Capítulo 5: As Terras Partidas

Aeryx voava alto, com Eldrin em suas costas, cruzando céus tempestuosos e vales que pareciam adormecidos há séculos. O ar era rarefeito, e cada batida das asas do Dragão Azul fazia o mundo abaixo estremecer, como se as montanhas reconhecessem a presença de um poder ancestral.

Eldrin segurava firme nas escamas cristalinas de Aeryx, sentindo a vibração da Canção ressoando em cada fibra de seu corpo. Desde que havia despertado o Fragmento da Segunda Voz, sua percepção mudara. Ele agora ouvia as melodias do mundo — os sons ocultos do vento, os lamentos das árvores, os sussurros das estrelas.

— Estamos próximos? — ele perguntou, a voz levada pelo vento.

Aeryx respondeu com um rosnado baixo, que vibrou como um trovão melódico.

— As Terras Partidas não são um lugar... são uma consequência. Um eco da Primeira Ruptura. Elas surgem onde a Canção foi mais danificada.

Eldrin olhou o horizonte. Uma rachadura gigantesca cortava a terra como uma cicatriz flamejante. No centro, erguiam-se pilares negros de obsidiana, flutuando no ar como restos de um mundo despedaçado.

— Lá... — disse Aeryx. — Lá dorme o terceiro Fragmento. Mas ele está protegido. E corrompido.

O dragão mergulhou em direção ao solo.

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As Terras Partidas exalavam calor e dissonância. Eldrin sentia a Canção fragmentada, como se cada passo ecoasse em mundos diferentes. À sua frente, um caminho feito de cristais rachados levava a uma estrutura parcialmente afundada — um anfiteatro antigo, onde as notas da Canção haviam sido usadas como armas.

Dentro do círculo de pedra, o ar ondulava com magia antiga.

Aeryx pousou ao lado de Eldrin.

— O Fragmento está no centro — disse o dragão. — Mas não está sozinho.

No centro do anfiteatro havia um pedestal flutuante, envolto por uma aura escura e pulsante. Ao redor, quatro figuras encapuzadas cantavam em harmonia sombria, olhos brilhando em verde. Os Guardadores da Dissonância.

— Eles foram músicos da Ordem Antiga — explicou Aeryx. — Mas enlouqueceram ao tentar dominar a Canção por completo. Agora são sombras do que foram... guardiões de uma melodia corrompida.

Eldrin apertou seu lirian. O Fragmento chamava por ele. A música dissonante pressionava sua mente como uma dor crescente.

Aeryx recuou.

— Só você pode entrar no Círculo. A harmonia é sua armadura.

Eldrin respirou fundo e deu o primeiro passo.

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Ao cruzar os limites do círculo, uma explosão de sons o atingiu. Gritos, risos distorcidos, dissonâncias horrendas. O mundo à sua volta girou, mas ele firmou os pés e tocou seu lirian.

Uma nota. Clara. Forte. Sua.

A dissonância recuou por um momento. Os Guardadores pararam de cantar, observando Eldrin com interesse.

— Outro tolo com esperança — disse um deles.

— Ou um novo verso para a ruína — disse outro.

Eldrin ignorou. Aproximou-se do pedestal, tocando uma melodia crescente. Cada nota trazia memórias: a voz da mãe, os sons da praça em Lorthen, o riso da criança com o pássaro de luz.

Os Guardadores avançaram, emitindo sons cortantes. Mas Eldrin girou, criando uma muralha sonora. Cada nota que tocava destruía uma dissonância.

— A Canção não é domínio... — gritou Eldrin. — É conexão!

A última nota explodiu como luz solar.

Os Guardadores gritaram e se desintegraram, deixando ecos tristes no ar.

Eldrin se aproximou do pedestal. O Fragmento flutuava ali: uma esfera de cristal com uma clave de sol girando lentamente em seu interior. Quando ele tocou, a esfera dissolveu-se em luz, entrando em seu peito.

O terceiro Fragmento despertara.

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Aeryx observava de longe. Quando Eldrin voltou ao seu lado, o dragão o olhou com reverência.

— Três Fragmentos. Você está mais perto do que qualquer outro esteve em milênios.

Eldrin sentia-se mais forte. Sua mente estava mais clara. Mas também mais pesada.

— Eu os ouço, Aeryx. Vozes antigas. Sussurros de verdades que não entendo.

— Isso é o preço da harmonia total. Cada nota desperta uma lembrança. Cada acorde, um fardo. E quanto mais completo você se torna... mais o mundo sente sua melodia.

O céu tremeu.

Do horizonte, uma nuvem negra se aproximava. Uma tempestade de som e escuridão.

— Eles vêm — murmurou Aeryx. — O Conselho Silente. Aqueles que desejam silenciar a Canção para sempre.

Eldrin ergueu o olhar, firme.

— Que eles venham. Eu tenho uma música para lhes mostrar.

Aeryx sorriu. E juntos, voaram para o norte.

O próximo Fragmento os esperava.

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