o dia. Meu primeiro passo para mudar minha história. Sentei-me na cama e fiquei ali alguns segundos, tentando organizar a mente que já fervilhava com mil pensamentos. Estava animada, ansiosa e, acima de tudo, determinada.

Levantei-me e fui direto para o banheiro, ligando o chuveiro enquanto bocejava. Deixei a água morna cair sobre o corpo.

Fiz minha higiene matinal com calma, deixando o cabelo secar naturalmente enquanto escovava os dentes e passava um creme leve no rosto. Escolhi um vestido florido, de tecido leve, com tons suaves de azul e rosa que sempre me faziam sentir mais viva. Nos pés, uma rasteirinha confortável que combinava perfeitamente com o dia quente que prometia. Coloquei brincos pequenos de argola dourada e um colar delicado que guardava como um tesouro — presente da minha mãe em uma época mais feliz.

Parei um instante diante do espelho. Soltei os cabelos, ajeitei algumas mechas e sorri de leve para meu reflexo. Era uma versão mais forte de mim mesma que me olhava de volta. Uma mulher que tinha sobrevivido a tempestades que poucos conheciam.

Na cozinha pequena, preparei um café preto forte e duas fatias de pão com requeijão. Comi rápido, o estômago apertado de ansiedade. Depois conferi mais uma vez se minha pasta com os desenhos estava completa. Estava. Três modelos de alianças para o casamento do CEO da empresa. Caprichei em cada traço como se desenhasse para mim mesma, como se aquelas alianças fossem para contar a minha história.

Peguei minha bolsa e a pasta, respirei fundo e desci as escadas do prédio. Do lado de fora, o sol ainda era tímido no céu azul. Chamei um táxi pelo aplicativo e, enquanto aguardava na calçada, o celular vibrou na minha mão. Sorri ao ver o nome que apareceu na tela.

Leon.

Atendi de imediato, sentindo a alegria dele atravessar a linha como um abraço.

— Bom dia, moça trabalhadora — ele disse, com aquele tom animado que sempre conseguia arrancar um sorriso meu.

— Bom dia, Leon — respondi, rindo. — Estou indo agora, para uma apresentação na empresa que me deu uma oportunidade.

— Conseguiu mesmo? — ele perguntou, e dava para ouvir a felicidade genuína na voz dele.

— Consegui. Na Moreau’s Jewels. Um projeto especial de design de alianças. Ainda estou tentando acreditar que é real.

— Eu sabia, Helen, sempre soube. Você merece isso. Merece muito mais — falou com tanta convicção que senti meus olhos marejarem. — Mas estou triste, por você não ter aceitado trabalhar comigo.

— Obrigada, Leon. De verdade. Você sempre esteve comigo, mesmo nos meus piores momentos. Mas você sabe porque eu não aceitei, não vamos falar nesse assunto agora.

— Sei, saiba que sempre estarei com você. Vai lá e arrasa, Hel. Quero todos os detalhes depois. — desligou.

Prometi que ligaria para contar tudo. O táxi encostou na calçada e eu me despedi, guardando o celular na bolsa e ajeitando a pasta no colo quando entrei no carro.

Durante o trajeto, olhei pela janela, observando a cidade acordar em ritmo frenético. Gente apressada cruzava as calçadas, buzinas ecoavam no ar, cafés enchiam as calçadas de cheiros convidativos. Nova York sempre foi assim, vibrante, pulsante, viva. E eu, pela primeira vez em muito tempo, sentia que pertencia a esse movimento. Que minha vida finalmente começava a sair do lugar.

Apertei a pasta contra o peito, sentindo o nervosismo crescer. Queria fazer tudo perfeito. Mostrar que eu era capaz. Mostrar que eu merecia aquela chance.

O táxi parou em frente ao prédio da Moreau’s Jewels. Paguei a corrida, desci do carro e olhei para o alto. O edifício parecia tocar o céu. Uma estrutura de vidro e aço tão imponente que me fez engolir em seco por um segundo. Mas eu endireitei os ombros, respirei fundo e segui em direção às portas giratórias.

O segurança sorriu para mim de maneira educada enquanto abria a porta.

— Bom dia, senhorita.

— Bom dia — respondi, sentindo o coração bater forte.

O saguão era enorme, revestido em mármore branco e dourado, com lustres de cristal pendendo do teto e recepcionistas elegantemente postadas atrás de balcões imponentes. Tudo cheirava a poder, sucesso e exclusividade.

Caminhei até a recepção, tentando manter a compostura.

— Meu nome é Helen Dupont. Estou aqui para o projeto especial de design de alianças — informei, sorrindo com mais confiança do que realmente sentia.

A recepcionista, uma mulher de sorriso profissional e movimentos precisos, conferiu algo no computador antes de me entregar um crachá temporário.

