Mais tarde:
O vestido era vermelho. Não um vermelho comum, mas aquele tom específico que faz qualquer um virar o rosto por instinto, uma mistura de poder e perigo. Ele descia colado ao corpo, sem ser vulgar, e terminava com uma leve cauda esvoaçante. Eu me olhei no espelho e, por um segundo, quase não me reconheci. Clara Medeiros havia desaparecido. Em seu lugar, havia uma noiva fictícia, envolta em cetim e expectativa.
O evento era uma festa beneficente organizada pela fundação Valmont, em homenagem ao aniversário de morte do patriarca da família. Uma ironia, celebrar a ausência com champanhe e flashes. Eu era a novidade da noite. A prometida do herdeiro. A mentira mais bem vestida do salão.
Damon não apareceu até minutos antes da nossa entrada. Surgiu no hall com a mesma frieza elegante de sempre, vestindo um terno preto impecável. Olhou para mim sem sorrir, como se estivesse avaliando uma peça de arte em um leilão.
— Está pronta? — ele perguntou.
— O que eu deveria responder? “Sim, querido”? — retruquei.
Um canto de sua boca se curvou. Não era um sorriso. Era algo mais contido. Mais cínico.
— Não tente ser espirituosa hoje. Só sorria. E segure minha mão.
Eu segurei. A mão dele era firme, como da primeira vez, mas agora havia algo tenso sob a pele. Como se, mesmo com o domínio que exalava, houvesse uma sombra correndo sob a superfície.
O salão estava cheio. As luzes banhavam os convidados em ouro e cristal. Champanhe fluía como rio, risadas ecoavam como música. E então, a atenção virou-se para nós.
— Eles estão olhando — murmurei.
— Ótimo. Faça valer o dinheiro.
Damon envolveu minha cintura com um gesto ensaiado, e juntos cruzamos o salão como se fôssemos reais. Vi cabeças se virarem, sorrisos falsos se formarem, cochichos começarem. A maioria deles disfarçada de cortesia.
— Damon, meu querido — disse uma mulher mais velha, de colar de pérolas e voz adocicada. — E essa é…?
— Clara Medeiros. Minha noiva.
A palavra “noiva” saiu de sua boca como uma faca envolta em veludo. Eu só pude sorrir, inclinar levemente a cabeça e oferecer a mão. O teatro havia começado.
A mulher me examinou como quem analisa uma nota de dinheiro suspeita.
— Nunca ouvi falar.
— Prefiro pessoas que não gostam de holofotes — respondeu Damon, com um leve aperto na minha cintura. Quase protetor. Quase verdadeiro.
Conversas se seguiram. Brindes. Apresentações. Em um momento, Damon se afastou para conversar com um grupo de acionistas, e eu fiquei sozinha ao lado da fonte central, segurando uma taça que mal tocava.
Foi então que Tristan surgiu, em um canto do salão, com uma taça na mão e um olhar divertido. Estava mais informal, de blazer escuro e camisa aberta no colarinho. Parecia deslocado de propósito. Quando me viu, ergueu a taça no ar como um brinde silencioso.
Me aproximei, por puro instinto.
— Está se saindo bem — ele disse. — Quase me convenceu.
— Achei que não era do tipo que elogia.
— Não sou. Mas você tem algo... perigoso.
— E isso é bom?
— É perigoso — repetiu, com aquele sorriso meio torto. — Isso nunca é só bom.
Ficamos ali por alguns segundos, observando o salão. Então Tristan se inclinou levemente.
— Cuidado com ele.
— Damon?
— Ele não é o homem que parece ser. E nem tudo que parece controle... é força.
— E você? O que esconde?
— O necessário — respondeu, e foi embora antes que eu pudesse insistir.
Voltei para perto de Damon quando ele fez um gesto quase imperceptível. Nosso teatro continuava. Fomos convidados para o brinde central. O mestre de cerimônias chamou os nomes. As taças se ergueram. E, no meio da cerimônia, a mão de Damon procurou a minha.
— Está se saindo melhor do que eu esperava — murmurou.
— Isso é um elogio?
— É uma constatação.
Ficamos lado a lado, como duas peças cuidadosamente posicionadas. E, por mais que minha mente gritasse que tudo aquilo era falso, meu corpo reagia diferente. A proximidade. O toque. O calor discreto entre nós.
Era só atuação.
Era só por três semanas.
Mas naquela noite, entre as luzes douradas e os sorrisos forçados, algo dentro de mim começou a mudar.
Não era apenas o papel que me afetava. Eram os dois irmãos. Tão opostos. Tão enigmáticos.
E eu, no meio de tudo, começava a perder o controle sobre o que era mentira e o que poderia ser verdade.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
GAMER W (TITANS BR)
a leitura está me prendendo de uma forma encantadora que acabo esquecendo de tudo só para continuar coadjuvante dessa intriga maravilhosa
2025-05-09
1
Vera Lucia Berlanda de Andrade
eu estou estranhando que só eo estou comentando será que só eu estou lendo a história?
2025-05-07
0
Cristiane F silva
Acho que N mas é começo de história
2025-05-08
1