Convite proibido e distância dolorida

O dia amanheceu com um céu nublado, como se até o tempo sentisse que alguma coisa estava prestes a dar errado. Lia evitou cruzar com Yuri no café da manhã, mas era impossível ignorar os olhares de Helo e Mita, que cochichavam desde a noite passada.

Na sala de aula, Noah chegou antes dela. Com aquele jeito calmo e aquele sorriso torto que Lia já tinha aprendido a reconhecer. Quando ela entrou, ele acenou de leve.

"Ei, Lia… posso falar com você depois da aula?"

Lia arqueou a sobrancelha, desconfiada.

"Sobre o quê?"

"Surpresa." Ele piscou.

O clima estranho só aumentou quando Yuri entrou logo atrás, parando ao lado de Helo, que cochichou:

"O Noah chamou ela pra conversar."

Yuri franziu o cenho.

"Por quê?"

"Ué, porque ele tá afim dela, idiota."

Yuri cerrou o punho, tentando disfarçar.

"Problema dela."

Mas não era. Não pra ele.

Depois da aula, Noah esperou Lia no pátio. Mita, claro, acompanhava de longe, escondida atrás de uma árvore.

"Tá bom, fala logo." Lia disse, impaciente.

Noah sorriu.

"Eu sei que a gente se conheceu faz pouco tempo… mas eu curti muito você. E queria saber se… quer sair comigo esse fim de semana?"

Lia arregalou os olhos.

"Tipo… um encontro?"

"Tipo isso."

Antes que ela pudesse responder, a voz de Yuri surgiu cortante.

"Ela não vai."

Os dois se viraram e lá estava ele, de braços cruzados, com a expressão carregada.

"E desde quando você manda em mim, Yuri?" Lia rebateu, irritada.

"Não mando. Só acho engraçado você querer sair com o primeiro cara que aparece."

"Engraçado é você se meter onde não é chamado."

O clima ficou pesado. Noah tentou intervir.

"Eu só fiz um convite. Se ela quiser, ótimo. Se não, tudo bem."

Yuri ignorou ele completamente, encarando Lia.

"Você sabe muito bem que esse cara não é pra você."

"E quem seria, então? Você?" Lia disse, sem pensar.

O silêncio foi tão forte que até os pássaros pareceram calar. Os olhos de Yuri queimavam. Lia sentiu o coração acelerar, e não sabia mais se era de raiva ou de outra coisa.

"Faz o que quiser, Lia." Yuri disse por fim, se virando e saindo dali.

Noah suspirou.

"Se quiser sair comigo, o convite tá de pé." Ele disse, antes de ir embora.

Lia ficou ali, parada, sem saber o que doía mais: a raiva de Yuri ou o jeito que ele tinha olhado pra ela antes de ir

Desde o dia do convite de Noah, o clima entre Lia e Yuri tinha mudado de um jeito estranho. Não que eles se tratassem bem antes… mas agora era diferente. Yuri parou de provocar, parou de implicar… na real, ele parou de olhar.

E isso tava matando Lia por dentro.

Acordava, ia pra aula, e ele fingia que ela não existia. Passava no corredor, e Yuri olhava pro outro lado. Na hora do almoço, sentava longe.

Até Helo reparou.

"Que foi, hein? Vocês brigaram feio assim?"

"Não briguei com ninguém." Yuri respondeu, a voz abafada, sem tirar os olhos do prato.

Helo suspirou.

"Você sabe que fingir que não liga não vai resolver nada, né?"

"Não tô fingindo." Mas sabia que tava.

Lia, por outro lado, tava perdendo o juízo.

Cada vez que via Yuri de longe, sentia o peito apertar. Cada piada que ele fazia com outra pessoa, cada sorriso, cada comentário… era como se faltasse alguma coisa.

Mita percebeu rapidinho.

"Tá na cara, Lele. Você sente falta."

"Sinto falta do que? De brigar? De me estressar?"

"Do Yuri." Mita disse firme, jogando uma almofada na amiga.

"Eu não—"

"Cala a boca, Lia. Eu sou sua melhor amiga. Sei quando você tá mentindo até pra você mesma."

Lia bufou, enfiou a cabeça no travesseiro e gritou.

**"AFFF!"

Enquanto isso, Noah continuava tentando.

Mandava mensagem, chamava pra estudar, pra sair. Lia gostava dele — como pessoa. Mas não sentia aquele negócio esquisito no peito como sentia com Yuri. E isso a deixava irritada.

Uma noite, no dormitório, Mita bolou um plano.

"Já sei como resolver isso."

"Nem vem, Mita."

"Só escuta. Amanhã vou dar um jeito de vocês dois ficarem de castigo juntos. Vai ser inevitável. Ninguém sobrevive trancado numa sala com outra pessoa ignorando ela. Ou vocês se matam, ou se resolvem."

Lia ficou em silêncio, pensando.

No fundo… talvez fosse a única forma.

No dia seguinte, Mita convenceu Helo a ajudar. As duas deram um jeito de Yuri e Lia serem acusados de bagunçar o corredor — mesmo sem terem feito nada. O professor não quis saber.

"Detenção. Sala 04. Os dois. Agora."

Helo e Mita bateram as mãos secretamente.

"Boa sorte, otários." Helo murmurou.

A sala era pequena, com cheiro de papel velho e sem nenhuma distração. Lia sentou de um lado, Yuri do outro. O silêncio era tão grosso que dava pra cortar com uma faca.

Depois de meia hora sem trocar uma palavra, Lia estourou.

"Até quando vai ficar me evitando?"

Yuri não respondeu.

"Cresce, Yuri."

"Eu só tô tentando não te atrapalhar mais, Lia." Ele disse baixo.

"Me atrapalhar? Desde quando você me atrapalha?"

"Desde sempre. Eu sou um problema. E você merece alguém normal, tipo o Noah."

Lia se levantou, furiosa.

"Para de decidir por mim, caralho!"

Os dois se encararam, o coração de Lia disparado, a respiração pesada. Yuri engoliu em seco.

"Você não entende… se soubesse quem eu realmente sou, você—"

"O QUÊ?" Lia desafiou.

Yuri fechou a cara.

"Nada."

Lia ficou sem entender, mas sentiu que tinha alguma coisa ali. Uma confissão sufocada. Um segredo quase escapando.

A tensão foi cortada pelo professor, avisando que o castigo tinha acabado.

Quando Yuri passou pela porta, disse sem olhar:

"Cuidado com o Noah."

Lia, sem saber o porquê, sentiu o coração afundar

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