capítulo 4 Terras estrangeiras

O avião pousou no aeroporto particular nos arredores de Marselha ao cair da noite. Nério desceu a escada com o olhar duro, o paletó escuro ajustado com perfeição. Dois seguranças russos o esperavam à porta de uma Mercedes preta. Ele entrou sem dizer palavra. A reunião com o Capo da máfia russa, Sergei Ivanov, não era apenas estratégica — era crucial para manter a supremacia das rotas de armas na América do Sul.

Mas o que realmente fazia seu peito pesar era saber quem mais estava na França.

Cristina.

Fazia anos desde que seus caminhos haviam se separado de vez. Ela havia se casado com um aliado político da própria máfia, selando o destino dos dois. Ainda assim, a simples ideia de vê-la despertava nele sentimentos que julgava enterrados.

---

Horas antes, no Brasil, Isabella observava pela janela o novo cenário. A propriedade de campo de Nério era gigantesca — uma mansão de estilo colonial cercada por jardins floridos, uma piscina vazia e seguranças discretamente posicionados em cada canto. O lugar era lindo, mas ainda assim, parecia uma gaiola dourada.

— Está se sentindo mais segura aqui? — perguntou uma voz calma atrás dela.

Isabella se virou e viu uma mulher de cerca de sessenta anos, cabelos brancos presos num coque firme, e olhos firmes porém gentis. Era Marta, a governanta.

— Mais segura, talvez... mas não livre.

Marta sorriu, compreensiva.

— A liberdade é um luxo, menina. Mas às vezes a gente encontra ela em pequenos gestos. Um banho demorado, uma boa conversa, uma amizade.

Isabella gostou de Marta imediatamente. Havia algo de acolhedor naquela mulher que lhe lembrava sua avó.

— Pode me chamar de Bella — disse.

— E pode me chamar de Marta. Agora venha, vou te mostrar a biblioteca. Você parece precisar de distrações.

---

Em Marselha, o jantar de negócios entre os chefes foi regado a vinho, tensão e estratégias. Nério ouviu Sergei com atenção, mas sua mente estava em outro lugar. Quando a reunião terminou, ele caminhou sozinho pelas ruas silenciosas do centro antigo da cidade. As lembranças voltaram como ondas.

Foi então que a viu.

Cristina estava sentada na esplanada de um restaurante charmoso, os cabelos castanhos soltos sobre os ombros, bebendo um vinho tinto. Sozinha. Quando seus olhos se encontraram, o tempo pareceu congelar.

— Nério — ela disse, surpresa, ao se levantar.

— Cristina — respondeu, num sussurro.

Ela não hesitou. Correu para ele, o abraçando. O perfume dela, familiar, o fez fechar os olhos por um momento. Por um instante, esqueceu da máfia, da guerra, de Bella.

— Você ainda me procura em cada sombra? — ela sussurrou.

— Sempre — ele respondeu, antes de se dar conta.

Não houve resistência. Os dois seguiram juntos para o hotel onde Nério estava hospedado. Ali, palavras não bastaram. Foi o reencontro de dois corações ainda feridos, dois corpos que se conheciam como peças de um quebra-cabeça antigo. Fizeram amor como se o mundo fosse acabar ao amanhecer. Mas quando o sol começou a nascer pelas janelas francesas, a realidade voltou com força.

Cristina dormia ao seu lado. Linda. Intocável. Mas ele sentia um peso no peito. A lembrança de Isabella surgia em sua mente sem pedir licença. O rosto assustado da garota que ele havia resgatado. Os olhos castanhos que não tremiam diante de sua brutalidade.

E pela primeira vez... Cristina parecia pertencer ao passado.

---

Na propriedade no Brasil, Bella explorava a biblioteca quando encontrou um piano de cauda. Seus dedos, por impulso, tocaram as teclas. Era uma melodia suave, melancólica. Marta surgiu na porta sem fazer barulho, ouvindo.

— Você toca lindamente.

Bella parou, envergonhada.

— Aprendi com minha mãe. Antes dela morrer. Era a única coisa que nos conectava.

— A música é isso... uma forma de falar o que o coração não diz.

— Eu não sei o que meu coração quer, Marta. Não sei se odeio o Nério... ou se estou começando a sentir algo que não devia.

Marta se aproximou e sentou-se ao lado dela.

— O amor às vezes nasce nos lugares mais improváveis. Mas cuidado, menina. Corações duros como o do seu Nério são difíceis de amolecer. E quando partem... partem fundo.

Bella suspirou.

— Talvez ele nunca sinta nada por mim.

Marta sorriu com ternura.

— Talvez. Ou talvez você seja o único fio de luz que restou na vida dele.

---

Do outro lado do oceano, Nério observava Cristina ainda dormindo. Vestiu a camisa, ajeitou o relógio no pulso e pegou o celular. Abriu uma foto que tirara de Isabella no jardim, escondido, dias antes. Ela sorria para Marta, alheia ao clique.

E ali, no silêncio de um quarto francês, Nério Belchior sentiu pela primeira vez... que talvez sua guerra não fosse mais contra o mundo.

Mas contra ele mesmo.

Mais populares

Comments

Silvia Moraes

Silvia Moraes

Cristina e Nério estão adulterando e isso na máfia e sentença de morte !!

2025-05-12

1

Jucelia Oliveira

Jucelia Oliveira

fotos deles autora

2025-05-13

0

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!