–Ei, tudo bem? Você está sozinha?
— Eu perdi a minha. — disse a criança entre soluços. — Ela foi comprar pão e eu não achei mais ela.
Amber se ajoelhou, pegando delicadamente a mão da menina.
— Calma, a gente vai encontrar ela. Qual o seu nome?
— Laila.
— Laila, me mostre onde você mora? Talvez sua irmã já tenha voltado pra casa.
A menina assentiu, guiando Amber por entre as ruas estreitas da vila. E foi ao virar a última esquina que Amber congelou.
Ali, do outro lado da rua, estava Ruan. Ele estava sentado no degrau da pequena pensão onde morava, com um caderno de anotações e uma xícara de café barato. Seu olhar perdido, as olheiras profundas.
Amber mal conseguiu reagir. Laila correu até uma casa próxima, onde a irmã — desesperada — a recebeu com alívio. Amber, no entanto, não tirava os olhos de Ruan.
E ele a viu.
Ficou pálido. Levantou-se lentamente, como se não soubesse se corria até ela ou se fugia. Mas Amber atravessou a rua primeiro.
— É aqui que você mora? — ela perguntou, com a voz baixa, carregada de dor.
Ruan não respondeu de imediato. Apenas assentiu, sem coragem de olhar nos olhos dela.
— Você ia me deixar sem dizer nada?
— Eu tava protegendo você — ele murmurou.
— E quem disse que eu preciso ser protegida de você?
O silêncio caiu entre eles. Pesado. Mas vivo.
Amber, então, respirou fundo.
— Alguém te ameaçou, não foi? Quem foi, Ruan?
Ele hesitou... mas talvez fosse hora de contar.
A rua estava silenciosa, o tempo parecia suspenso. Amber ainda estava diante de Ruan, o coração pesado e os olhos brilhando de dor — e de amor. Ela não sabia mais como agir. Só sabia que não podia perdê-lo sem lutar.
Ruan abaixou a cabeça. Ele estava lutando contra tudo dentro de si. Contra a vontade de puxá-la para perto, de contar tudo, de gritar que a amava, mesmo que isso custasse tudo. Mas também estava lutando contra o medo de destruí-la.
— Eu não sou de onde você é, Amber. E não é só isso. Tem gente poderosa por trás disso tudo. Eles te ameaçariam também, se soubessem o quanto você significa pra mim.
Ela respirou fundo, a voz embargada.
— Eu enfrento o que for. Mas não me esconda. Isso me destrói mais do que qualquer ameaça.
Nesse instante, ele não conseguiu mais resistir. Ruan a puxou para si e a abraçou com força, como se aquele gesto pudesse protegê-la do mundo. E ela se deixou envolver, sentindo o cheiro dele, o calor, o silêncio que dizia tudo o que ele ainda não conseguia.
O abraço virou um beijo. Lento, intenso, cheio de palavras não ditas. Ali, no meio de uma rua simples, com os fios da cidade cruzando o céu e os passos das pessoas ao longe, o amor deles queimava como uma faísca proibida.
O clique de uma câmera passou despercebido por ambos. Mas Henrique, do outro lado da rua, sorria atrás da lente. Tinha conseguido o que queria: a prova definitiva.
Mas ele não estava sozinho.
Marcela Vasconcellos, estudante de medicina, acabava de sair da casa de uma amiga próxima e viu tudo. Ela conhecia Ruan da faculdade — sempre educado, reservado, gentil. E era próxima de Henrique. Sua família jantava com os Garcia nos fins de semana. Ao ver a cena, ela parou por um momento. Surpresa? Sim. Curiosa? Talvez. Incomodada? Com certeza.
Ela não sabia ainda o que fazer com aquela informação. Mas sabia que Henrique ia aproveitar.
Horas depois, Amber e Ruan estavam sentados no pequeno quarto da pensão. Ela, deitada sobre o peito dele, ouvia o coração dele batendo. Pela primeira vez, se sentia segura em meio ao caos. E ele, mesmo com medo, sentia que não estava mais sozinho.
— Eu não vou desistir de você, Ruan. Mesmo que o mundo todo esteja contra.
Ele fechou os olhos, como se aquelas palavras fossem a única coisa capaz de segurá-lo inteiro.
Do lado de fora, as engrenagens do escândalo começavam a girar. E desta vez, havia mais olhos do que eles podiam imaginar.
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Atualizado até capítulo 38
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