– O Filho do Bastardo (Narrado por Gael)
Eu nunca quis isso.
Ou talvez… sempre tenha querido.
Desde pequeno, cresci ouvindo as histórias sobre o poderoso Adam Valmont. O homem perfeito. O herdeiro legítimo. O filho amado. Enquanto meu pai… Dirian… era apenas o bastardo. O erro. O homem que viveu e morreu consumido pela inveja.
Ele me contava as histórias com os olhos cheios de rancor. E eu cresci com aquele ódio tatuado na alma.
Adam Valmont tirou tudo do meu pai. O nome, o respeito… até a chance de ser feliz.
E quando ele morreu… sozinho, amargurado… jurei que, um dia, eu faria Adam pagar.
Por anos, esse foi meu norte.
Fiz faculdade, conquistei meu espaço, construí uma carreira discreta, mas sólida. Aproximei-me das conexões certas, estudei cada detalhe da família Valmont… e então soube que Isabella, a filha perfeita, estava de volta .
Ela seria a minha chave.
E no começo… foi só isso.
Me aproximei, flertei, causei o impacto que eu queria. Ela correspondeu. Claro que correspondeu. Mulheres como Isabella não resistem a um homem como eu — seguro, inteligente… perigoso.
Eu sei o efeito que causo.
Mas eu não contava com isso…
Com ela.
Isabella não é só bela, não é só parte do plano. Ela é diferente de tudo que eu já conheci.
É frágil e forte, doce e arisca… tem uma pureza que me desmonta, mas também uma garra que me desafia.
Ela não caiu na minha lábia como as outras… foi se entregando aos poucos, me testando, me desafiando, me encantando.
E agora… estou aqui, preso.
Ela me olha como se eu fosse bom. Como se fosse digno. Como se eu não carregasse nas veias o sangue de Diriam e toda a escuridão que isso representa.
E eu… quero acreditar nisso.
Mas não posso.
Não posso esquecer quem sou.
Não posso esquecer o que vim fazer.
O rosto de Adam me persegue. Aquele homem que, mesmo depois de anos, continua vivendo como se nada tivesse acontecido. O herdeiro perfeito, com a esposa perfeita, os filhos perfeitos…
Enquanto meu pai apodreceu na solidão.
Mas cada vez que olho para Isabella… tudo em mim se contorce.
O plano era simples: conquistá-la, fazê-la me amar, destruí-la… e então destruir Adam.
Mas agora… eu já não sei mais o que é plano e o que é verdade.
Quando ela sorri, meu coração falha.
Quando me toca, eu esqueço.
E quando se afasta… eu enlouqueço.
Droga.
Fecho os olhos, respirando fundo, tentando me lembrar de quem sou.
Mas, pela primeira vez, não sei responder.
Sou Gael D’Angelo… o filho do bastardo.
Ou sou apenas um homem… se apaixonando pela mulher errada?
---
Dois meses.
Sessenta dias passaram como um sopro e, ao mesmo tempo, como uma eternidade.
Nesse tempo, Isabella e eu vivemos como se o mundo fosse só nosso. Foram encontros escondidos nos cafés charmosos, passeios e jantares em restaurantes pequenos onde ela ria alto e fazia questão de provar o meu prato.
Ela foi se soltando, derrubando os muros, baixando a guarda… e eu?
Eu me perdi nela.
Passei a conhecê-la nos detalhes — o modo como morde o lábio inferior quando está pensativa, a maneira como passa os dedos pelos fios soltos do cabelo quando está nervosa, o jeito como seu olhar se ilumina quando fala de moda… sua paixão, sua vocação.
E nesses dois meses, cada vez que a segurava pela mão, sentia o peso do meu plano e o medo de que, no fim, eu não fosse capaz de seguir com ele.
Enquanto isso, Adam…
Ele nunca relaxou.
Sempre atento, sempre desconfiado, como um leão protegendo a cria. Cada vez que me encontrava, seu olhar perfurava minha alma como se pudesse enxergar o que eu escondia.
E, talvez, pudesse mesmo.
Percebi que ele começou a movimentar sua rede, discretamente. Reforçou a segurança de Isabella, fez perguntas demais… tentou afastá-la. Mas ela não deixou.
“Pai, eu estou bem”, dizia ela, com aquele tom decidido.
E eu… ficava cada vez mais dividido.
Mas naquela noite…
Naquela noite, eu soube que não podia mais esperar.
Preparei tudo. Convidei-a para um jantar especial . Ela chegou deslumbrante, com um vestido vermelho que acendia a pele clara e deixava seus olhos ainda mais intensos.
Quando sentamos, ela sorriu e perguntou:
— Por que esse lugar?
Eu respirei fundo, segurando sua mão sobre a mesa:
— Porque é o lugar mais bonito da cidade… e você merece o cenário mais bonito que eu pudesse encontrar.
Ela sorriu, tímida, corando como sempre fazia quando eu a surpreendia.
E então, enquanto o garçom trazia a sobremesa, eu me levantei, puxei uma pequena caixinha do bolso e me ajoelhei ao lado dela, sem me importar com os olhares em volta.
— Isabella Valmont… — minha voz tremia, mas meu olhar era firme — nesses dois meses, você fez algo que eu achava impossível… me fez acreditar que eu posso ser mais do que o meu passado, que posso ser… feliz.
Ela levou a mão à boca, emocionada.
— Você quer…?
— Isabella… — abri a caixinha, revelando um anel simples, mas elegante — quer namorar comigo?
Por um segundo, o mundo parou. Só existia ela.
E então… ela se inclinou, segurou meu rosto entre as mãos e sussurrou:
— Sim… sim, Gael… é tudo o que eu quero…
Eu a abracei, girando-a no ar, rindo e sentindo que, naquele instante, a alegria transbordava… mesmo com o peso que eu ainda carregava escondido.
Ela me beijou, ali mesmo, enquanto Paris inteira parecia aplaudir.
E eu soube…
Eu soube que, de alguma forma, estava perdido.
Porque o que começou como vingança… agora era amor.
Mas… até quando eu poderia esconder isso dela?
Até quando conseguiria manter o passado trancado… sem que ele viesse à tona e destruísse tudo?
Fim do capítulo!
Gostou ?
curti e comenta
até a próxima tchauu
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Comments