Pressões e Proximidade

Pressões e Proximidade

O clima no colégio continuava pesado. Depois da detenção, Lia ficou dias remoendo a conversa interrompida com Yuri. Ele tinha começado a dizer alguma coisa… e desistido. Isso a deixava inquieta.

Por que ele não terminava?

O que ele queria esconder tanto assim?

Enquanto isso, Noah não dava trégua.

"Vai ter um festival de outono no próximo sábado. Queria que você fosse comigo." Ele disse, encostado na mesa de Lia, enquanto ela tentava prestar atenção na aula de história.

"Não sei se vou poder." Lia respondeu, fingindo anotar algo.

"Ah, qual é, Lia. A gente se dá bem, você gosta da minha companhia." Ele sorriu daquele jeito forçado, tentando disfarçar o nervosismo.

Lia deu um sorriso sem graça.

"Eu vou ver."

Do outro lado da sala, Yuri observava.

Sentado com Helo, ele não conseguia prestar atenção no professor. O foco inteiro estava em Noah. No jeito que ele se inclinava pra perto demais. No jeito que olhava pra Lia.

E principalmente no jeito que Lia não o afastava.

"Você vai explodir se continuar segurando isso." Helo sussurrou.

"Foda-se."

"Só tô dizendo." Ela deu de ombros.

Na hora do almoço, Mita arrastou Lia pro jardim dos fundos.

"Amiga, na moral, você tá me irritando."

"O que foi agora?"

"Você tá deixando aquele Noah ficar te rodeando e fingindo que não liga."

"Eu não ligo."

"Liga sim. E sabe quem mais liga? Yuri. Ele tá se corroendo de ciúmes e cê tá se fazendo de sonsa."

Lia bufou, mas sabia que Mita tava certa.

O pior de tudo era que, mesmo com raiva, mesmo com as brigas, era o Yuri que ela queria por perto. Era a ausência dele que incomodava. A falta dos comentários idiotas, das provocações, dos desafios.

Era ele.

"E se ele não quiser mais falar comigo, Mita?"

"Então você faz ele querer. Ou para de se enganar e segue em frente, mas assim desse jeito, cê só vai se machucar mais."

Lia ficou em silêncio, encarando o céu nublado.

No começo da noite, Noah apareceu no dormitório feminino.

Claro que não podia, mas ele sempre dava um jeito.

"Lia, desce aqui." Ele mandou mensagem.

Curiosa, ela foi.

"O que foi?"

"Queria te mostrar uma coisa." Ele segurava um saquinho de doces.

"Trouxe pra você. Doces japoneses, sabe? Seus preferidos."

Ela sorriu de leve.

"Obrigada, mas não precisava."

"Claro que precisava. E… Lia, eu sei que você anda mal. Sei que o Yuri te magoou."

Ela travou.

"Não tô mal, Noah."

"Tá sim. E eu só queria te dizer que eu tô aqui. Sempre estive." Ele se aproximou mais.

Lia deu um passo pra trás.

"Noah—"

Ele segurou a mão dela.

"Eu queria tentar… sabe, ser mais pra você."

Quando ele se inclinou pra beijá-la, Lia virou o rosto na hora.

"Desculpa… mas não dá." Ela disse, a voz baixa.

Noah ficou paralisado.

"Por quê? Ele? É por causa daquele idiota?"

Antes que Lia pudesse responder, uma voz ecoou na penumbra.

"Ela disse que não, porra."

Yuri estava ali, encostado na parede, os braços cruzados e o olhar escuro.

"Qual é, Yuri. Isso não te diz respeito." Noah rebateu.

"Diz sim. Porque eu não vou deixar você forçar nada."

Noah bufou, irritado.

"Ela que escolha então."

Yuri encarou Lia. Os olhos carregados, como se estivessem pedindo alguma coisa que ele não conseguia dizer.

"Quer que eu vá embora, Lia?" Yuri perguntou, a voz baixa.

Lia sentiu o coração apertar.

"Não… fica." Ela disse.

