A mansão Valmont ficava no topo de uma colina, como um castelo isolado em um conto de fadas distorcido. O portão imponente, cercado por uma cerca alta, me fez sentir como se estivesse sendo levada a uma prisão dourada. A estrada até lá era ladeada por árvores frondosas, que, àquela altura, estavam quase nuas, como se estivessem despojadas de qualquer sentimento. O vento cortante parecia me recordar, a cada curva, que eu não estava apenas indo para um trabalho temporário, estava entrando em um mundo onde eu não pertencia.
O carro parou na frente da entrada principal. O motorista, um homem de terno escuro e olhar impassível, não disse uma palavra. Eu olhei pela janela para a mansão que se erguia diante de mim, uma construção colossal, de fachada branca e vidro, com imponentes colunas de mármore. As luzes acesas dentro da casa pareciam dançar, como se estivessem me esperando, e uma sensação estranha tomou conta de mim. Era como se eu estivesse em um filme, prestes a ser revelada como a personagem central em uma trama que eu não entendia totalmente.
Respirei fundo antes de sair do carro. Meus pés hesitaram ao tocar o caminho de pedras perfeitamente alinhadas. À medida que me aproximava da porta, uma mulher de uniforme preto e semblante sério me recebeu. Seus olhos analisaram-me com uma precisão que me fez sentir pequena e vulnerável.
— Senhorita Medeiros — ela disse, com uma formalidade gelada, enquanto me conduzia para dentro da casa.
A entrada era mais impressionante do que eu imaginava, com um grande lustre de cristal pendendo do teto e tapetes luxuosos cobrindo o piso. A mansão exalava riqueza e poder. Nada disso parecia real. Eu era apenas uma escritora falida que, por capricho do destino, estava fingindo ser noiva de um herdeiro bilionário.
Seguimos por um corredor largo até chegar a uma grande sala de estar. Uma lareira imensa dominava o ambiente, e a decoração, apesar de requintada, tinha uma frieza inquietante. Foi quando percebi que não havia ninguém ali, exceto uma mesa grande e uma cadeira, onde Damon estava sentado. Ele olhava para o nada, como se estivesse esperando que eu chegasse para encenar a vida que nos fora atribuída.
Ao ver-me, Damon levantou-se com a mesma expressão impassível de sempre. Não havia qualquer sinal de calor no seu olhar, mas seu corpo se endireitou. Eu não sabia se isso era um bom sinal ou um aviso.
— Clara. — Ele pronunciou meu nome com uma leveza estranha, como se fosse a primeira vez que ele realmente me notava. — Bem-vinda à mansão Valmont.
Eu apenas assenti, incapaz de articular palavras em resposta. Tudo ali parecia fora do meu alcance.
A mulher de terno preto saiu sem dizer nada, e ficamos os dois em silêncio por alguns momentos. O peso da situação me atingiu como um muro. Fingia ser noiva de um homem que sequer parecia interessado em interagir comigo. Eu não sabia se isso era parte do plano ou apenas mais uma consequência do jogo que estava prestes a começar.
— Como está se sentindo? — Damon perguntou, e pela primeira vez, sua voz soou um pouco mais humana, menos mecânica.
— Como você acha que eu deveria me sentir? — respondi com um tom ácido, tentando disfarçar o nervosismo que começava a me consumir.
Damon sorriu ligeiramente, um sorriso contido, como se o mundo estivesse o observando e ele precisasse manter a compostura. Ele me observava como um caçador observa sua presa, calculando, esperando o momento certo para agir.
— Não espero que você se sinta confortável, Clara. Não aqui, não com isso. — Ele fez uma pausa, quase como se estivesse ponderando suas palavras. — Mas você está aqui por um motivo. Vamos seguir o protocolo, e em três semanas, você terá o pagamento que foi acordado. Nada mais.
Eu balancei a cabeça, tentando processar o que ele dizia. Três semanas. Apenas três semanas para viver um personagem que não era meu, em um mundo que não era o meu. Meu estômago virou só de pensar na farsa que eu estava prestes a representar. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que não tinha escolha. A oferta era tentadora, e o risco, inevitável.
— E o que exatamente você espera de mim? — perguntei, tentando manter a compostura.
Ele deu um passo em minha direção, e por um momento, senti o espaço entre nós se estreitar.
— Apenas uma noiva de fachada, Clara. Nada mais. Apenas convença o mundo de que você faz parte da nossa família.
Eu queria desabafar, questionar o que exatamente ele queria esconder com tudo isso, mas ao olhar nos olhos de Damon, uma parte de mim sabia que ele também estava preso em sua própria mentira. Ele não era o vilão da história, ele era apenas um homem tentando lidar com os próprios demônios, assim como eu.
— E se eu não seguir o plano? — perguntei, mais por instinto do que por dúvida real.
Damon encolheu os ombros ligeiramente.
— Isso não é uma ameaça, Clara. Não estamos em um jogo de vida ou morte. Apenas faça o que foi prometido, e todos sairemos ganhando.
Eu assenti, com o coração batendo mais forte agora. Eu não estava mais lidando com um simples trabalho. Eu estava dentro de um jogo perigoso, onde as peças eram pessoas, e as consequências, imprevisíveis.
Damon virou-se para o outro lado da sala, e a tensão no ambiente era palpável. Quando olhei em sua direção, ele já não parecia mais interessado em mim. Era como se minha presença ali fosse uma obrigação que ele precisava cumprir. E aquilo, de alguma forma, me doeu mais do que qualquer coisa que ele pudesse ter dito.
— Vou deixá-la se instalar, Clara. — A voz dele estava distante, fria novamente. — Em três dias, temos o primeiro evento. Seja convincente.
E com isso, ele se retirou, deixando-me sozinha no que parecia ser um labirinto de luxo e segredos.
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Atualizado até capítulo 60
Comments
Cristiane F silva
N entendie será que são gêmeos idêntico
2025-05-08
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Dulci Oliveira
será que ele esconde algo 🤔
2025-05-08
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