A sala de aula estava mais barulhenta que o normal naquela manhã. Lia entrou como sempre, com os fones de ouvido cobrindo metade do rosto e a expressão fechada, tentando não chamar atenção. Do outro lado da sala, Yuri já estava largado na cadeira, jogando conversa fora com Helo, a melhor amiga dele — ou melhor, dela, e rindo alto de alguma piada besta.
Assim que os olhos de Yuri encontraram os de Lia, foi como se o mundo ao redor sumisse por um instante. Os dois se encararam, e era fácil sentir o clima pesado que se formava entre eles.
"Bom dia, turma!" A professora Sayuri entrou sorridente, mas ninguém percebeu o quão feliz ela estava. Nem Lia, nem Yuri. Eles só quebraram o contato visual quando Mita cutucou Lia no ombro.
"Você tá bem, Lele?"
"Tô." Lia respondeu seca.
"Hoje a gente vai fazer um trabalho especial em dupla!" — anunciou a professora, batendo palmas. — "Vocês vão conhecer melhor a pessoa que menos gostam na turma."
A sala virou um caos. Murmúrios, protestos e risadinhas ecoaram, e Yuri soltou um "Ah, não!" tão alto que até a professora arqueou a sobrancelha.
"O trabalho vai valer nota e será apresentado amanhã."
"Mas professora..." Mita já tentava intervir, mas Sayuri cortou:
"Sem reclamações. Vou anunciar as duplas agora."
Lia sentiu o coração acelerar, e uma estranha sensação de nervoso subiu pelo corpo. Ela já sabia. Antes mesmo do nome ser chamado, ela sabia.
"Lia e Yuri."
O silêncio caiu pesado na sala. Lia mordeu o lábio, sentindo o olhar debochado de Yuri pousar nela.
"Ótimo." Ele disse, levantando da cadeira. "A maldição foi jogada."
Lia se levantou também, cruzou os braços e olhou para ele com um desprezo ensaiado.
"Vamos fazer isso logo, e ficar o mais longe possível um do outro depois."
"Combinado, princesa." Yuri sorriu de lado, irritantemente confiante.
Mais tarde, na biblioteca do colégio, onde decidiram se reunir para pelo menos esboçar o trabalho, as coisas não estavam melhores.
"Você vai só ficar aí me encarando ou vai falar alguma coisa útil?" Lia disse, largando o caderno na mesa.
"Tava admirando essa sua capacidade de ser amarga o tempo todo. Impressionante."
"Engraçado vindo de quem só sabe bancar o valentão."
"Não é valentia, é autenticidade. Você devia experimentar."
Lia revirou os olhos. Mas no fundo, aquelas palavras mexeram com ela mais do que gostaria de admitir.
Eles tentaram começar o trabalho. O objetivo era listar coisas em comum e diferenças, mas tudo que conseguiam era provocar um ao outro.
"Eu odeio doce."
"Adoro. Mais um motivo pra gente não funcionar nunca."
"Prefiro ficar sozinha."
"Prefiro gente sincera. Já viu como tá difícil?"
A tensão era tanta que até os outros estudantes na biblioteca cochichavam olhando pra eles. Mas ali, naquela troca de farpas, alguma coisa começou a mudar. Por trás de cada provocação, vinha uma resposta rápida e inteligente, e no fundo… divertido. Era como se, aos poucos, ambos começassem a perceber que ninguém ali conseguia acompanhar o outro da mesma forma.
Em um momento, Yuri pegou uma folha que Lia rabiscava e olhou.
"Você desenha bem."
Ela puxou rápido.
"Não interessa."
"Só falei a verdade." Yuri deu de ombros, mas um leve sorriso surgia no canto da boca.
Por um segundo, os olhos deles se encontraram de novo. Sem o ódio, sem o sarcasmo. Só dois jovens cansados de se esconder atrás de máscaras.
Mas durou pouco.
"Você ainda é insuportável." Lia disse, se levantando com o caderno em mãos.
"E você ainda é marrenta." Yuri respondeu, mas dessa vez, com um leve tom de… respeito?
