A BELA E A FERA ( nos Braços do Mafioso)

A BELA E A FERA ( nos Braços do Mafioso)

Capítulo 1 – O Sonho Que Virou Pesadelo

O vento soprava forte naquela tarde em que Isabella deixou sua pequena cidade rumo a São Paulo. O coração batia acelerado no peito, misturado entre medo e euforia. Aos vinte e dois anos, finalmente estava indo atrás do sonho que alimentava desde criança: ser modelo. Sempre ouvira que tinha beleza rara, traços delicados, e um brilho no olhar que chamava atenção. Era sua chance.

Foi Márcia, uma mulher elegante que apareceu em sua cidade com promessas de agenciamento, que lhe abriu a porta para esse "mundo mágico". “Você tem um perfil internacional”, dissera. “Comigo, sua carreira decola.” Isabella, ingênua, acreditou. Mal sabia que estava caminhando direto para a armadilha.

A rodoviária era barulhenta e agitada. Isabella carregava apenas uma mala simples, recheada de esperanças e algumas poucas roupas. Ao desembarcar, foi recebida por um homem alto, de óculos escuros e cara fechada. Ele se apresentou como Rubens, assistente de Márcia. Sem muita conversa, colocou a mala no porta-malas do carro e pediu que ela entrasse.

— Márcia está esperando você no apartamento onde vai ficar hospedada — disse, seco.

Durante o trajeto, Isabella tentou puxar assunto, mas Rubens limitava-se a respostas monossilábicas. A cidade parecia enorme demais, barulhenta demais, cheia de rostos apressados e frios. O contraste com sua cidadezinha era assustador, mas ela não queria se deixar abater. “É só o começo”, pensou.

Quando o carro parou diante de um prédio antigo e escuro, no bairro da Mooca, Isabella franziu o cenho. Aquilo não parecia nem de longe um local de hospedagem para modelos. Desceu hesitante.

— Márcia está lá dentro. Sobe — indicou Rubens, apontando para o portão de ferro.

No segundo andar, a porta já estava entreaberta. Isabella bateu, sem resposta. Entrou devagar.

O cheiro forte de cigarro e álcool a fez recuar. O apartamento estava escuro, mal iluminado, com móveis velhos e desorganizados. Em vez de Márcia, quem a esperava era outro homem — muito mais imponente, de expressão dura e olhos penetrantes.

— Quem... quem é o senhor? — gaguejou.

— Nério Belchior — respondeu ele, cruzando os braços. — Você é a Isabella?

— Sou. Mas... onde está Márcia?

O sorriso dele foi seco, quase debochado.

— Márcia cumpriu sua parte. Agora você é minha.

A frase soou como um tiro. Isabella arregalou os olhos, confusa.

— Como assim?

— Fui claro. Você foi vendida, garota. Márcia é apenas uma intermediária. Bem-vinda ao seu novo mundo.

O choque foi tão grande que Isabella perdeu o chão. Suas pernas tremiam. Tentou recuar, correr para a porta, mas dois homens surgiram do nada, bloqueando sua saída.

— Vocês estão loucos! Isso é sequestro! — gritou, a voz embargada pelo desespero.

Nério aproximou-se, impassível. Ele tinha uma presença intimidadora. A cicatriz discreta na sobrancelha esquerda e o olhar sombrio davam a ele um ar perigoso. Era como encarar uma fera.

— Você não faz ideia de onde se meteu, mocinha. Gritar não vai te ajudar.

Isabella sentiu as lágrimas escorrerem pelo rosto. O sonho de ser modelo se desfazia como areia entre os dedos. Tudo era uma mentira. Estava presa. Vendida.

— Por que... por que está fazendo isso comigo?

— Porque eu posso — respondeu ele, virando-se para sair. — Descansa. Amanhã começa sua nova vida.

A porta se fechou com um estrondo, e o som das trancas sendo passadas foi como o selar de um destino cruel. Sozinha no quarto escuro, Isabella caiu de joelhos, sufocada pelo medo. O apartamento parecia uma prisão, mas mais aterrador era o fato de que sua liberdade fora arrancada sem qualquer aviso.

E no meio de toda aquela escuridão, uma certeza queimava em seu peito: ela não se renderia tão fácil.

Isabella ficou ali, caída no chão frio, por tempo indeterminado. A mente rodava em círculos, tentando encontrar alguma explicação lógica para o que acabara de acontecer. “Talvez seja um teste”, tentou acreditar. “Um tipo de pegadinha cruel para ver se eu aguento pressão.” Mas no fundo, ela sabia: aquilo era real.

Com esforço, levantou-se e olhou ao redor. O quarto onde fora deixada tinha paredes sujas, uma cama de solteiro com lençóis encardidos e uma janela gradeada. Não havia armário, apenas uma cômoda quebrada e um espelho rachado. Seu reflexo parecia de outra pessoa — assustada, desfigurada pela dor.

