– Como Se o Destino Guiasse
Nos dias seguintes, Isabella tentou convencer a si mesma de que aquele encontro com Gael fora só uma coincidência. Afinal, Paris não era tão pequena assim… certo?
Mas o destino parecia brincar com ela.
Naquela semana, saiu mais cedo da Maison Valli para buscar um café na sua boulangerie favorita. Enquanto esperava, sentiu aquele perfume masculino familiar se aproximar.
Virou-se, e lá estava ele.
— De novo… — Isabella soltou, arqueando uma sobrancelha.
Gael sorriu, pegando seu próprio café no balcão.
— Prometo que não foi intencional. Apenas gosto dos mesmos lugares que você, pelo visto.
Ela o analisou, desconfiada.
— Ou anda me seguindo…
Ele inclinou o rosto, como se a provocação o divertisse.
— Talvez o universo esteja conspirando para que você perceba que não dá para fugir de mim.
Isabella bufou, pegando sua bebida.
— Eu não fujo de ninguém, Gael. Apenas não gosto de perder o controle.
Ele a observou com aquele olhar que parecia despir sua alma.
— Então estamos iguais.
E, sem dizer mais nada, saiu da cafeteria, deixando Isabella atônita, de novo.
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Duas semanas depois, Isabella foi convidada para um evento beneficente ligado à moda. Estava conversando com alguns investidores, vestida em um elegante vestido preto minimalista, quando, no meio da multidão, seus olhos cruzaram com os dele.
Gael.
Ele se aproximou sem hesitar.
— Boa noite, mademoiselle Valmont — disse, pegando sua mão e dando um beijo formal.
— Você está em todos os lugares que eu vou, é isso? — Isabella perguntou, semi-sorrindo, mas com o coração disparado.
— Talvez seja só sorte — ele respondeu com naturalidade. — Ou… talvez seja destino.
Antes que ela respondesse, um dos organizadores chamou Isabella para uma foto. Ela se despediu rapidamente, tentando se manter concentrada no evento, mas com a sensação inquietante de que ele a observava de longe.
E estava.
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Nos dias que se seguiram, os encontros seguiram acontecendo: uma tarde no jardim de Luxemburgo, quando ela passeava com um livro; outra vez, quando ela saía de uma reunião e ele surgia na calçada oposta, acenando como se fosse tudo natural.
Cada aparição parecia orquestrada, mas ao mesmo tempo… casual demais.
Isabella começava a perceber que, mesmo que tentasse manter distância, algo maior — ou alguém — parecia não querer deixá-la escapar.
E, mais do que isso, dentro de si, lutava contra o fascínio crescente por aquele homem enigmático, que despertava nela desejo e medo em medidas iguais.
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Adam não acreditava em coincidências. Ao sair da reunião com investidores, decidiu passar em um dos seus restaurantes favoritos, em Paris, para um almoço rápido antes de voltar para casa. Estava absorto nos relatórios quando ouviu uma voz ao longe, familiar demais para ser ignorada.
Ergueu o olhar devagar.
Gael D’Angelo.
Sentado a poucas mesas de distância, conversava com alguém ao telefone, despreocupado, como se fosse apenas mais um homem vivendo a vida na cidade. Mas Adam conhecia aquele tipo de postura, aquele olhar sempre atento ao redor, como quem está pronto para agir a qualquer momento.
Não hesitou.
Levantou-se e caminhou com passos decididos até a mesa dele.
— Gael D’Angelo — chamou, frio e firme.
Gael ergueu os olhos, surpreso apenas por um segundo antes de sorrir com aquela serenidade perigosa.
— Sr. Valmont… Que honra.
Adam se inclinou levemente sobre a mesa, olhando-o nos olhos, sem espaço para cordialidades.
— Eu sei quem você é. E sei que está se aproximando da minha filha.
Gael cruzou os braços, como se aquilo fosse apenas mais uma parte do jogo.
— Sua filha é uma mulher inteligente e livre, sr. Valmont.
Adam soltou uma risada seca.
— Não brinque comigo. Eu vejo através das máscaras. E a sua… me lembra demais o que lutei a vida toda para me afastar.
Fez uma pausa, então falou mais baixo, mais ameaçador:
— Fique longe dela. O passado… não vai se repetir.
Gael manteve o sorriso, mas os olhos escureceram. Por dentro, aquela ameaça não o intimidava, apenas o fazia ter ainda mais certeza de que precisava acelerar o seu plano.
Adam, então, se endireitou e soltou a última advertência:
— Eu vou colocar seguranças na Isabella. E não vou medir esforços para proteger minha família.
Virou-se e saiu do restaurante sem olhar para trás, mas a rigidez dos ombros e o punho fechado denunciavam sua tensão.
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Horas depois, já em casa, Adam servia um copo de whisky na biblioteca, quando Leonor entrou e, ao vê-lo, percebeu de imediato o quanto ele estava estressado.
— O que aconteceu? — perguntou, se aproximando e acariciando seu braço.
Adam soltou o ar devagar, tentando se controlar.
