Capítulo 2: Toda Escolha Cobra um Preço

O sol ainda não havia nascido completamente quando Noah chegou à escola no dia seguinte.

O céu estava coberto por nuvens pesadas, o tipo de clima que fazia os alunos ficarem ainda mais irritados do que o normal.

Ele atravessou o portão principal com passos firmes, mochila nas costas, olhar frio.

Sentia. Cada célula do seu corpo sabia: o ataque viria hoje.

Não demorou.

Logo depois da primeira aula, quando o sinal do intervalo tocou, Felipe e Jader apareceram na porta da sala.

Mas dessa vez, não estavam sozinhos.

Havia pelo menos mais cinco caras com eles — rostos conhecidos da escola, todos metidos em brigas e confusões.

Diego, com um curativo grosseiro na testa, liderava o grupo, sorrindo de forma ameaçadora.

— Achou que ia sair impune, seu merdinha? — rosnou.

A professora, percebendo o clima pesado, fingiu não ver e saiu da sala, apressada.

Era assim no Colégio Torres: quando as brigas começavam, ninguém queria se meter.

Noah levantou-se devagar.

Olhou ao redor. Nenhum dos colegas faria nada. Alguns até pareciam animados, ansiosos pelo espetáculo.

Sete contra um. Sem armas. Sem saída.

Ou melhor... parecia que não havia saída.

Ele caminhou até o fundo da sala, atraindo os atacantes para longe da porta.

Ali o espaço era mais apertado — e isso podia ser uma vantagem.

— Vamos acabar logo com isso. — disse Diego.

Os outros avançaram ao mesmo tempo.

Noah abaixou-se no último segundo, desviando de um soco que teria quebrado seu maxilar.

Pegou uma cadeira e girou, acertando o joelho de Felipe, que caiu gritando.

Antes que Jader o agarrasse, Noah chutou a carteira à frente, prendendo o pé do adversário e desequilibrando-o.

Mas eram muitos.

Enquanto ele derrubava um, outros dois o agarraram pelas costas.

Socos acertaram suas costelas. Um golpe na cabeça o deixou atordoado.

Droga. Pensou. Dessa vez não vou sair ileso.

Foi então que ouviu um apito agudo.

— Chega!

Todos congelaram.

Lucas Navarro estava na porta da sala, braços cruzados, sorriso preguiçoso no rosto.

Atrás dele, outros três membros dos "Espinhos" — caras que todos temiam.

— Soltem ele. Agora. — Lucas ordenou, num tom tão calmo que parecia ainda mais ameaçador.

Relutantes, os atacantes recuaram. Diego olhou para Lucas com ódio, mas não ousou enfrentá-lo ali.

Lucas se aproximou de Noah, que ainda arfava de dor, e estendeu a mão.

— Eu avisei que você precisaria de aliados.

Noah o encarou. Seu orgulho queria recusar. Mas sua razão sabia: lutar sozinho naquele ambiente era suicídio.

Aceitou a mão.

Lucas sorriu satisfeito.

— Bem-vindo aos Espinhos, Noah Azevedo.

No pátio dos fundos, mais tarde, Noah recebeu as instruções.

Lucas falou em voz baixa, para que apenas os mais próximos ouvissem:

— Aqui dentro, sobrevivência é questão de matemática simples. Quem controla o medo, controla tudo.

Ele apontou para Diego e seus amigos, que se afastavam, humilhados:

— Hoje foi sorte. Amanhã, eles vão voltar. Pior.

Noah ficou em silêncio. O corpo doía, mas sua mente já estava trabalhando, encaixando as peças.

Lucas continuou:

— Você não entrou de graça. Quero ver o que você pode fazer.

Ele lançou um olhar furtivo para um grupo sentado próximo à cantina: quatro garotos, liderados por alguém chamado Rafael Torres — um dos poucos que ainda desafiavam a autoridade dos Espinhos.

— Quero que você mande um recado pra eles. — disse Lucas. — Nada pesado. Só o suficiente pra entenderem quem manda aqui.

Noah entendeu o que era esperado. Intimidação. Violência contida.

Um teste de lealdade.

E se recusasse?

Seria descartado como qualquer peão inútil.

À tarde, Noah caminhava em direção à quadra velha, onde Rafael e seus amigos costumavam jogar basquete.

A mochila balançava em suas costas.

O coração batia rápido — não de medo, mas de excitação estranha.

Era isso que ele era agora? Um cão de aluguel?

A dúvida queimava por dentro. Mas ele a empurrou para longe.

No mundo em que vivia, ou você era predador, ou era presa.

E ele estava cansado de ser caçado.

Encontrou Rafael encestando a bola com facilidade, o rosto relaxado. Um dos poucos que ainda mantinham alguma dignidade ali.

Noah sentiu uma ponta de respeito — mas enterrou o sentimento.

Aproximou-se.

— Rafael. — chamou.

O garoto virou-se, surpreso.

— E aí? Quem é você?

Antes que ele terminasse a frase, Noah deu um passo à frente e, num movimento seco, empurrou Rafael com força contra o alambrado da quadra.

Os amigos dele reagiram, mas Noah já estava preparado.

Tirou uma corrente da mochila — simples, de bicicleta — e girou no ar, acertando o braço de um deles.

Golpe rápido. Preciso. Sem hesitação.

Rafael se soltou do alambrado, olhos queimando de raiva.

— Tá maluco, seu merda?! — gritou.

Noah apenas disse:

— Não se metam nos assuntos dos Espinhos. Último aviso.

E saiu andando, deixando-os gritando e xingando.

Não precisava vencê-los.

Só precisava plantar o medo.

Naquela noite, em casa, Noah deitou-se na cama olhando para o teto mofado.

As costelas ainda doíam. O corte no supercílio ardia.

Mas o que doía mais era o vazio que crescia dentro dele.

Será que estava se tornando igual aos que mais odiava?

Ou será que, para sobreviver, precisava mesmo sujar as mãos?

Pegou o caderno preto novamente e escreveu:

"Regra nº 4: Em um mundo de monstros, ser humano é fraqueza."

Fechou os olhos, sentindo o peso da escolha que fizera.

Porque sabia: toda escolha cobra um preço.

E no Colégio Torres, ninguém saía ileso.

Nem mesmo os mais fortes.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!