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Capítulo 4
O Voto de Elora
O palácio parecia feito de ouro sob a luz prateada da lua.
Fontes sussurravam pelas alas internas, e as pedras frias sob os pés de Elora guardavam segredos que ela nunca soube decifrar. A noite era tranquila — mas para ela, a paz era uma ilusão cruel.
Elora caminhava sozinha, seu manto claro esvoaçando atrás de si como um sopro de névoa. As outras concubinas já haviam recolhido-se aos seus aposentos luxuosos, envoltas em perfumes caros e promessas veladas de uma noite ao lado do rei.
Ela, no entanto, não fora chamada.
Nunca era.
Era a sombra entre as escolhidas, a flor que ninguém colhera.
A concubina esquecida.
Chegou à fonte principal — um monumento antigo, entalhado com figuras de deuses antigos e histórias que ninguém mais contava.
O som da água, ritmado e sereno, parecia zombar dela.
Quantas noites havia passado ali, perguntando a si mesma se algum dia seria mais do que um adorno invisível?
Ajoelhou-se lentamente à beira da fonte.
A pedra era gelada e cortante contra a pele nua de seus joelhos, mas Elora abraçou a dor.
Precisava sentir algo real.
Baixou a cabeça, deixando que seus longos cabelos dourados caíssem como um véu ao redor do rosto.
As mãos mergulharam na água gélida, quebrando o reflexo da lua em milhares de fragmentos.
E ali, naquele espelho quebrado, ela viu a si mesma:
Não a concubina decorada com sedas.
Não a sombra tímida nos corredores do palácio.
Mas a mulher que vivia, ainda que presa, com uma chama silenciosa queimando dentro do peito.
Lembrou-se da rainha — da presença dela naquela noite.
O salão de mármore iluminado por candelabros parecia ter parado no tempo quando a rainha passou entre as concubinas.
Seus olhos de aço varreram o recinto como uma lâmina invisível, e seu sorriso frio não alcançou os olhos.
Majestosa. Intocável.
Isolada em sua própria glória.
Sozinha, mesmo coroada.
Elora percebeu, então, que a coroa não era apenas ouro.
Era também uma prisão.
Uma corrente disfarçada de honra.
E mesmo assim… ela ansiava por algo. Não pelo trono, não pelas joias, nem pela vaidade vazia que consumia a corte.
Ansiava ser dona de si.
Ter voz.
Ter poder sobre o próprio destino.
Naquela noite, enquanto as outras trocavam sorrisos treinados e esperanças vazias, ela sentiu o olhar dele.
Do rei.
Caelan.
O olhar não fora frio como os outros. Não fora indiferente como sempre.
Por um instante, tão breve quanto o bater de asas de um pássaro, ele a viu.
Realmente a viu.
E isso era perigoso.
Muito perigoso.
A água escorreu por entre seus dedos, fria como o medo que se enroscava em seu coração.
— Eu não esperarei ser escolhida. — murmurou, as palavras frágeis como vidro.
— Eu não viverei à sombra de outro.
Seus punhos se fecharam.
Naquela noite, sob a luz da lua e o olhar silencioso dos deuses esquecidos, Elora fez o voto que mudaria tudo:
— Eu serei digna. Mesmo que nunca me toquem. Mesmo que nunca me amem.
— Eu lutarei. Eu encontrarei meu próprio valor. Eu serei mais do que esperam de mim.
A brisa noturna soprou, levantando a bainha de seu vestido leve, como se o próprio mundo sussurrasse que havia ouvido.
Elora ergueu-se, alta e esguia, como uma guerreira sem espada, uma rainha sem coroa.
Seus olhos, antes tímidos, agora brilhavam com uma determinação que nenhuma seda ou véu poderia esconder.
A partir daquele instante, ela não seria mais uma sombra.
Não esperaria pelas migalhas do destino.
Seria ela mesma a forjar o caminho.
Com ou sem amor.
Com ou sem coroa.
E enquanto ela se afastava da fonte, passos leves e decididos ecoando pelo pátio silencioso, ela não sabia que era observada.
Lá no alto, oculto pelas colunas douradas da varanda real, Caelan permanecia imóvel.
O rei.
Seus olhos, habitualmente endurecidos pela guerra e pelas obrigações, estavam fixos nela.
Na pequena concubina que ousava caminhar como uma rainha invisível.
No fogo silencioso que, mesmo escondido sob mantos simples, ameaçava incendiar o mundo dele.
Ele deveria ter se virado, ter ignorado.
Mas não conseguiu.
E naquele breve momento de fraqueza, Caelan sentiu — com mais certeza do que jamais sentira — que aquela mulher seria sua ruína.
Ou sua salvação.
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O vento carregou o eco do juramento não ouvido.
E nas entranhas silenciosas do palácio, o destino começou a mudar.
Para sempre.
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