pipoca e vinhos

Bianca esperou alguns instantes, tentando se concentrar no filme. Mas a cena já tinha passado, e agora ela só conseguia pensar em Laura.

Ela parecia... estranha. E estava demorando para voltar. Talvez estivesse mesmo se sentindo mal?

Sem pensar muito, Bianca levantou-se do sofá e seguiu pelo corredor, descalça, com passos leves.

Quando chegou à cozinha, encontrou Laura de costas, parada diante do micro-ondas, com as mãos apoiadas na bancada, a cabeça levemente abaixada.

— Tudo certo por aqui? — perguntou, com a voz doce, tranquila.

Laura se virou num sobressalto, visivelmente nervosa.

— Ahn... sim! Tô só esperando a pipoca estourar — respondeu rápido demais. — É... é aquele tempo eterno do micro-ondas, sabe?

Bianca sorriu, entrando mais.

— Quer ajuda? Posso pegar as bebidas — ofereceu, indo até a geladeira, sem perceber o quanto sua presença desestabilizava a outra.

Laura tentou não olhar. Tentou focar em qualquer outra coisa — o barulho dos grãos estourando, o calor que subia pelas costas, a sensação de que seu corpo ainda estava reagindo ao que viu... e ao que sentiu.

Mas quando Bianca se abaixou um pouco para pegar duas latas de refrigerante na parte de baixo da geladeira, a blusa dela subiu ligeiramente, revelando um pedaço da pele das costas.

Laura desviou o olhar, pressionando os lábios como se quisesse impedir qualquer pensamento. Mas era tarde. O desejo ainda estava ali, preso em alguma parte do corpo, pulsando, queimando devagar.

Bianca se virou, ainda inocente da tensão no ar.

— vc quer refri ou vinho? prefiro vinho mas não sei se você bebe

Laura demorou um segundo para responder. Quando o fez, a voz saiu um pouco rouca.

— eu bebo

Bianca estranhou o tom. Estudou o rosto da enteada. Ela parecia corada, ansiosa. Evitava seus olhos de um jeito quase infantil.

Mas não disse nada.

Entregou uma das taça, tocando os dedos de bianca sem querer. Sentiu um arrepio sutil subir pelo braço, mas imaginou que era só o contraste com o vidro gelado.

Laura também sentiu.

Mas, diferente de laura, sabia que o arrepio tinha outra origem.

Sabia que, se ficasse ali por mais dois minutos, talvez dissesse ou fizesse algo que não devia.

Por isso, pegou a pipoca estourada, soltou um "vamos voltar pro filme", e saiu da cozinha quase correndo, como quem tenta fugir de um incêndio prestes a começar.

E Bianca, sem entender o porquê daquela pressa, seguiu atrás.

Mas no fundo... algo já começava a se acender dentro dela também.

. — Desde que você não me embebede.

Bianca riu baixinho.

— Prometo que não. Só um vinhozinho leve. Vai combinar com a pipoca salgada.

Ela foi até a adega pequena no canto da cozinha e tirou uma garrafa de vinho tinto suave. Abriu com delicadeza, serviu duas taças, e ofereceu uma a Laura com um olhar tranquilo, quase acolhedor.

Claro! Aqui está a continuação com Bianca pegando vinho para acompanhar com a pipoca, e Laura aceitando — tentando manter a compostura, mas ainda visivelmente abalada:

— Vamos? — Bianca perguntou.

Laura assentiu. As duas voltaram para a sala de cinema, agora com a pipoca entre elas e as taças nas mãos.

Sentaram-se lado a lado no sofá largo, a penumbra da tela iluminando seus rostos de tempos em tempos. O filme continuava — o mesmo romance sensível e sensual de antes — e o silêncio entre elas parecia mais denso, mais carregado de significados que nenhuma das duas ousava nomear.

Elas comiam devagar, tomavam goles suaves de vinho. Mas, por dentro, especialmente Laura, sentia a tensão crescendo novamente.

A forma como Bianca levava a taça aos lábios. O som sutil da sua respiração. O calor que emanava de tão perto. Tudo parecia um convite perigoso.

E ainda assim, Laura ficou.

Mesmo sabendo que o desejo ainda queimava embaixo da pele. Mesmo sabendo que era melhor fugir outra vez.

Mas agora, com Bianca ali, tão calma, tão presente — ela não conseguia se mover.

Bianca deu um pequeno suspiro, emocionada com a beleza da cena. Amava esse tipo de romance, que tratava o desejo com ternura, com verdade.

Foi então que, no canto do olho, notou o corpo ao seu lado ficar tenso.

Virou-se discretamente.

Laura tinha os olhos presos na tela, mas não via mais o filme. Mordeu o lábio inferior sem perceber, segurando a taça com força. As coxas comprimidas uma contra a outra, o maxilar travado, como se quisesse conter algo dentro de si. Seus dedos tamborilavam discretamente na perna, inquietos.

Bianca a observou por mais um segundo, confusa.

Era excitação? Desejo? Estava sentindo algo com a cena? Com ela?

O coração de Bianca acelerou, sem que ela soubesse o porquê. A vontade de perguntar se Laura estava bem veio de imediato, mas antes que dissesse qualquer coisa, Laura largou a taça meio apressada e se levantou de súbito.

Bianca se aproximou devagar, sem querer pressionar, mas sentindo que algo escapava do controle.

— Você parece... nervosa.

Laura desviou os olhos e tentou sorrir.

— É só o filme. Pegou um pouco de surpresa, só isso...

Bianca a olhou por um longo segundo. Queria acreditar. Queria não perceber as mãos trêmulas, o peito subindo e descendo de forma irregular. Mas havia algo ali.

Algo que talvez nenhuma das duas soubesse nomear ainda.

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Comments

A.Maysa

A.Maysa

esses olhares dizem tudo no final

2025-05-23

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