Capítulo 5 Correntes invisíveis

O rugido das turbinas cessou assim que o jato pousou na pista privada. O céu estava nublado, o ar pesado, como se pressentisse os próximos dias. Nério desceu com passos decididos, o olhar impassível. A noite em Paris ainda vibrava em sua mente — a presença de Cristina, seu perfume, os toques... Mas ele a deixara para trás, como tantas vezes antes. Agora, havia outra prioridade: o casamento.

Assim que entrou no carro, fez uma única ligação.

— Marta, prepare Bella. Quero vê-la assim que chegar.

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Na mansão, Bella já havia notado o movimento incomum dos empregados. Marta tentava disfarçar, mas a jovem sentia o ar carregado de expectativa.

— Ele está chegando, não é? — perguntou, tensa.

Marta apenas assentiu, arrumando as almofadas do sofá com mãos trêmulas.

— E não vem sozinho.

O coração de Bella disparou. Quem viria com ele? A noiva verdadeira? Algum chefão? Um inimigo?

Quando Nério finalmente chegou, Bella estava na sala principal, tentando manter a postura. Sua beleza, mesmo simples, sobressaía. O vestido branco leve contrastava com sua expressão tensa.

Nério entrou ladeado por um homem alto, forte, com olhos de aço, e uma mulher elegante, loira, de sorriso calmo e observador.

— Bella, este é Demétrio, meu braço direito. E sua esposa, Clara.

Ela os cumprimentou com um aceno tímido, sentindo o olhar de Demétrio pesando sobre ela como uma análise fria.

— Sente-se — ordenou Nério, apontando para a poltrona à frente.

Bella obedeceu. O coração batia rápido.

— Preciso ser direto — começou ele. — Nos próximos dias, vamos nos casar.

Ela piscou, atônita.

— O quê?

— É necessário. Para que eu mantenha minha posição dentro da organização, o casamento é obrigatório. E você será minha esposa.

— Você está brincando... — sussurrou ela, se levantando. — Isso é algum tipo de loucura?

— Não. É fato.

— Você me sequestrou! Me comprou! Agora quer me forçar a casar com você?

— Eu te protegi. E agora, você vai ter mais do que proteção. Vai ter status, segurança. Vai estar ao meu lado.

— Eu nunca concordei com isso!

Demétrio deu um passo à frente, sua voz firme:

— O casamento não é negociável. Se Nério não o fizer, será removido da liderança. E removido... pode significar morto. Se isso acontecer, você estará sozinha. E exposta.

Bella olhou para Clara, buscando alguma empatia.

— É verdade — confirmou Clara, com suavidade. — Eu sei que parece cruel, Bella. Mas nesse mundo, cada passo é calculado. Se ele está te escolhendo, há um motivo.

— Que motivo? — perguntou Bella, com lágrimas represadas. — O que tem de tão especial em mim?

Nério a observou, e por um momento, seu olhar suavizou.

— Você tem algo que ninguém mais tem. Você é real. Não vive neste mundo, e talvez por isso me lembre que ainda sou humano.

A confissão fez Bella recuar, confusa. Queria odiá-lo, gritar, fugir. Mas parte de si estava estranhamente tocada. Não era amor, era outra coisa. Algo que nascia do medo e da atenção inesperada.

— Eu preciso pensar — disse ela, por fim.

— Pense o quanto quiser — respondeu Nério. — Mas o casamento será em cinco dias.

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No quarto, Bella caminhava de um lado ao outro, inquieta. Marta entrou com uma bandeja e observou sua angústia.

— Ele foi claro, não foi?

— Como alguém pode ser tão frio, Marta? Como pode simplesmente decidir casar com alguém que ele mal conhece?

— Porque ele não age como homem. Age como líder. No mundo dele, tudo é uma jogada.

Bella respirou fundo.

— E se eu fugisse?

— Você não chegaria nem até o portão. Os seguranças são leais. E do lado de fora... há quem deseje a cabeça dele. E usaria você para chegar lá.

— Estou em uma prisão dourada.

— Pode ser — disse Marta. — Mas prisões também podem ser lares. Se você tiver coragem de dominar o espaço ao seu redor.

Bella se sentou na beirada da cama, a mente a mil.

— Ele não disse que me ama. Não me deseja. Apenas precisa de mim.

— Às vezes, o amor vem depois. Ou... vem silencioso.

Bella sorriu com amargura.

— Não acredito mais em amor.

— Então acredite em sobrevivência. E transforme isso em força. Você tem mais poder do que imagina, menina.

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Na manhã seguinte, Nério apresentou Bella a mais pessoas de confiança. Seus homens agora a tratavam com reverência. E ao lado dele, ela se tornava... visível. Um símbolo.

Demétrio, já mais à vontade, falou diretamente com ela enquanto Clara observava em silêncio.

— Você vai ser bem treinada. Marta vai te ajudar nos protocolos. Precisará se comportar como esposa de um chefe. Elegante, firme, estratégica.

— Eu não sou atriz — respondeu ela.

— Vai ter que aprender.

Nério surgiu logo depois, com algo nas mãos. Uma pequena caixa de veludo.

— Ainda falta o anel — disse, abrindo e revelando uma joia exuberante.

Bella sentiu o coração apertar.

— Isso não é um conto de fadas, Nério.

— Eu sei. Contos de fadas têm finais felizes. Nós... ainda estamos escrevendo o nosso.

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Do lado de fora da mansão, o céu continuava cinzento. Mas dentro de Bella, uma tempestade tomava forma — e ela nem imaginava que a verdadeira tormenta ainda estava por vir... quando descobrisse Cristina.

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