O Fruto Proibido

O Fruto Proibido

quando o fruto é proibido é mais gostoso

Capítulo 1 –

A passagem só de ida

O som abafado da mala de rodinhas contra o chão da rodoviária do Rio de Janeiro parecia ecoar no peito de Laura mais do que no espaço ao redor. Cada passo em direção ao ônibus que a levaria para São Paulo era uma mistura amarga de mágoa, dúvida e raiva contida.

— Você vai ver, vai ser bom pra você. – insistira a mãe, pela quinta vez naquela manhã.

Laura não respondeu. Apenas apertou os lábios e encarou a mãe com aquele olhar que dizia mais do que mil palavras.

"Bom pra quem?", ela pensava.

Desde os oito anos, Laura morava com Elena. O pai, Alex, havia desaparecido da rotina da filha desde o divórcio — por escolha própria. De repente, do nada, após cinco anos de silêncio, ele resolve mandar uma mensagem, quase uma convocação: “Gostaria que você viesse passar um tempo comigo antes do seu aniversário. Já está tudo organizado.”

Organizado para quem? Laura não se sentia parte desse plano.

— Cuida de você, tá? – Elena disse, abraçando-a rápido, como quem sabe que a filha não vai retribuir o gesto.

Ela apenas assentiu e virou as costas, sem se despedir direito. A mágoa falava mais alto. Subiu no ônibus com os fones no ouvido, a cabeça encostada no vidro, vendo a cidade se afastar, lentamente. As praias, os prédios, a vida que conhecia... até o céu parecia mais cinza naquela manhã.

Durante as seis horas de viagem, ela tentou dormir, mas a ansiedade não deixava. Pensava em como seria reencontrar Alex. E mais: como seria conhecer Bianca, a tal esposa nova, mais jovem do que ele, famosa por uma loja de roupas chique e um Tudo o que Laura desprezava.

“O que uma mulher dessas quer com um cara como meu pai?”, murmurava para si, cínica.

No celular, uma notificação de Izabel apareceu:

IZABEL: chegando em SP me avisa, por favor... e tenta não bater na sua madrasta no primeiro dia kkkk

Laura sorriu de canto. Era o primeiro sorriso em horas. E sumiu tão rápido quanto veio.

O ônibus finalmente chegou à rodoviária de Tietê no final da tarde. Ela desceu devagar, tentando reconhecer o pai na multidão. Um homem de terno azul-marinho, cabelo penteado para trás, óculos escuros e ar impaciente andava de um lado pro outro.

Eraeo motorista

— nehorita Laura Menezes? – disse segurando uma placa

— Oi. – respondeu num tom baixo.

— Vamos. O seu pai tá esperando.

um carro preto de luxo esperava. O motorista abriu a porta para Laura, que entrou sem dizer nada. O caminho até o restaurante foi silencioso, cortado apenas pela voz do GPS e o som leve do ar-condicionado.. Seu pai, como sempre, não foi buscá-la. Mandou um motorista e marcou de encontrá-la diretamente no restaurante.

“Quero que você conheça minha esposa”, ele havia dito por telefone. “Vamos jantar fora, algo tranquilo.”

Laura não deu muita importância. Não fazia ideia de quem era essa mulher, nem queria saber. Já estava irritada o bastante por estar ali.

O restaurante era um daqueles caros, com fachada de vidro, garçons de terno e luz baixa nas mesas. Laura chegou antes e pediu para ir ao banheiro enquanto esperava. O coração batia mais rápido, talvez de raiva, talvez de nervoso.

Entrou no banheiro feminino e parou por um segundo para respirar.

Foi quando a porta de uma das cabines se abriu.

E ela apareceu.

Mulher. Linda. Uns dez anos mais velha que Laura, talvez. Vestido preto, justo no lugar certo, salto alto, cabelos loiros soltos e ondulados, maquiagem leve, mas impecável. Tinha um perfume doce no ar que Laura sentiu mesmo a dois passos de distância.

A mulher passou por ela com um leve sorriso e lavou as mãos na pia ao lado. Laura observava pelo espelho, disfarçando como podia, mas cada detalhe grudava em seus olhos.

A forma como ela prendia o cabelo para não molhar, o jeito calmo e confiante. A boca bem desenhada. Os olhos claros. A pele dourada.

E algo mais.

Algo que Laura não sabia explicar. Um magnetismo. Um chamado.