Tateando os cantos do cômodo, ela tentou encontrar alguma saída, alguma fresta de liberdade. Nada. Só paredes e grades. A porta estava trancada por fora.

As horas passaram lentamente. Quando finalmente a maçaneta girou novamente, Isabella recuou instintivamente. A porta se abriu, revelando uma mulher de meia-idade, cabelos presos num coque apertado e expressão dura. Carregava uma bandeja.

— Coma — ordenou, deixando a comida sobre a cômoda. — E tome um banho. Você tem uma entrevista amanhã.

— Entrevista? — Isabella murmurou, confusa. — Eu não vou trabalhar para ele! Quero ir embora!

A mulher a encarou por um momento.

— Não seja tola. Aqui, ou você se adapta... ou se perde.

Sem dizer mais nada, a mulher saiu e trancou a porta novamente.

Isabella se aproximou da comida, mas o estômago embrulhado recusava qualquer mordida. Sentia-se violada, traída, jogada num pesadelo que parecia não ter fim. Mesmo assim, decidiu tomar um banho. Precisava pensar com clareza, precisava manter a sanidade.

No chuveiro, a água era gelada e o encanamento fazia barulhos estranhos. Ainda assim, ela deixou que a água escorresse por seu corpo como uma tentativa de lavar a dor. A cada gota, lembrava-se de casa — de sua mãe, da avó, das noites olhando as estrelas, sonhando com passarelas e holofotes.

“Eu preciso sair daqui. Eu preciso voltar pra casa.”

Naquela noite, não dormiu. O colchão era duro, o travesseiro cheirava mofo, e os pensamentos eram torturantes. Em algum momento, ouviu passos no corredor e vozes abafadas. Uma delas era de Nério. Ela reconheceu o timbre autoritário, as ordens curtas, os silêncios entre as frases. Havia algo de perigoso, mas... também intrigante.

Na manhã seguinte, a mesma mulher voltou com roupas. Um vestido preto colado, salto alto, maquiagem forte. Isabella hesitou.

— Eu não vou vestir isso.

— Vai sim — a mulher respondeu. — Nério quer que você esteja apresentável. Hoje você vai aprender a sorrir mesmo com o coração sangrando.

Isabella mordeu o lábio, as mãos tremendo. No fundo, sabia que não adiantava resistir à força. Precisava ser esperta, estratégica. Se fingisse submissão, talvez ganhasse tempo para escapar.

Vestiu-se com nojo de si mesma, mas ergueu o queixo. Havia fogo nos olhos, mesmo por trás das lágrimas secas.

Pouco depois, foi conduzida por um dos capangas até uma sala ampla no andar de baixo. Era luxuosa, com móveis caros, decoração sombria e um forte cheiro de charuto. Nério estava ali, sentado à cabeceira de uma grande mesa, observando-a.

— Bela — disse ele, com ironia. — Sente-se.

Ela não respondeu. Sentou-se, mantendo o máximo de distância possível.

— Hoje você vai acompanhar Marta a um evento. Quero que observe, aprenda. Em breve, será você quem estará sorrindo para meus parceiros.

— Eu não sou um objeto — retrucou, com a voz firme.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Mas está sob minha posse. Não se esqueça disso.

O sangue de Isabella ferveu. Teve vontade de gritar, de bater, de quebrar tudo. Mas conteve-se. Sua mente sussurrava: “Calma. Respira. Finja.”

O dia foi longo. Marta, a mulher dura que a alimentara, revelou-se uma espécie de “instrutora”. Mostrou-lhe como andar, como sorrir, o que dizer. Isabella absorvia tudo com olhar atento, mas por dentro arquitetava sua fuga.

A noite chegou rápida, e com ela, a primeira saída. Em um carro preto, Isabella foi levada a um evento em um restaurante de luxo. Ali, homens ricos, olhares famintos, e sorrisos falsos se misturavam ao som do jazz.

Isabella tentou parecer indiferente, mas seu coração disparava a cada passo. Entre as taças de vinho e os risos forçados, seus olhos buscaram uma saída. Uma brecha. Um rosto que parecesse confiável.

E então, ela viu.

No canto do salão, um homem de expressão serena, olhar atento. Ele a encarava como se enxergasse além da maquiagem, além do vestido. Como se a visse de verdade.

Isabella desviou o olhar. Mas algo dentro dela despertou.

Ela ainda não sabia, mas aquele olhar marcaria o começo de uma reviravolta inesperada.

O jogo estava apenas começando.