— Vi o tal Gael D’Angelo hoje. Não gosto do olhar dele, da maneira como se aproxima da Isabella… — virou-se para encarar a esposa. — Há algo nele… que lembra demais o Diriam.
Leonor estremeceu ao ouvir o nome que tanto tentou esquecer.
— Você acha que… ele tem alguma ligação?
— Não tenho dúvidas — respondeu Adam, convicto. — E não vou permitir que ela seja ferida. Já pedi para reforçarem a segurança dela discretamente.
Leonor assentiu, confiando no instinto do marido, mas o olhar preocupado denunciava o medo que sentia.
Adam apertou sua mão.
— Não se preocupe. Eu não vou deixar que nossa filha pague pelos pecados do meu passado.
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Enquanto isso, do outro lado da cidade, Gael olhava para o horizonte pela janela do seu apartamento, o encontro com Adam ainda ecoando em sua mente.
"Ele sabe…", pensou, com um meio sorriso.
Mas ao invés de recuar, aquilo só fez com que a chama da vingança ardesse ainda mais forte.
Ele agora tinha certeza: Isabella seria a chave.
E, no fundo…, odiava o quanto aquela mulher estava mexendo com ele mais do que deveria.
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Nos dias que se seguiram, Isabella começou a notar pequenas coisas que a deixaram inquieta. Um homem parado no carro em frente ao prédio. Um segurança diferente na porta da empresa da família. Passos discretos seguindo quando ia fazer compras ou corria no parque.
Na terceira vez que notou, não aguentou mais.
Naquela noite, ao chegar em casa para jantar, encontrou Adam e Leonor na varanda, conversando tranquilamente. Aproximou-se, com o cenho franzido.
— Pai… podemos conversar?
Adam percebeu imediatamente o tom de desconfiança na voz da filha.
— Claro, meu amor. O que houve?
Isabella cruzou os braços, encarando-o.
— O que está acontecendo? Por que tenho a sensação de que estou sendo… seguida?
Leonor lançou um olhar preocupado para Adam, mas ele respirou fundo, mantendo a serenidade.
— Eu só estou cuidando de você, Isabella.
— Cuidando? Ou me vigiando? — rebateu, ferida. — Desde quando você acha que eu não posso me proteger?
Adam se aproximou, segurando-lhe os ombros.
— Não é isso, princesa… Há coisas que você não entende. O mundo, às vezes, é perigoso demais.
Ela o fitou com os olhos cheios de mágoa.
— Você nunca vai me ver como adulta, não é?
Adam fechou os olhos por um segundo, como se aquelas palavras pesassem em seu coração.
— Eu te vejo como a mulher forte que se tornou… mas também como a minha filha, e eu nunca vou deixar de querer te proteger.
Ela respirou fundo, desviando o olhar, lutando contra a emoção.
— Não quero viver como prisioneira do seu passado, pai.
Disse e se afastou, deixando Adam e Leonor silenciosos na varanda, ambos temendo o que poderia estar por vir.
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Na manhã seguinte, Isabella precisava de um tempo para espairecer. Decidiu ir até um café no bairro, o mesmo onde, dias atrás, havia tido aquele encontro inesperado com Gael.
E o destino, mais uma vez, parecia brincar com ela.
Quando saiu do café, ajeitando os óculos escuros, ouviu aquela voz grave e inconfundível:
— Achei que não fosse me encontrar de novo…
Ela virou-se e lá estava ele: Gael, encostado casualmente em um poste, com aquele ar de homem que não tem pressa, mas sabe exatamente o que quer.
Isabella sorriu, ainda que com uma pontada de resistência.
— Talvez o destino esteja querendo se meter na minha vida.
Ele riu, dando um passo mais próximo.
— Ou talvez… seja você que está inconscientemente procurando por mim.
Ela arqueou a sobrancelha, sem perder a pose.
— Quem sabe?
Por dentro, porém, algo vibrava de forma estranha. Não era só atração… era um alerta, um instinto que não conseguia nomear.
Gael inclinou-se levemente.
— Aceita um passeio? Sem pressa… só uma conversa.
Isabella hesitou. Lembrou-se do aviso silencioso do pai, da segurança extra, de todas as barreiras que sempre existiram ao seu redor. Mas ali, com Gael, o mundo parecia diferente… como uma aventura que ela nunca se permitiu viver.
— Tudo bem… — respondeu, com um sorriso enviesado.
E seguiu com ele, sem perceber que, ao dar aquele passo, entrava cada vez mais fundo na armadilha emocional que Gael — e o destino — estavam tecendo ao seu redor.
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Enquanto isso, de longe, um dos seguranças discretos de Adam tirava uma foto, enviando a mensagem:
"Ela está com ele."
Adam, ao receber, apertou o celular com força, enquanto Leonor o observava, aflita.
— O que houve?
Ele soltou, com os olhos duros:
— Ela está com ele… O plano dele está funcionando.
E, sem perceber, Isabella caminhava com Gael, cada vez mais entregue… sem saber que aquele homem, por trás do charme e do sorriso, escondia um passado de dor e vingança.
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Fim de capítulo!
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