As noites em que Noah ficava sozinho em seu quarto eram as mais difíceis. Ele olhava para o teto, perdido em pensamentos, as sombras do seu passado e da gangue dançando na parede. Mas naquela noite, algo dentro dele estava diferente. Algo novo tinha nascido em seu peito.
Ele sabia que precisava agir. A gangue não era mais só um lugar de conveniência. Era uma prisão, e as correntes estavam se apertando a cada dia.
A madrugada avançava quando ele se levantou e pegou seu caderno, aquele velho caderno onde anotava tudo. A tinta da caneta parecia pesar em seus dedos. Ele escreveu:
"Regra nº 6: Se você não pode vencê-los, derrube-os por dentro."
A frase ecoava como uma sentença. Ele não tinha mais dúvidas. O tempo de ser uma sombra passiva havia acabado. Ele precisaria se tornar a escuridão que engoliria Lucas e os Espinhos.
Nos dias seguintes, Noah observou mais atentamente seus colegas da gangue. Sabia que havia algumas figuras que estavam insatisfeitas com a liderança de Lucas, embora ainda se curvassem diante dele. Alguns estavam apenas esperando o momento certo para agir. Outros, porém, como Caio, pareciam mais interessados em se manter poderosos a qualquer custo.
Foi Caio quem o abordou na manhã seguinte, enquanto caminhavam pelos corredores do colégio.
— Você não parece muito animado ultimamente, Noah. Está pensando em alguma coisa? — Caio perguntou, com um sorriso malicioso. Seu rosto exibia aquela confiança de quem achava que controlava tudo.
Noah olhou para ele, tentando disfarçar o que realmente sentia. As palavras estavam na ponta da língua, mas ele sabia que qualquer deslize poderia ser fatal.
— Só estou cansado... disso tudo. Não sei se quero continuar nisso — respondeu, a voz baixa, mas firme.
Caio o estudou por um momento, e então fez um gesto como se fosse algo insignificante. — O Lucas está começando a ficar mais difícil de lidar, mas quem não se acostuma com ele, acaba se ferrando. Você vai se acostumar também. Ou sai fora.
O conselho parecia simples demais, mas Noah sabia que Caio estava tentando fazer com que ele se sentisse fraco. Ele não cairia mais nesse jogo.
— Eu vou me acostumar, sim. Mas talvez eu tenha uma forma diferente de me acostumar. — disse, com uma leve ameaça velada.
Caio sorriu, provavelmente pensando que Noah estava apenas tentando se afirmar, e se afastou. Mas Noah sabia que o sorriso de Caio esconderia mais problemas do que ele imaginava.
Naquela noite, Noah se encontrou com os poucos aliados que começava a identificar entre os estudantes. Um deles, Thiago, sempre foi contra o domínio dos Espinhos e era um dos poucos que tinha coragem de enfrentá-los diretamente.
Eles se encontraram num ponto isolado, perto dos trilhos de trem. Thiago olhou para Noah, como se esperasse uma confirmação.
— O que você quer fazer, Noah? Você quer derrubar o Lucas, certo?
Noah deu um passo à frente, seus olhos brilhando com uma determinação fria. — Eu não quero mais ser parte dessa gangue. Eu quero destruí-la de dentro pra fora. E você vai me ajudar.
Thiago olhou ao redor, certificando-se de que ninguém os estava observando. Ele parecia cético, mas o plano de Noah era sólido o suficiente para fazer com que ele desse um passo à frente.
— E como você pensa em fazer isso? — Thiago perguntou, sua voz baixa.
Noah se aproximou mais, falando com cuidado, como se estivesse compartilhando um segredo que valia mais que sua própria vida.
— Eu vou ganhar a confiança de Lucas. Vou fazer com que ele pense que estou totalmente do lado dele. Mas o que ele não sabe é que o que eu vou realmente fazer é plantando informações falsas, criando desconfianças entre os membros e fazendo com que ele veja inimigos onde não existem. Quando ele cair, a gangue se despedaça sozinha.
Thiago não disse nada por alguns segundos. Ele olhou fixamente para Noah, talvez ponderando o que aquilo significaria para todos eles.
— E depois? — ele perguntou finalmente.
— Depois... — Noah sorriu, um sorriso frio, sem alegria. — Depois, nós dominamos. Mas não como Lucas. Dominamos de outra forma. Todos aqueles que foram explorados por ele, vão ter a chance de se vingar.
Thiago pensou por um momento antes de responder. — Você é mais perigoso do que eu imaginava, Noah.
Noah apenas olhou para o horizonte. Ele já sabia que não havia mais volta. Ele estava jogando um jogo onde as regras mudavam a cada movimento. Ele seria o monstro que se levantaria das cinzas.
Mas não seria só Lucas que cairia. Seriam todos que estavam ao seu redor, os que o usaram, os que se esqueceram dele. Ele iria fazer todos pagarem.
Na manhã seguinte, ele foi até a escola e encontrou Lucas na entrada. O líder estava com aquele sorriso de superioridade que sempre exibia, mas Noah notou um brilho nos olhos de Lucas que não era de confiança, mas de uma expectativa calculada. Como se ele soubesse que Noah estava tentando algo.
— Como você está, Noah? — Lucas perguntou, já com aquele tom de quem espera um elogio ou uma subordinação. — Estava sumido ontem.
Noah sorriu de volta, fazendo questão de mostrar um pouco de respeito, mas sem ceder completamente.
— Eu estava apenas pensando. Talvez eu não tenha visto o quão... grande isso aqui pode ser. Quero ajudar mais. Ficar mais próximo.
Lucas ergueu uma sobrancelha. — Eu sabia que você entenderia. Nós temos um futuro brilhante, Noah. Não se esqueça disso.
Noah assentiu, mas dentro dele, o plano já estava em movimento.
Ele havia tomado a decisão. Agora, só restava esperar o momento certo para dar o golpe final.
E quando o momento chegasse, não haveria mais Espinhos. Só destroços.
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Atualizado até capítulo 24
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