— Suba até o décimo oitavo andar, senhorita Dupont. A senhorita Clara a receberá.

Agradeci e segui até os elevadores, apertando o botão com a mão que tremia levemente. O elevador chegou e entrei junto com outras poucas pessoas que pareciam tão apressadas quanto elegantes. O espelho dourado do elevador refletiu minha imagem.

Quando as portas se abriram no décimo oitavo andar, saí e fui recebida por Clara, uma mulher elegante e extremamente eficiente.

— Bom dia, senhorita Dupont. Seja bem-vinda — disse ela com um sorriso contido. — Espero que esteja pronta. Seu trabalho será muito importante para nós.

— Estou sim, obrigada pela oportunidade — respondi, tentando manter a calma.

— Me acompanhe, por favor!

Clara me conduziu por um corredor amplo, com paredes de vidro e quadros modernos pendurados em molduras minimalistas. Cada detalhe daquele andar transpirava elegância e eficiência.

Entramos em uma pequena sala ao lado, onde uma mesa de madeira clara ocupava o centro e sobre ela haviam alguns papéis.

— Antes de começar, senhorita Dupont, será necessário assinar o contrato de prestação de serviços — explicou Clara com a voz firme e gentil. — É um procedimento padrão da empresa. Formalizamos a sua participação no projeto e garantimos sua colaboração por tempo indeterminado, caso ambas as partes estejam satisfeitas com o desempenho.

Assenti, caminhando até a mesa. Peguei o contrato e li com atenção.

O documento era claro. Eu prestaria meus serviços como designer de joias para a Moreau's Jewels, contribuindo com criações exclusivas, sob cláusula de confidencialidade absoluta. Em caso de quebra de contrato, seja por descumprimento de prazos, vazamento de informações ou abandono do projeto, uma multa rescisória no valor de $50.000 dólares seria aplicada.

Cinquenta mil dólares?

Era mais dinheiro do que eu tinha visto junto em toda minha vida.

Por um instante, pensei. Mas então olhei para a pasta que carregava meus desenhos.

Lembrei da minha mãe, da luta dela, da luta que era minha também, e assinei.

Meu nome deslizou no papel com a firmeza de quem já havia perdido demais para recuar agora.

Clara recolheu o contrato com um sorriso leve e me entregou uma cópia.

— Muito bem. Agora, por favor, venha comigo. A sala de reunião já está pronta.

Segui seus passos silenciosamente, sentindo o coração bater forte no peito. Paramos diante de uma grande porta dupla de madeira escura.

— Estão todos esperando — disse Clara, oferecendo um sorriso encorajador. — Menos o CEO, mas ele se juntará a nós em breve. Não se preocupe. Tudo o que você precisa fazer é apresentar seu talento. Você está aqui porque é boa no que faz.

Assenti, engolindo a ansiedade.

Clara empurrou uma das portas e fez um gesto para que eu entrasse.

A sala era ampla, iluminada pela luz natural que entrava através das janelas enormes. Uma longa mesa de reuniões dominava o espaço, rodeada por homens e mulheres de ternos escuros e expressões atentas. Executivos. Diretores. Pessoas que provavelmente tomavam decisões que mudavam vidas em uma canetada.

Respirei fundo e caminhei até a ponta da mesa onde uma cadeira me aguardava. Coloquei a pasta sobre a mesa, ajeitando-a com cuidado, e sentei-me, mantendo a postura ereta, mesmo com a vontade de desaparecer dentro do vestido florido que parecia tão deslocado naquele ambiente sério.

Alguns olhares se cruzaram. Alguns sorrisos foram breves, outros apenas formais. Era o tipo de recepção que se dá a quem ainda precisa provar seu valor.

Fiquei ali, esperando, enquanto eles conversavam entre si em voz baixa, folheando documentos, ajustando relógios, checando celulares.

Olhei para a porta, esperando pelo CEO que ainda não havia chegado. Esperando pela pessoa que, sem saber, tinha dado a maior oportunidade da minha vida, eu estava grata.

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Comments

Rosana Silva Mariano

Rosana Silva Mariano

tô com o coração na mão junto com Helen esperando o Daniel entrar nessa sala ☹️

2025-06-07

5

Maria Sena

Maria Sena

Aí meu Jesus Cristinho, tô numa ansiedade como se fosse eu a encarar o meu carrasco, porque é isso que o Daniel representara para Helen a partir de hoje.

2025-06-10

1

Vilma Teixeira Roquete

Vilma Teixeira Roquete

Estou até tremendo de ansiedade, e com muita dó do que elw possa fazer com ela....😬😬😬😬😬😬🙄🙄🙄🙄🙄

2025-06-16

0

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