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Capítulo 1: Primeiro Dia, Primeira Briga
O céu amanheceu meio cinza, como se até ele estivesse sem vontade de começar o dia. Lia caminhava pelas ruas em silêncio, a mochila pesada nas costas e os fones de ouvido despejando uma música melancólica que combinava com o humor dela. Era o primeiro dia no colégio novo. Ensino médio, gente nova, rostos desconhecidos… e ela preferia que tudo aquilo fosse só um pesadelo.
Do outro lado da cidade, Yuri acordava atrasado, como sempre. Bagunçou o cabelo azul claro no espelho e deu de ombros. "Se não gostam de mim, que olhem pro outro lado", pensou, pegando a mochila e descendo as escadas de casa correndo. Yuri tinha aprendido a ser assim. A viver no próprio ritmo, do próprio jeito, sem pedir permissão pra ninguém. E naquele colégio novo, não seria diferente.
Quando Lia chegou no pátio, olhou ao redor, tentando achar um canto vazio. O lugar era grande, movimentado e cheio de adolescentes falando alto, se abraçando, contando das férias… tudo o que ela odiava. Se encostou em uma árvore, respirando fundo. Até que uma voz conhecida se aproximou.
— Liaaa! — Mita, mais conhecida como Leite Ninho, apareceu correndo, com um sorriso exagerado no rosto. — Achei você, garota. Tava te procurando faz horas!
Lia sorriu de leve, só porque era impossível não gostar da Mita. Desde pequenas, as duas eram grudadas, mesmo sendo tão diferentes. Mita era barulhenta, animada e apaixonada por leite ninho — daí o apelido.
— Calma, Ninho. Tô aqui, viva. Por enquanto.
— Por enquanto? Ih, já sei… você tá odiando isso aqui, né?
Lia deu de ombros, sem responder.
Enquanto isso, Yuri chegou no pátio quase batendo em todo mundo. Ele odiava aglomeração, gente lenta e perguntas idiotas. Quando avistou Helo — ou Lolo, como ele a chamava — foi direto até ela.
— Lolo! Me espera, poxa.
— Tá atrasado de novo, palhaço. — Helo sorriu, arrumando o cabelo loiro preso num coque desleixado. — Primeiro dia, hein. Já prevejo o caos.
— Caos é comigo mesmo, Yuri respondeu, jogando a mochila no ombro.
O destino fez questão de cruzar os dois ali.
Um esbarrão.
O livro de Lia caiu no chão. Yuri pisou em cima sem nem perceber.
— Ô, animal! Meu livro! — Lia disparou, tirando os fones com irritação.
Yuri olhou pra ela com aquela expressão de quem não se importa e ainda debocha.
— Nem vi. Relaxa aí, zumbi.
— Se não viu, presta mais atenção, idiota.
Mita se aproximou, sentindo a treta no ar.
— Epa, gente… primeiro dia, bora com calma.
Mas não tinha calma ali. Os dois se encaravam como se o resto do mundo tivesse sumido.
— Se continuar bancando a marrenta, não vai durar nem uma semana aqui, Yuri provocou.
— Prefiro durar sozinha do que aguentar gente como você, Lia rebateu.
Foi quando o sinal tocou, interrompendo a tensão. Mita puxou Lia pelo braço.
— Vambora, garota. Deixa esse otário pra lá.
Lolo apareceu do lado de Yuri, rindo.
— Primeiro dia e você já arranjou uma inimiga. Impressionante, Yuri.
— Do jeito que eu gosto, ele respondeu, encarando de longe a garota de olhos castanhos que ainda soltava faíscas de raiva no olhar.
O jogo tinha começado.
E ninguém ali fazia ideia de onde isso ia parar.
A sala 2B ficava no segundo andar, no fim do corredor. As paredes eram cheias de recados antigos, desenhos e frases rabiscadas, como se o tempo tivesse deixado suas marcas ali. Lia entrou calada, ainda com a expressão fechada, e procurou o canto mais longe da porta. Sentou-se na última carteira da fileira da janela, enfiou os fones nos ouvidos e fingiu que ninguém mais existia.
Mita entrou logo atrás, já toda animada, cumprimentando quem cruzava o caminho.
— Bom diaaa, sala nova!
Lia revirou os olhos, mas sorriu de canto. Era impossível não se divertir, mesmo que de leve, com o jeito exagerado de Mita.
Minutos depois, Yuri apareceu com aquele andar despreocupado, os cabelos azulados meio bagunçados e a mochila jogada de qualquer jeito nas costas. Ele lançou um olhar rápido pela sala, e os olhos dele bateram nos de Lia.
Por um segundo, só um.
Mas foi o suficiente pra Lia sentir aquele arrepio de irritação misturado com alguma coisa estranha que ela não soube nomear.
Um olhar que cortava.
Yuri deu um sorrisinho de canto, do tipo "ainda tá bravinha?", e se jogou na carteira do meio da sala, bem no campo de visão dela.
— Adivinha quem veio pra incomodar, ele murmurou pra Lolo, que sentou ao lado dele.
— Cara, para. Você mal conhece a menina, disse Lolo, rindo.
— Não preciso conhecer pra saber que ela tem cara de quem se acha superior.
Na última fileira, Lia sentiu o olhar atravessado dele de novo. Tirou os fones e encarou de volta. Se ele queria guerra, guerra era o que ia ter.
O professor entrou logo depois, com pilhas de papéis na mão.
— Bom dia, turma. Se acomodem. Vamos fazer uma atividade em dupla pra quebrar o gelo.
Lia franziu a testa. Atividade em dupla.
Ótimo.
O professor começou a sortear os nomes de uma lista.
— Lia e… Yuri.
O universo riu na cara dela naquele instante. Mita segurou a risada. Lolo fez cara de puta merda. E Yuri… Yuri sorriu.
Aquele sorriso.
O sorriso de quem sabia que tinha acabado de ganhar o dia.
— Prazer, parceira, ele provocou, se levantando e indo até a carteira dela.
Lia cruzou os braços.
— Não precisa fingir simpatia. Eu prefiro silêncio.
— Ah, vai ser divertido te fazer quebrar essa pose.
Mita cochichou pra Lolo:
— Eles vão se matar ou se beijar, certeza.
As duas riram.
O professor passou as instruções do trabalho: uma apresentação sobre o tema "Quem você é além das aparências". Perfeito. Como se não bastasse ser obrigada a interagir com ele, ainda tinham que falar de si mesmos.
Lia suspirou, cansada. Yuri apoiou o queixo na mão e disse:
— Quer começar ou prefere que eu fale primeiro pra você me odiar mais?
Ela soltou um sorrisinho irônico.
— Fala. Quanto antes você abrir a boca, antes eu pego nojo.
Yuri riu de verdade, e por um instante, a sala pareceu ficar mais leve. Por um instante.
Mas o olhar deles…
Ainda cortava.
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Atualizado até capítulo 31
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