O nome dele era Henrique Garcia. Filho do influente advogado político e empresário Marcelo Garcia, Henrique fora, durante anos, presença constante nos eventos da alta sociedade da cidade Z. Alto, arrogante e sempre bem vestido, ele gostava de estar no centro das atenções — e, principalmente, de ser visto ao lado de Amber Ortega, mesmo que ela nunca tivesse lhe dado mais que sorrisos educados e conversas rasas.
Ele dizia aos outros que estavam “quase namorando”. A verdade? Amber sempre o evitava com elegância. Mas agora, vendo-a rindo ao lado de um garçom em seu próprio restaurante, Henrique não conseguia conter o veneno.
Num canto discreto da varanda, com seu celular novo e uma lente potente, ele capturou a imagem perfeita: Amber, inclinada para frente, sorrindo como se o mundo não existisse, enquanto Ruan a olhava como se estivesse diante de algo sagrado.
Henrique Garcia sorriu. Aquilo serviria bem.
Dois dias depois, Ruan recebeu um envelope pardo em sua caixa de correspondência no alojamento estudantil. Sem remetente. Dentro, uma cópia da foto e uma carta digitada:
"Ruan,
Você não conhece os limites dessa cidade. Amber Ortega pertence a um mundo que você jamais entenderá.
A família Garcia e a família Ortega sempre protegeram a cidade Z dos oportunistas.
Se você continuar a se envolver com Amber, será removido. Podemos acabar com sua bolsa, com seu estágio, com suas chances de formação.
Faça o certo: se afaste. Em silêncio."
Ruan ficou paralisado. Sentiu o sangue esquentar. Sabia que isso podia acontecer. Não por Amber — ela era diferente —, mas pelos que a cercavam, pelos que não queriam ver seu mundo dividido.
Ele guardou o envelope, mas o peso da ameaça já estava em seus ombros.
Naquela noite, encontrou Amber no mesmo mirante de antes. Ela estava feliz, leve. E ele... quebrado por dentro.
— Tá tudo bem? — ela perguntou, notando o tom mais frio.
Ele respirou fundo. Queria contar. Mas temia o que poderia acontecer se ela confrontar o Henrique Garcia e seus pais.
— Só estou cansado — mentiu.
Amber se aproximou, segurou sua mão. — Eu tô aqui, sabe? Sempre vou estar.
Ruan sorriu. Mas por dentro, já estava fazendo planos para desaparecer.
Nos dias que seguiram à ameaça, Ruan se tornou distante. Evitava mensagens, não aparecia nos horários em que Amber costumava visitá-lo no restaurante, e até mudou o trajeto para a faculdade. Cada passo que dava era acompanhado de uma dor no peito, como se estivesse deixando algo precioso escorrer pelos dedos.
Amber, por outro lado, sentia que algo estava errado — e não aceitava simplesmente “cansaço” como resposta. Ele havia mudado. Seu olhar não era mais o mesmo, e o silêncio doía mais do que qualquer palavra.
Em uma tarde nublada de domingo, Amber decidiu sair para caminhar pelas ruas menos conhecidas da cidade. Estava sozinha, sem seguranças, vestida de forma simples. Precisava respirar, pensar... entender.
Foi então que viu uma garotinha, chorando, sentada na calçada, perto da praça da Vila Esperança — um bairro modesto, mas acolhedor. Amber se abaixou ao lado dela, preocupada.
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Atualizado até capítulo 38
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