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Capítulo 3
Olhares que Silenciam
Os corredores do palácio eram longos demais para quem carregava sonhos grandes demais.
Elora caminhava por eles como uma sombra discreta, mas em seu peito, o sangue pulsava como o de uma guerreira presa em correntes de seda.
Era filha de uma linhagem esquecida, moldada pela arte da paciência, mas dentro dela havia uma força que não aceitava ser esquecida para sempre.
Naquela noite, o palácio celebrava o Banquete das Estações. As concubinas enfeitadas deslizavam pelo salão como flores recém-colhidas, cada uma tentando atrair um olhar do rei.
Elora, porém, manteve-se à margem, como sempre. Não por humildade — mas porque sabia que sua essência era diferente daquelas mulheres treinadas para encantar.
Havia uma rainha, viva e presente. Uma mulher de beleza fria, poderosa, que governava ao lado do rei Caelan.
E enquanto ela reinava, nenhuma concubina ousava sonhar em se tornar algo além de um enfeite.
Mas Elora sonhava.
Não com coroas.
Não com vestidos de ouro.
Sonhava com o som de sua própria espada cortando o vento, com a liberdade que só encontraria quando não dependesse do olhar de nenhum homem.
E foi justamente um olhar que a prendeu naquela noite.
Caelan chegou ao salão envolto em sombras. Não sorriu, não acenou. Seu manto negro parecia absorver toda a luz ao seu redor.
Os músicos pararam por um instante — um deslize imperdoável — antes de retomarem a melodia hesitante.
Ele se sentou no trono e observou a multidão com olhos de inverno.
E então, aconteceu.
Sem pressa, como se guiado por um instinto primitivo, seus olhos pousaram sobre Elora.
Um fio invisível pareceu se esticar entre eles, tenso e vibrante.
Elora sentiu o coração martelar no peito, mas não desviou o olhar. Algo dentro dela — talvez sua própria essência de guerreira — a impediu.
Ao seu lado, Lysa, outra concubina, apertou o braço dela.
— Ele olhou para você, Elora. — murmurou, a voz trêmula.
Elora não respondeu. Não poderia.
Toda sua atenção estava presa naquele olhar que dizia tudo e nada ao mesmo tempo.
Caelan sustentou o contato por um segundo a mais do que deveria.
E, num piscar de olhos, desviou, voltando à pose fria de sempre.
Mas o estrago já estava feito.
Mais tarde, no pátio interno, sob o peso doce do luar, Elora caminhava sozinha. Não era permitido, mas ela se permitia pequenos delitos assim — para lembrar a si mesma que era livre em espírito, mesmo se o corpo ainda fosse cativo.
Foi quando ouviu passos firmes.
Instintivamente, levou a mão ao cinto invisível onde, em seus devaneios, carregaria uma espada.
Mas não havia espada. Só o frio da noite e o calor inesperado de um olhar.
Caelan surgiu entre as sombras.
O rei parou a poucos passos dela, o manto negro ondulando como uma criatura viva.
Os olhos dele queimavam na escuridão.
Nenhuma palavra foi dita. Nem uma saudação. Nem uma desculpa.
Apenas o silêncio. Um silêncio tão denso que quase era possível tocá-lo.
Elora sustentou o olhar — não como concubina, mas como alguém que um dia teria direito a se erguer de igual para igual.
Por um instante, pareceu que ele iria falar.
Mas o rei apenas apertou a mandíbula, como se travasse uma batalha interna, e então se virou, sumindo entre as colunas de mármore.
Elora ficou ali, imóvel.
Ela entendeu.
Naquele olhar, havia mais do que curiosidade.
Havia medo.
Havia desejo.
Havia uma guerra que ele não estava pronto para lutar.
Ainda.
E Elora sorriu, um sorriso pequeno, rebelde.
Porque ela sabia lutar.
Mesmo que ele ainda não soubesse, ela lutaria por si mesma primeiro — e depois, talvez, por eles dois.
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Comments
Glaucia Marques Gomes
gostei muito da história,Elora é uma mulher forte e destemida.... ansiosa por mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais
2025-04-28
1
Vanedrigues
ela tem a alma de guerreira
2025-05-03
0
Dulce Gama
parece que a história vai ser boa estou adorando ❤️❤️❤️❤️❤️👍👍👍👍👍👍🌹🌹🌹🌹🌹🌹🎁🎁🎁🎁🎁🎁
2025-04-28
0