Adriele mal conseguia respirar. O caderno ainda estava em suas mãos, e, embora estivesse agora em uma sala de informática vazia, ela não conseguia afastar a sensação de que alguém estava assistindo-a. A luz do monitor iluminava seu rosto pálido enquanto ela tentava entender o que estava acontecendo. Ela não era a tipo de pessoa que se deixava levar pelo medo ou pela ansiedade. Mas, em Saint Raven, as regras nunca foram claras. E Samy… Samy estava sempre um passo à frente.
Ela olhou para o caderno mais uma vez, os olhos fixos na frase escrita com sangue. “Você não é quem pensa que é. E ele já sabe.”
Quem era esse “ele”? E o que ela não sabia sobre si mesma? Essas perguntas martelavam sua mente enquanto o silêncio na sala se estendia. O som de seus batimentos cardíacos era tudo o que ela ouvia agora. Seus dedos tremeram levemente quando ela tocou a próxima página do caderno, as palavras fluindo como se o caderno tivesse vida própria. Cada frase parecia mais desconexa, mais delirante, e ela não conseguia parar de ler.
“Havia algo dentro de você antes que você chegasse a Saint Raven. Algo que você esqueceu. Ele está tentando te lembrar. Mas você não está pronta.”
Ela fechou o caderno abruptamente, como se pudesse parar o fluxo de pensamentos e medos só com aquele gesto. Mas isso não a acalmava. Na verdade, o medo estava crescendo dentro dela, tomando forma. Ela precisava sair dali. Precisava encontrar Samy e entender o que estava acontecendo. E mais importante: ela precisava saber como parar esse pesadelo antes que fosse tarde demais.
Ela não sabia quanto tempo passou sentada naquela sala. Mas quando olhou para o relógio na parede, percebeu que já era quase meia-noite. O colégio estava ainda mais vazio, o silêncio mais denso, e ela podia sentir o frio que vinha das paredes de pedra do edifício. Como se a própria escola estivesse sentindo o peso de algo.
O que ele queria de mim? Por que ele não me deixou em paz? Essas perguntas se repetiam em sua mente enquanto ela caminhava pelos corredores. Ela sabia que Samy estava por perto. Sabia que ele poderia estar em qualquer lugar, observando-a, aguardando o momento certo para se aproximar. Ou pior, para empurrá-la ainda mais para dentro do mistério. Mas isso não a impediu. Ela estava decidida a encontrar respostas, e nada, nem mesmo o medo, iria pará-la.
Ela passou pelos corredores escuros, iluminados apenas pela fraca luz das lâmpadas. A cada passo, o peso em seus ombros parecia aumentar. Ela sabia que estava se afastando de tudo o que conhecia. A segurança da sua vida normal, onde tudo tinha uma explicação lógica, estava ficando para trás. Mas o que mais a assustava não era o desconhecido. Era o fato de que, no fundo, ela não sabia se queria mesmo voltar para a sua vida anterior. Algo em Samy a atraía de uma forma que ela não conseguia entender, como uma força invisível que a puxava para ele.
Ela passou pela biblioteca, suas grandes portas de madeira se fechando atrás dela com um baque suave. Não havia ninguém à vista. Ela sabia que não deveria estar ali. A biblioteca sempre fora o centro da escola, um lugar onde os estudantes mais sérios se reuniam para estudar. Mas, àquela hora da noite, estava silenciosa demais. Como se o próprio ar na biblioteca estivesse carregado com segredos não ditos.
Ela começou a vasculhar as prateleiras, tocando os livros com a ponta dos dedos, procurando por qualquer pista, qualquer resposta que a conectasse ao caderno. Mas não havia nada. Nenhum indício, nenhuma pista. Até que algo chamou sua atenção. Um livro, aparentemente fora de lugar, com uma capa preta semelhante à do caderno.
Adriele puxou o livro, e um pedaço de papel caiu de dentro dele. Ela pegou o pedaço de papel com mãos trêmulas, desdobrando-o. A mensagem era simples, mas aterradora.
“Ele está esperando. Não há saída.”
O frio percorreu sua espinha. O que isso significava? Era uma ameaça? Ou uma advertência? Quem estava esperando por ela? Ela não sabia, mas algo dentro dela dizia que não deveria ignorar aquilo. O jogo estava ficando cada vez mais real, e ela estava sendo empurrada para ele sem escolha.
O som de um portão se fechando ecoou pela biblioteca, e ela parou abruptamente. Havia alguém ali. Alguém que se aproximava. Adriele se escondeu rapidamente entre as estantes, segurando o pedaço de papel na mão com força. Seus olhos se estreitaram enquanto ela ouvia os passos. Era Samy. Ela podia sentir sua presença antes mesmo de vê-lo. Ele estava ali, com sua jaqueta de couro preta e o sorriso inconfundível, aquele sorriso que prometia tanto prazer quanto dor.
— Achei que você fosse se esconder mais tempo — disse ele, a voz baixa e sedutora. — Mas eu sabia que não ia resistir, anjo. Sabia que você viria atrás de mim.
Adriele sentiu um calafrio correr por seu corpo. Ele estava tão perto, mas ainda assim tão inatingível. Sua presença era avassaladora, e tudo nela gritava para que corresse, mas suas pernas pareciam não obedecer. Ela não sabia se queria fugir ou continuar naquela teia de mentiras.
— O que você quer de mim, Samy? — sua voz saiu mais fraca do que ela gostaria, mas não conseguia controlar.
Ele deu um passo à frente, seus olhos fixos nos dela.
— O que eu quero? — ele repetiu, a voz agora mais profunda. — Eu quero que você jogue. Quero que jogue até o fim. Porque, no final, quem sai perdendo… somos nós dois. E você vai entender isso.
Ela tentou se afastar, mas ele estava mais rápido. Samy a pegou pelo braço, puxando-a para mais perto, e ela sentiu uma onda de calor percorrer seu corpo. Ele sorria de um jeito que a fazia se perder ainda mais. A linha entre o desejo e o perigo estava se tornando cada vez mais tênue.
— Você já está dentro, anjo. Agora, não tem mais como sair.
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Atualizado até capítulo 23
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