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Comments

Katy Lee

Katy Lee

Então eu não gosto de ler quando não tem foto, pq elas ajudam a gente mergulhar melhor na história

2025-06-07

0

Jucelia Oliveira

Jucelia Oliveira

colocar fotos deles fica mais interessante

2025-05-13

0

Jandira Araujo

Jandira Araujo

coloca fotos por favor

2025-06-03

0

Ver todos
Capítulos
1 Capítulo 1 – O Sonho Que Virou Pesadelo
2 Capítulo 2 A promessa do silêncio
3 Capítulo 3 Máscaras caindo
4 capítulo 4 Terras estrangeiras
5 Capítulo 5 Correntes invisíveis
6 Capítulo 6 O escândalo do Sim
7 Capítulo 7 A Máscara retorna
8 Capítulo 8 Após uma bela noite
9 Capítulo 9 Prisão invisível
10 Capítulo 10 Visitante
11 Capítulo 11 Minha irmãzinha querida
12 Capítulo 12 Minha vozinha Vanda
13 Capítulo 13 Atingido
14 Capítulo 14 Um sinal
15 Capítulo 15 Noite proibida
16 Capítulo 16 O que vem depois?
17 Capítulo 17 Sequestro
18 Capítulo 18 Minha Bella
19 Capítulo 19 Um dia de paz
20 Capítulo 20 Convite ao silêncio
21 Capítulo 21 Meu pesadelo
22 Capítulo 22 Bernardo Belchior
23 Capítulo 23 Decisão
24 Capítulo 24 A dor
25 Capítulo 25 Consolação
26 Capítulo 26 O divórcio
27 Capítulo 27 Contratada
28 capítulo 28 Reencontro
29 capítulo 29 De novo
30 Capítulo 30 A verdade
31 capítulo 31 Começando a Agir
32 Capítulo 32 Vingança
33 Capítulo 33 A queda e o Contrato
34 Capítulo 34 Em Paris
35 Capítulo 35
36 Capítulo 36 O tempo não apaga
37 Capítulo 37 Verdades
38 Capítulo 38 Ecos da Escolha
39 Capítulo 39 Provas
40 Capítulo 40 Justiça
41 Capítulo 41 Amor, paz e confronto
42 Capítulo 42 A sombra do passado
43 Capítulo 43 Sombras
44 Capítulo 44 Nério
45 Capítulo 45 O pedido
46 Capítulo 46 Após um ano
47 Capítulo 47 fantasmas
48 Capítulo 48 Esperança
49 Capítulo 49 A Luz
50 Capítulo 50 Entre fraldas, beijos e silêncios
51 Capítulo 51 Sombras e luz
52 Capítulo 52 Um refúgio só nosso !
53 Capítulo 53 O amanhacer da caça
54 Capítulo 54 O caçador
55 Capítulo 55 Colocando um fim
56 capitulo 56 Uma nova estação
Capítulos

Atualizado até capítulo 56

1
Capítulo 1 – O Sonho Que Virou Pesadelo
2
Capítulo 2 A promessa do silêncio
3
Capítulo 3 Máscaras caindo
4
capítulo 4 Terras estrangeiras
5
Capítulo 5 Correntes invisíveis
6
Capítulo 6 O escândalo do Sim
7
Capítulo 7 A Máscara retorna
8
Capítulo 8 Após uma bela noite
9
Capítulo 9 Prisão invisível
10
Capítulo 10 Visitante
11
Capítulo 11 Minha irmãzinha querida
12
Capítulo 12 Minha vozinha Vanda
13
Capítulo 13 Atingido
14
Capítulo 14 Um sinal
15
Capítulo 15 Noite proibida
16
Capítulo 16 O que vem depois?
17
Capítulo 17 Sequestro
18
Capítulo 18 Minha Bella
19
Capítulo 19 Um dia de paz
20
Capítulo 20 Convite ao silêncio
21
Capítulo 21 Meu pesadelo
22
Capítulo 22 Bernardo Belchior
23
Capítulo 23 Decisão
24
Capítulo 24 A dor
25
Capítulo 25 Consolação
26
Capítulo 26 O divórcio
27
Capítulo 27 Contratada
28
capítulo 28 Reencontro
29
capítulo 29 De novo
30
Capítulo 30 A verdade
31
capítulo 31 Começando a Agir
32
Capítulo 32 Vingança
33
Capítulo 33 A queda e o Contrato
34
Capítulo 34 Em Paris
35
Capítulo 35
36
Capítulo 36 O tempo não apaga
37
Capítulo 37 Verdades
38
Capítulo 38 Ecos da Escolha
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Capítulo 39 Provas
40
Capítulo 40 Justiça
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Capítulo 41 Amor, paz e confronto
42
Capítulo 42 A sombra do passado
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Capítulo 43 Sombras
44
Capítulo 44 Nério
45
Capítulo 45 O pedido
46
Capítulo 46 Após um ano
47
Capítulo 47 fantasmas
48
Capítulo 48 Esperança
49
Capítulo 49 A Luz
50
Capítulo 50 Entre fraldas, beijos e silêncios
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