a teia se aperta

Chuva, que havia sido uma leve cortina de água na noite anterior, agora caía com violência sobre o Colégio Saint Raven. Os vidros das janelas tremiam com o impacto das gotas. Adriele estava na biblioteca, a mesa diante dela coberta por papéis espalhados, livros abertos, mas sua mente estava longe de tudo aquilo. A imagem de Samy, seu sorriso insuportável e aquela sensação de que ele estava em toda parte, a perseguia como uma sombra. Ela não conseguia se livrar dele. E, em algum lugar profundo, ela sabia que não queria.

Ela havia tentado concentrar-se nas matérias, fingir que o normal ainda existia, que a vida poderia voltar ao que era antes, mas não havia mais normalidade para ela. O que começou como um simples caderno, uma mensagem misteriosa, agora se expandia como uma rede de mentiras e segredos que a envolviam, sem que ela pudesse escapar.

E o pior de tudo? O que ele disse, o que ele sugeriu, estava se tornando cada vez mais real. As palavras dele, “você vai querer jogar”, não saíam da sua cabeça. Como se ele soubesse o que estava acontecendo dentro dela, como se ele soubesse que, em algum nível, ela já estava perdida. A ideia de que ela não tinha escolha estava se cristalizando dentro dela.

Ela fechou os livros, seu olhar perdido no vazio da sala. O som de passos a fez levantar a cabeça. E lá estava ele novamente, Samy. Seus olhos brilhavam com aquela intensidade desconcertante, e ele parecia saber exatamente onde ela estava, o que ela estava pensando. Como sempre.

— Estava esperando por você, anjo — ele disse, a voz suave, mas cheia de uma ameaça implícita.

Adriele não respondeu. Ela apenas o observou, sentindo o peso daquelas palavras sobre seus ombros. Samy se aproximou, se sentando na cadeira ao lado dela, seu olhar nunca deixando o dela. Ele não precisava dizer nada. O silêncio entre eles já dizia tudo.

— Sabe, eu realmente pensei que você fosse mais resistente. — Ele deu um sorriso torto, quase zombando dela. — Mas eu percebo agora que você está começando a entender.

Ela ainda não sabia exatamente o que ele queria dela. Não sabia se ele a desafiava, se a queria controlando ou se estava apenas se divertindo. A cada encontro, ela perdia um pouco mais da certeza sobre si mesma, sobre sua vida e, principalmente, sobre ele.

— O que você quer, Samy? — Ela finalmente falou, a voz mais firme, mas ainda carregada de uma dúvida crescente. Não era uma pergunta qualquer. Era um grito mudo por uma resposta, por um sentido para tudo aquilo.

Ele riu baixinho, se inclinando para frente, seus olhos fixos nos dela.

— Eu já disse, anjo. O que eu quero de você não é algo que você possa escolher. Mas, quem sabe, você vai acabar gostando. O jogo está em andamento. E, por mais que você tente, não tem como sair dele.

Adriele sentiu uma pressão crescente no peito, como se a resposta estivesse bem ali, na ponta da língua dela, mas ela não pudesse entendê-la. Ele a observava com um interesse quase clínico, como se estivesse aguardando sua reação, o momento exato em que ela tomaria a decisão final. E o que ele queria que ela fizesse? Se entregasse ao jogo? Se perdesse de vez?

— Você não entende... — ela murmurou, mais para si mesma do que para ele. — Isso não é um jogo. Não pode ser.

Samy levantou uma sobrancelha, seu sorriso se alargando de maneira desconcertante.

— Não é? — Ele se levantou, afastando-se um passo, mas nunca tirando os olhos dela. — Tudo aqui é um jogo, Adriele. Você só não percebeu ainda.

Ela se levantou da cadeira, sentindo uma energia crescente dentro dela. Algo estava mudando. Algo dentro dela estava finalmente se despertando, uma força que ela não sabia que possuía. A raiva, a frustração, o medo… todos se misturavam em algo que ela não podia mais controlar. Ele estava certo. O jogo havia começado, e, talvez, ela fosse mais parte dele do que imaginava.

Ela olhou para ele com uma intensidade renovada, suas palavras mais duras agora.

— Então me diga, Samy, qual é o objetivo desse jogo? O que você quer que eu faça?

Ele a olhou como se fosse uma criança que finalmente tivesse entendido a gravidade do que estava acontecendo. O olhar dele era satisfeito, mas havia algo mais ali — algo que Adriele não conseguiu identificar. Ele se aproximou novamente, seu corpo tão perto do dela que ela quase podia sentir o calor emanando dele.

— O objetivo? O objetivo é simples: você vai descobrir quem você realmente é. Você vai entender o papel que tem nesse teatro todo. E, no final, vai decidir se vai ser apenas uma peça ou a protagonista dessa história.

Aquelas palavras a atingiram com força. Adriele sentiu uma onda de confusão, mas também uma curiosidade que ela não podia mais ignorar. O que ele queria dizer com “descobrir quem ela realmente era”? Ela tinha uma sensação, uma sensação incômoda, de que a resposta estava mais perto do que ela imaginava. Mas ela não estava pronta para isso. Não estava pronta para enfrentar a verdade que poderia vir à tona.

— Você vai me levar a esse fim, não é? — Ela perguntou, suas palavras carregadas de uma mistura de raiva e resignação.

Ele sorriu, um sorriso frio e calculista, e então, com um movimento rápido, pegou uma folha de papel do banco ao lado. Estendeu para ela, os olhos fixos nos dela.

— Leve isso. É sua primeira pista. O jogo acaba de começar, anjo.

Adriele pegou a folha com mãos trêmulas, mas a tensão no ar só aumentava. Ela sabia que, em algum momento, teria que escolher. E, no fundo, ela sabia que, quando o momento chegasse, ela já estaria dentro da teia. E não haveria mais como sair.

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