No dormitório, antes de dormir, Lia olhou o caderno com os rabiscos do trabalho e suspirou. Mita apareceu, sentou na cama dela e perguntou:
"Foi tão ruim assim, Lele?"
"Foi…" Lia sorriu de canto. "… e nem tanto."
Do outro lado, Yuri estava deitado, com Helo fazendo perguntas, e ele só disse:
"Ela é um problema… mas até que interessante."
O capítulo termina com ambos encarando o teto, pensando no dia e naquele olhar que, de algum jeito, começou a cortar as barreiras.
A manhã começou pesada, mas ninguém sabia muito bem o motivo. Lia tentou se convencer de que estava tudo normal. Ignorou os olhares de Mita, que insistia em dizer que ela estava “com cara de quem sonhou com gente proibida”.
Do outro lado, Yuri chegou mais calado que o normal. Helo percebeu, claro.
"Tá com febre ou tá apaixonado?"
"Só calado, Helo. Relaxa." Ele respondeu, enfiando as mãos nos bolsos.
Mas o clima da sala mudaria de verdade minutos depois, quando a diretora entrou acompanhada de um garoto novo.
"Turma, esse é Noah. Ele vai estudar com vocês a partir de hoje."
Noah era do tipo que todo mundo repara. Cabelos escuros, pele clara, um sorriso fácil e um jeito calmo. Assim que se apresentou, os olhares curiosos foram inevitáveis.
E quando ele procurou um lugar vazio e parou ao lado de Lia, o caos começou.
"Posso sentar aqui?" Ele perguntou.
Lia, meio surpresa, assentiu.
"Sou o Noah."
"Lia."
Mita, do outro lado, já tava quase surtando. Mordeu o lábio e mandou um bilhetinho:
"Adivinha quem vai morrer de ciúmes."
Yuri, que até então fingia mexer no celular, travou assim que viu Noah puxar conversa com Lia. A cena o irritou mais do que deveria.
"Que foi?" Helo cutucou.
"Nada."
Mas era. Era muito.
No intervalo, Noah seguiu Lia e Mita até o pátio.
"Posso acompanhar vocês?"
Mita piscou animada. Lia deu de ombros.
"Se quiser."
A conversa fluiu fácil, Noah era engraçado e tinha um jeito leve que deixava Lia à vontade. Mita achava tudo aquilo lindo.
Até Yuri aparecer, é claro.
"Bonito o novo amiguinho." Yuri disse, parando na frente deles.
Lia rolou os olhos.
**"Qual o seu problema?"
"Nenhum. Só achei interessante você se enturmar tão rápido. Ontem queria distância de todo mundo."
Noah tentou aliviar.
"A gente só tava conversando."
"Uhum. Conversa boa, hein." Yuri provocou, sem conseguir disfarçar o incômodo.
Mita deu um cutucão de leve em Lia.
"Cuidado, Lele… ele tá no ponto de explodir."
Lia, no fundo, se divertia. Um sorriso debochado surgiu no canto da boca.
"Se incomoda, Yuri? Tá com medo de perder o posto de insuportável número um?"
Yuri deu um passo pra frente.
"Você sabe muito bem que ninguém ocupa meu lugar, princesa."
O olhar que trocaram foi intenso. Um silêncio pesado caiu. Noah olhou de um pro outro, já percebendo que tinha algo estranho ali.
Helo, lá de longe, murmurou pra si mesma.
"Eita… isso vai dar ruim."
Mais tarde, no dormitório, Mita estava deitada na cama de Lia, mexendo no celular.
"Você sabe que ele ficou puto, né?"
"Problema dele."
Mas enquanto dizia isso, Lia mordia o lábio, revivendo o olhar de Yuri. E pela primeira vez, não era raiva. Era… outra coisa.
"O Noah é bonito." Mita disse.
"É." Lia concordou.
"Vai ficar com ele?"
Lia ficou em silêncio.
"Não sei." Respondeu.
No fundo, sabia. Porque mesmo com Noah ali, era Yuri quem invadia os pensamentos dela.
E do outro lado do colégio, Yuri também encarava o teto do quarto, bufando.
"Idiota." Ele resmungou.
Se era sobre Lia ou sobre ele mesmo, já nem sabia mais.
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Atualizado até capítulo 31
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