Desejo.

Ficou paralisada. Quis dizer algo — qualquer coisa. Mas só conseguiu olhar.

Foi quando a mulher se virou para ela, secando as mãos com uma toalha de papel.

— Oii. Tudo bem?

A voz era firme, suave. Com um toque de simpatia sincera.

Laura engoliu em seco.

— Tô, sim.

A mulher sorriu, e saiu pela porta do banheiro como se nem soubesse o estrago que tinha causado em alguém.

Laura ainda estava com o coração acelerado quando voltou ao saguão do restaurante. O maître a levou até a mesa reservada.

E foi quando tudo virou do avesso.

Sentada com o pai, de mãos dadas com ele sobre a mesa, estava a mulher do banheiro.

Aquela mulher. Aqueles olhos. Aquele vestido.

— Laura — disse Alex, levantando-se —, essa é a Bianca. Minha esposa.

Laura congelou. Sentiu o rosto queimar, o estômago revirar.

A mulher olhou para ela e abriu o mesmo sorriso simpático de antes.

— Agora faz sentido... você é a Laura. Muito prazer.

Laura respondeu com um “prazer” quase mudo. A cabeça girava. Sentou-se sem saber como. Passou o jantar todo em silêncio, com o gosto da surpresa preso na garganta. E o olhar de Bianca, vez ou outra, pousando sobre ela como quem ainda a tentava decifrar.

Mas agora Laura sabia quem ela era.

E o que sentira... era errado. Muito errado.

Só que era tarde demais para fingir que não aconteceu.

Quando o jantar acabou foram para casa com o motorista e chegando na casa

A casa por dentro era ainda mais absurda do que por fora. Mármore branco no chão, escadas curvas com corrimão dourado, quadros enormes de arte moderna nas paredes. Laura se sentia deslocada — como se tivesse invadido o cenário de uma novela cara demais para a própria realidade.

— Você deve estar cansada da viagem — comentou Bianca, andando à frente com passos leves. — Deixamos seu quarto preparado, tenho certeza de que vai gostar.

Alex seguiu direto para o escritório sem sequer se despedir.

— Tenho uma reunião por vídeo agora. A gente se fala depois.

Laura apenas observou. Já estava acostumada com esse tipo de descaso vindo dele. O que a incomodava mesmo era o jeito natural como Bianca sorria e falava, como se tudo estivesse perfeitamente normal.

O quarto era amplo, decorado com cores neutras, uma cama enorme, janelas com cortinas de linho e um closet menor que um quarto comum, mas ainda grande demais. Sobre a cama, uma toalha dobrada com sabonetes finos, um gesto claramente vindo de Bianca.

— Espero que goste. Preparei eu mesma, achei que seria bom ter seu espaço... confortável — disse Bianca, parada na porta.

Laura assentiu, olhando o ambiente com certo desdém.

— Bonito.

— Se quiser descansar um pouco

— Tá.

Bianca sorriu, mas o olhar dela se demorou mais que o necessário. Como se quisesse decifrar Laura. Ou se deixar ser decifrada.

No outro dia , Laura desceu para o café. Vestia uma blusa básica e uma saia jeans. Nada que se encaixasse no estilo elegante da casa, mas ela também não queria agradar ninguém.

Na mesa do café, a mesa estava posta como num restaurante chique. Talheres de prata, guardanapos dobrados com perfeição, muitas sobremesas e bolos

Alex já estava à mesa, com o celular na mão. Bianca ajeitava um prato quando viu Laura se aproximar.

— Sente-se, por favor.

— Oi, filha — disse Alex, sem tirar os olhos do celular. — O chefe da campanha do senador acabou de me ligar. Você chegou bem, né?

Laura engoliu o incômodo.

— Sim.

Bianca serviu bolo para Alex suco para Laura, com uma elegância quase ensaiada.

— Ainda não sei oq vc come entao preparei de tudo ... achei melhor não arriscar.

— Certo — respondeu Laura, com um leve sarcasmo.

O café começou com silêncio. Apenas o som dos talheres e do vento do ar-condicionado.

— A Sofya está na casa da avó. Deve voltar amanhã — informou Bianca, como quem tenta puxar conversa.

— Quem é Sofya? — Laura perguntou, fingindo desinteresse.

— Minha irmã — respondeu bianca

— Ah.

Mais um gole de suco. Mais um silêncio cortante.

