Velvet Chains

Velvet Chains

A Calmaria do Caos

PRÓLOGO

Seul.

Ah, Seul…

Cidade de luzes vibrantes e promessas cintilantes.

Onde tudo é bonito, tudo é limpo, tudo é controlado.

Cada esquina parece ter saído de um comercial de luxo: cafés minimalistas, vitrines cintilantes, jovens descolados com rostos milimetricamente emoldurados por filtros naturais e artificiais.

Os sorrisos são impecáveis. As roupas, alinhadas. Os passos, decididos. A vida… perfeitamente coreografada.

Seul é como uma acompanhante de luxo:

Tem a pele impecável, as curvas perfeitas, os movimentos calculados para seduzir quem quer que a encare.

E ao seu lado está ele: o homem ideal. Postura ereta, terno sob medida, relógio caro.

Ambos sob os holofotes, brilhando, vendendo um sonho — a capital do futuro, a metrópole da perfeição.

Bem-vindo ao espetáculo.

Mas, como toda maquiagem, essa também começa a derreter no calor.

E é aí que a câmera desliga.

É aí que os sorrisos tremem.

Veja bem…

A garçonete que inclina a cabeça em agradecimento não suporta seu chefe e cospe no café dos clientes.

O influenciador que tira selfies no Han River com olhos sorridentes, volta pra casa e chora no banheiro, trancado, com cheiro de desodorante vencido e desesperança nos dedos.

O executivo da vitrine de vidro bate na esposa à noite.

A idol que canta sobre amor pensa em se jogar da varanda do hotel cinco estrelas.

O perfume é forte demais. O brilho machuca os olhos. A verdade fede.

E é aqui, no estômago sujo dessa cidade que se vende como um paraíso estéril, que a nossa história nasce.

Não entre esperando amor.

Não venha esperando redenção.

Porque aqui… nada é o que parece.

Tudo tem dois lados — duas versões, dois corpos, duas vozes.

Duas mentiras se encaram no espelho, jurando que uma delas é verdade.

Mas nenhuma é.

Seul não é um cenário.

É uma mentira bem contada.

E você acaba de ser convidado a conhecer o que se esconde por trás da maquiagem.

---

Capítulo 1 — “A Calmaria do Caos”

Seul, 22h43.

A cidade pulsa.

As ruas brilham sob luzes artificiais como se a noite fosse um desfile de neon. Carros deslizam por avenidas lustrosas, suas buzinas quase melódicas no compasso dos passos apressados. Metrôs ainda respiram nos trilhos subterrâneos, levando rostos cansados e corpos alinhados. Arranha-céus espelhados refletem a cidade como se quisessem eternizar sua mentira — uma vitrine de normalidade envernizada.

Cartazes de idols com sorrisos milimetricamente calculados piscam sobre fachadas envelhecidas. O perfume da noite é uma mistura de fumaça de carne assada, álcool barato, e desesperos não confessados.

Tudo parece em ordem. Tudo parece sob controle.

Mas, há lugares que escapam do script.

Entre vielas onde os sorrisos desbotam e os segredos tomam ar fresco, ergue-se um prédio de dois andares. A pintura externa, envelhecida e charmosa, mistura um vermelho vinho escuro com madeiras escuras. Acima, uma janela semicerrada com luz fraca denuncia o pequeno estúdio onde mora o dono — uma silhueta solitária às vezes visível por entre as cortinas.

Na fachada de vidro abaixo, lê-se em letras antigas, metálicas:

“Cicatriz”

Um nome sussurrado entre clientes habituais como um refúgio de conforto... ou uma armadilha reconfortante.

O letreiro pisca com uma falha elétrica proposital.

Aqui, nada é acidental.

Portas de madeira maciça se abrem, e o som ambiente é o de jazz moderno misturado ao riso de bêbados elegantes. O ar é mais denso ali dentro. Cheira a álcool refinado, couro e algo sutilmente amadeirado, com fundo de tabaco e resina doce.

O cheiro de um Alfa.

O balcão de madeira polida é o trono de uma presença constante.

Yoon Tae-hwan.

Terno de colete com mangas dobradas. Cabelos loiro-acinzentados bagunçados com arte. Um colar fino escorregando por dentro da camisa aberta no peito — de onde parte uma tatuagem que se esconde, provocante, entre tecido e pele.

Seus braços se movem com precisão cirúrgica enquanto prepara duas bebidas ao mesmo tempo, sem sequer olhar para os copos. O gelo estala. O líquido dança. O brilho âmbar da bebida reflete nos olhos castanho-mel, serenos, anestesiantes. Seus lábios esboçam um sorriso educado para uma cliente que sorri demais — e que não percebe que foi ignorada emocionalmente desde o primeiro “boa noite”.

As mãos de Tae-hwan são firmes, seus ombros relaxados. Tudo nele parece dizer: “Estou no controle.”

Mas por dentro... uma explosão engarrafada.

A música muda.

Um drink finalizado.

Uma nova garrafa aberta.

Tae-hwan gira, pega o pano, limpa o balcão como se lavasse o mundo com gestos calmos e deliberados. Sua mente, no entanto, está longe.

Tudo aqui é ritual.

Tudo precisa estar no lugar.

Cada garrafa alinhada. Cada copo espelhado. Cada sorriso dos funcionários treinado. Porque se alguma coisa sair do controle...

...ele talvez não volte a sorrir.

O bar está cheio, mas tudo está quieto.

O caos sob controle.

Exatamente como ele gosta.

Por enquanto.

Mais populares

Comments

Agnes

Agnes

Sensacional! 👌

2025-05-10

1

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!