O restaurante estava com pouca luz, música ambiente e poucos clientes. Henrique e Marcela estavam em uma mesa reservada ao fundo. Ele falava algo em tom baixo, e ela ria — mas seus olhos não pareciam tão tranquilos. Quando Amber entrou, o ambiente inteiro pareceu parar por um segundo.
Ela caminhou com passos firmes até a mesa, parando à frente deles como uma tempestade que chega sem anunciar.
— Que coincidência adorável — disse ela, cruzando os braços. — Dois dos meus “amigos preocupados” jantando juntos... logo depois que meu relacionamento vira fofoca de corredor.
Henrique engoliu seco. Marcela largou o garfo. Os dois tentaram manter a pose.
— Amber... não é o que você tá pensando. — Henrique tentou sorrir. — A gente só estava conversando. Sobre você, sim, mas...
— Pensando no seu bem — completou Marcela, a voz mansa e treinada. — Você sabe como a cidade fala. A gente não quer te ver em escândalos... nem prejudicada por alguém que talvez não esteja preparado pra lidar com tudo que você carrega.
Amber sorriu, mas era um sorriso frio. O olhar perfurava.
— Vocês acham que eu não sei lidar com minha vida? Que eu sou uma peça frágil no tabuleiro de vocês?
Henrique tentou se levantar.
— Nós não vamos mais interferir, Amber. Prometemos.
Ela o encarou por mais alguns segundos, depois soltou:
— Ótimo. Porque se eu descobrir que algum de vocês mexeu um dedo contra o Ruan de novo, não vai sobrar lugar nessa cidade pra se esconderem.
Sem dar tempo para resposta, ela virou as costas e saiu.
Mas, do lado de dentro, enquanto a máscara de falsa preocupação se desfazia, os dois se entreolharam em silêncio.
— Vamos ver quanto tempo ele aguenta sem teto — murmurou Henrique, enquanto mexia lentamente o copo de vinho.
Marcela cruzou as pernas, encarando o reflexo no vidro à frente.
— A garota Ortega pode ser forte, mas Ruan Silva não é de aço.
**
A manhã começou como qualquer outra. O céu estava nublado, e Ruan seguia a rotina simples que havia construído com esforço: despertador às 6h, banho rápido, caderno na mochila, café amargo na caneca rachada. Mas naquela terça-feira, o mundo parecia... estranho.
Ao descer as escadas da pensão, encontrou a dona do lugar parada na porta, braços cruzados, expressão tensa.
— Ruan... preciso falar com você.
Ele parou, o coração já adivinhando a dor que vinha.
— Aconteceu alguma coisa?
Ela hesitou.
— Recebi uma ordem. Uma compra. A pensão foi vendida. O novo proprietário mandou esvaziar os quartos que não têm contrato fixo... e, infelizmente, você está incluso nisso.
— Vendida? — ele franziu o cenho. — Mas isso foi do dia pra noite?
— Foi, filho. Um homem apareceu ontem com documentos e dinheiro. Eu nem tive escolha. Já veio com carta pronta, tudo legal. Você tem que sair hoje.
Ruan sentiu um peso no peito. Não havia coincidência nisso. Nenhuma dúvida. Aquilo tinha a marca de Henrique — e talvez até de Marcela.
Ele subiu devagar, cada degrau mais pesado que o anterior. No quarto, olhou ao redor. Não havia muito: livros, algumas roupas, um retrato antigo com os colegas do orfanato. Tudo cabia em uma mala.
Mas o que doía não era o espaço. Era o sentimento de impotência. O de estar a ser arrancado, esmagado, só por ousar amar alguém que não era “do seu mundo”.
**
Horas depois, ele estava sentado em um banco da praça central com a mala ao lado. O vento frio soprava entre os prédios. Sem teto. Sem planos. Mas com uma certeza queimando dentro dele: **não podia contar para Amber ainda.**
Ela estava tentando protegê-lo. Enfrentando o próprio sangue por ele. Ele não podia ser um peso. Não queria ser uma fraqueza na armadura dela.
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Atualizado até capítulo 38
Comments
Hạ Khiếtttt
Valeu a pena cada segundo! ⌛️
2025-04-28
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