— Ela está animada pra te conhecer — continuou Bianca. — Fala de você desde que soube que viria.

Laura encarou a madrasta por um instante. A voz doce. O rosto calmo. O tom sempre cuidadoso. Tudo nela parecia equilibrado demais. Estudado demais.

— Que bom — disse

Alex soltou um suspiro de impaciência.

— Espero que você se esforce pra fazer isso funcionar, Laura. Não é fácil pra ninguém aqui. E sua mãe insistiu muito pra que você viesse.

A menção à mãe fez Laura apertar os punhos sob a mesa. Bianca percebeu.

— Alex — disse com gentileza — talvez seja melhor dar um tempo. É o primeiro dia. Vamos com calma, né?

Ele revirou os olhos e voltou ao celular.

Bianca olhou para Laura com um meio sorriso, como quem pede desculpas por algo que não fez.

— Você gosta de moda?

Laura a encarou.

— Gosto de usar roupas normais

Bianca soltou um riso leve, sincero até certo ponto.

— Justo.

Houve uma pausa. Então Bianca perguntou:

— Posso te mostrar o ateliê mais tarde? Fica aqui na casa. Gosto de criar ali, quando não estou na loja. Quem sabe você não encontra algo que goste?

Laura hesitou. Mas respondeu:

— Pode ser

Foi a primeira vez que as duas trocaram um olhar sem hostilidade.

Mas o que havia naquele olhar era outra coisa.

Curiosidade? Admiração? Perigo?

Laura não sabia.

Só sabia que, pela primeira vez, algo naquela casa lhe despertava atenção.

E esse algo... tinha nome. E perfume. E um sorriso de canto.

Bianca estava vestindo um short de seda claro e uma regata fina que deixava parte das costas à mostra. Os cabelos estavam soltos, caindo como uma cortina sobre os ombros.

_vamos ver o atelie?

Laura demorou meio segundo para responder. Os olhos ainda estavam grudados naquela silhueta, na pele clara exposta sob a luz suave da manhã.

Laura hesitou, mas a curiosidade venceu.

O ateliê ficava nos fundos da casa, com uma porta de vidro que dava para o jardim. Ao entrar, Laura foi tomada pelo cheiro de tecido novo, perfume adocicado e alguma coisa que não sabia nomear, mas que mexeu com seus sentidos.

Bianca abriu algumas araras, mostrando croquis, moldes, vestidos em construção.

— Gosto de criar de manhã. É quando minha cabeça funciona melhor — disse, virando-se para Laura.

Ela estava tão perto que Laura sentiu o cheiro da pele dela. Um perfume floral, discreto, mas marcante. Uma mistura perigosa.

— Você tem talento — murmurou Laura, surpresa ao dizer aquilo.

Bianca sorriu, surpresa também.

— Obrigada. Quase ninguém aqui em casa me diz isso.

Laura engoliu em seco. O coração parecia bater mais rápido, sem motivo aparente.

— Posso experimentar alguma coisa?

Bianca arqueou uma sobrancelha, surpresa — e talvez intrigada.

— Claro. Você tem o corpo ideal pra vários dos meus modelos.

O tom foi neutro. Mas o olhar… o olhar dizia mais. Como se cada palavra escondesse outra por trás.

Laura entrou em um provador improvisado com cortinas brancas. Bianca separou um vestido de tecido leve, cor creme, alças finas. Ao colocá-lo, Laura se olhou no espelho e mal se reconheceu. O corte marcava suas curvas, o colo ficava mais exposto do que o usual.

— Tá pronto? — perguntou Bianca, do lado de fora.

— Tô.

Ela abriu a cortina devagar.

Os olhos de Bianca desceram pelo corpo de Laura como se percorressem um mapa proibido. E Laura sentiu. Sentiu mesmo. O calor no rosto. O frio na barriga. O arrepio no braço.

Bianca demorou um segundo a mais do que o necessário antes de dizer:

— Ficou... lindo em você.

Laura sorriu, nervosa. E desviou os olhos. O coração estava disparado.

Por dentro, uma voz ecoava: isso é errado. Isso é loucura. Isso é... perigoso.

Mas outra parte — mais silenciosa, mais sombria — sussurrava: é só um vestido. E um olhar. Nada demais.

Ou será que era?

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Erca Tovela

Erca Tovela

eitaaa

2025-06-01

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