Noah jogou os doces no chão e saiu bufando.

O silêncio ficou pesado por alguns segundos.

"Desculpa." Yuri disse.

"Por quê?"

"Por ter me afastado. Por ter te tratado mal. Por tudo."

Lia mordeu o lábio.

"Você ia me contar alguma coisa aquele dia… o que era, Yuri?"

Ele hesitou.

"Ainda não, Lia. Só… só confia em mim, tá?"

Ela ficou em silêncio, mas pela primeira vez em dias, sentiu o peito aliviar um pouco.

"Tô com fome. Bora roubar comida da cozinha?" Ele sugeriu.

Lia riu de leve.

"Bora."

E naquela noite, mesmo sem dizer tudo, a distância entre eles diminuiu um pouco.

A semana tinha começado estranha. Depois da noite na cozinha clandestina, as coisas entre Lia e Yuri ficaram… diferentes.

Eles não voltaram a se provocar como antes, mas também não se tornaram melhores amigos. Ficavam naquele meio-termo desconfortável, cheio de olhares atravessados e conversas curtas.

Mita reparou primeiro.

"Vocês tão estranhos."

"A gente sempre foi estranho, Mita." Lia respondeu, distraída.

"Não assim. Agora parece que vocês tão se evitando pra não se pegar."

Lia deu um tapa de leve na amiga.

"Cala a boca."

Mas não conseguia tirar aquela noite da cabeça. O jeito como Yuri a defendeu. O jeito como ele hesitou antes de ir embora.

O olhar dele.

Parecia… medo.

Noah, por outro lado, não desistia.

Desde o fora, ele ficava mais irritado. E, diferente do Yuri, ele era daqueles que não sabia ouvir "não".

No almoço, ele sentou do lado dela sem ser convidado.

"Você tem que parar de correr de mim, Lia."

"Eu não tô correndo, só não quero papo."

"Cê sabe que aquele cara não presta, né?"

Lia revirou os olhos.

"O problema é meu."

Noah segurou o braço dela com força.

"Eu não quero te ver se machucando, porra."

Antes que Lia respondesse, Yuri surgiu do nada, puxando o braço de Noah pra longe.

"Solta ela, desgraçado."

A tensão foi instantânea.

"Tá se achando dono agora, é?" Noah cuspiu.

Yuri nem respondeu. Só encarou, o maxilar travado, os olhos escuros.

Mita apareceu junto, já colocando-se entre eles.

"Chega dessa merda!" Ela gritou.

"Cês querem parar na diretoria de novo? Porque eu não vou tirar ninguém dessa vez!"

A galera começou a olhar, e Noah soltou Lia, bufando.

"Isso não vai ficar assim." Ele ameaçou, antes de ir embora.

Naquela noite, Yuri chamou Lia pra conversar no pátio vazio.

"Desculpa por hoje."

"Você não precisa ficar me protegendo."

"Preciso sim. Porque você é teimosa e não sabe quem merece sua atenção."

Lia encarou ele, sentindo o coração acelerar.

"E quem merece então?"

O silêncio ficou pesado.

Yuri respirou fundo.

"Eu não sou o cara certo pra você, Lia."

"Quem disse que eu tô procurando o cara certo?"

Yuri sorriu de leve, um sorriso triste.

"Você não entende."

"Então me faz entender."

Por um segundo, parecia que ele ia falar. A mão dele quase alcançou o rosto dela. Mas, como sempre, ele recuou.

"Ainda não." Ele sussurrou, antes de virar as costas e sair.

Lia ficou ali, sozinha, tentando entender por que toda vez que Yuri ia se aproximar… ele desistia.

Mais tarde, Mita apareceu no dormitório.

"Eu juro, se vocês não se pegarem logo, eu vou trancar vocês num armário."

Lia soltou um riso cansado.

"Acho que ele tá escondendo alguma coisa."

"Óbvio que tá. Só não sei se ele tem medo de você descobrir… ou de você gostar."

Lia não respondeu. Porque, no fundo, ela já sabia que tava

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