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Capítulo 2

O Rei que Não Toca

O trono de Édrith era ocupado por um rei temido e admirado, mas nos salões do palácio, sussurrava-se uma verdade incômoda: Caelan nunca tocava suas concubinas.

Enquanto outras mulheres se pintavam e se perfumavam na esperança de atrair o olhar real, Elora permanecia em sua janela, olhando para o mundo que parecia tão perto e tão distante.

Era como se o rei construísse muros invisíveis ao redor de si, muros que nem a beleza, nem a sedução conseguiam atravessar.

Naquela tarde, a atmosfera no palácio era densa, quase elétrica. Um conselho fora convocado às pressas, e rumores de novas ameaças agitavam os corredores como ventos de tempestade.

Lysa entrou às pressas no quarto de Elora, o rosto pálido de ansiedade.

— O rei passará hoje pelo corredor norte. — disse ela, arrumando o vestido de Elora com dedos trêmulos. — Talvez... talvez você possa vê-lo de perto.

Elora apenas assentiu. Seu coração batia mais rápido, mas ela não permitiu que a esperança o dominasse. Esperar por algo que nunca vinha era como abrir feridas que o tempo insistia em não curar.

Ela caminhou até o corredor designado, os passos leves sobre o mármore branco. O ar cheirava a velas queimadas e a perfumes de outras concubinas, ansiosas para serem notadas. Elora não usava perfume. Não precisava se esconder sob aromas doces. Ela era ela mesma — nua em sua verdade.

E então, ele apareceu.

Caelan era uma presença difícil de ignorar. Vestia negro da cabeça aos pés, uma capa pesada ondulando atrás dele como uma sombra viva.

Seus olhos, de um azul tão escuro que pareciam quase pretos, atravessavam os corredores como lâminas. Ele não sorria, não acenava. Apenas caminhava, sólido e inalcançável como a própria pedra do castelo.

Por um breve instante, os olhos de Caelan encontraram os de Elora.

Foi uma troca silenciosa, um choque quase imperceptível.

Mas para Elora, foi como se o mundo inteiro parasse de girar.

Ele me viu.

Pela primeira vez, ela sentiu: ele realmente me viu.

O olhar dele era impassível, insondável, mas havia algo ali — uma rachadura na muralha perfeita do rei.

Caelan desviou o olhar tão rápido quanto o capturara, seguindo adiante, como se nada tivesse acontecido. Como se Elora fosse apenas mais uma sombra na parede.

Mas para ela, bastou.

Ela ficou parada ali, sentindo a reverberação daquele instante ecoar dentro de si.

Como um fio de ouro puxado em meio à escuridão, ligando seus destinos de forma sutil e invisível.

Atrás dela, Lysa se aproximou cautelosa.

— Ele olhou para você, minha senhora. — murmurou, como se temesse que palavras altas espantassem a magia do momento.

Elora tocou a própria mão, ainda sentindo o calor do olhar que recebera.

— Sim. — respondeu, com um sorriso tímido, mas verdadeiro. — E por hoje... isso basta.

Naquele palácio de sombras e silêncios, onde o toque era negado e as palavras eram armaduras, Elora sabia que havia começado algo.

Algo pequeno, frágil — mas que um dia poderia crescer e mudar tudo.

Ainda que o rei não tocasse ninguém...

Ele a tocara com o olhar.

E no coração de Elora, isso foi mais poderoso do que qualquer carícia.

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Comments

Dulce Gama

Dulce Gama

a história está interessante 🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹🌹👍👍👍👍👍❤️❤️❤️❤️❤️

2025-04-28

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