Açúcar, Álcool e Farpas

A noite se adensava como um casaco de fumaça sobre Seul.

O bar "Cicatriz" ainda respirava — suave, morno, envolvente. As conversas baixas, as luzes douradas e o tilintar dos copos formavam uma trilha sonora hipnótica, anestesiante. O mundo lá fora corria, mas ali dentro... o tempo parecia girar em câmera lenta.

Até que as portas se abriram.

Um sopro frio entrou junto com a figura de alguém que não combinava com aquele cenário — e por isso mesmo o incendiava com sua presença.

Han Ji-woo.

Magro, pálido, cabelos vermelhos bagunçados como um campo em chamas recém-acordado. As mangas do moletom caíam frouxas pelos pulsos, e seus olhos — intensos demais para alguém tão visivelmente cansado — procuraram um canto vazio como quem procura um abrigo. Seus passos eram curtos, quase flutuantes, como se o chão doesse sob seus pés.

Ele havia terminado uma longa jornada como entregador. Subidas infinitas de escada, clientes impacientes, gorjetas inexistentes.

E estava exausto.

Mas o bar piscava como um santuário iluminado. E era o mais próximo.

E Ji-woo precisava... de algo doce.

Sentou-se de qualquer jeito no balcão, largando a carteira com um suspiro que parecia pesar uma tonelada.

— Tem alguma coisa que pareça uma sobremesa alcoólica? — perguntou, sem rodeios, esfregando o rosto com a manga do moletom.

Do outro lado, Yoon Tae-hwan observava.

Silencioso.

Avaliação instantânea.

Frágil. Jovem. Ômega. Exausto. Perigoso.

Ele não frequentava o tipo de lugar onde predadores sorriem de terno.

E no entanto, ali estava.

— Ômegas não costumam vir aqui — disse Tae-hwan, já pegando a garrafa de licor de amêndoas e um toque de creme.

— Não costumo beber também... mas hoje me senti barato demais pra minha própria existência. — Ji-woo riu sozinho, um som irônico, como se zombasse da própria condição.

Tae-hwan deslizou o copo na frente dele com maestria. O líquido tinha um tom bege claro, decorado com um fio de chocolate escuro. Quase infantil. Mas tinha álcool suficiente pra tombar um touro em duas doses.

Ji-woo provou.

E gemeu de prazer.

— Isso... tá bom demais pra ser real. Isso... Isso é arte. Me faz esquecer que minha vida vale menos que a entrega do ramen que eu trouxe agora há pouco.

A cada gole, a língua de Ji-woo ficava mais solta.

— Sabia que um cliente hoje me ofereceu cem won pra "sorrir mais"?

Bebeu.

— Como se um sorriso pagasse aluguel.

E riu de novo. Meio amargo. Meio bêbado.

Tae-hwan não respondeu. Apenas observava.

Havia algo fascinante naquilo: o contraste entre a fragilidade física e a boca afiada. Entre o olhar perdido e os dedos que agora brincavam com o canudo, como se flertassem.

— Você é muito bonito pra ficar calado assim — soltou Ji-woo, já de bochechas vermelhas.

— E você está bêbado demais pra entender onde está se metendo. — A resposta veio firme, mas sem alteração no tom.

Ji-woo achou que era charme.

— Isso foi uma ameaça ou um convite? — provocou, sorrindo com a ponta da língua entre os dentes.

Tae-hwan desviou o olhar por um segundo. Aquilo estava indo rápido demais. E não do jeito certo.

Ele não era homem de se importar. Mas havia algo... delicado demais naquele corpo. Algo que gritaria, que rasgaria, que não sobreviveria a ele.

Mas o desejo...

Aquela faísca.

Respirou fundo.

— Fique aqui. Faltam quinze minutos pra eu fechar. — disse, limpando o balcão com movimentos precisos.

Ji-woo apoiou o queixo nas mãos, olhos brilhando.

— Isso é o que eu tô pensando? Ou é só mais um aviso misterioso e sexy?

Tae-hwan sorriu — o mesmo sorriso sereno, ilegível.

— Você vai descobrir.

E assim, a noite continuou.

A música seguiu suave.

Mas entre os dois... algo havia começado.

Algo que não terminaria doce como a bebida no copo.

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