Capítulo: O Fogo da Vingança

Victor deu um estalo de dedo. Dois brutamontes saíram da sombra. Nem precisei olhar pra saber que eram dele. Cheiro de sangue e cigarro barato.

— Sumam com isso. — ele apontou com o queixo pro corpo — E limpem a merda. Não quero rastros.

Os caras obedeceram na hora. Nenhuma pergunta.

— E aí? — ele me encarou de novo — Vai sair comigo ou vai fugir pra outro beco?

Dei uma risadinha.

— Vai pagar o jantar?

— Só se você prometer não envenenar minha bebida.

— Prometo... nada.

Ele curtiu. Sorriu. Me ofereceu o braço. Recusei. Andei na frente. Sempre na frente.

A gente saiu daquele prédio fedendo a podridão e foi parar num bar de luxo. Um desses que tenta parecer fino, mas ainda carrega cheiro de gente quebrada com dinheiro emprestado. Entramos juntos. Todo mundo olhou. Normal.

No canto do balcão, uma garota me reconheceu. Não do mundo do crime. Mas da vida.

Roupinha curta. Salto batendo no chão como se fosse princesa. Boca vermelha de batom falsificado.

Ela riu, debochada.

— E aí, Amália... Vai seguir a profissão da mamãe? Ou já tá vendida também?

Parei. Olhei bem. Analisei. Um segundo inteiro.

Ela me desafiando com o olhar como se tivesse força.

Sorri. De canto. Bem devagar.

— Cê lembra quando tua mãe sumia contigo e te deixava na minha casa porque não tinha onde enfiar a vergonha? Pois é. Eu lembro.

Ela perdeu o tom.

— E outra... Eu posso ser filha de uma vadia, mas pelo menos não virei cópia.

A menina murchou. Saiu pisando duro. Tentando não parecer derrotada. Mas tava.

ele me olhou de lado.

— Essa doeu até em mim.

— Tava entalada faz tempo.

— Quem era?

— Só mais uma das que adora jogar lama no nome dos outros pra esconder o próprio cheiro.

Ele acenou pro garçom, pediu dois whiskies.

— Você fala como quem já carregou coisa demais.

— Eu carrego. Duas vidas, pra ser exata. Uma de matar... e outra de sobreviver à minha mãe.

Ele franziu a testa, curioso.

— Conta aí. Tô aqui, com tempo e gelo.

Suspirei. Baixei o olhar um segundo, depois voltei com os olhos firmes.

— Meu pai tá preso.

— Por quê?

— Assassinato.

— Tenso.

— Mais ou menos... — tomei um gole — Ele matou um homem que tentou abusar de mim quando eu tinha oito anos.

Victor ficou quieto.

— Só que ninguém viu como proteção. Só viram sangue.

— E tua mãe?

— Vive me culpando até hoje. Diz que foi minha culpa ele ter ido preso. Que eu devia ter ficado quieta. Que era só “um homem querendo brincar”.

Ele cerrou o punho na mesa.

— E você...?

— Eu? Eu finjo que escuto. Finjo que entendo. Mas por dentro, só tô contando os dias pra ela morrer.

ele ficou calado. Depois tomou o whisky inteiro num gole só.

— Você é pior do que eu imaginei.

— Você também.

— Isso é bom.

— Isso é ótimo.

Ele tava olhando pra mim de um jeito diferente agora.

Não era desejo.

Nem medo.

Era tipo… curiosidade. De quem achou uma alma podre igual a dele.

— E como é teu dia a dia? — ele perguntou, girando o copo de whisky — Tipo… quando não tá matando gente?

Dei uma risada seca.

— Quer dizer… quando eu tô fingindo ser normal?

Ele deu de ombros.

— É.

Apoiei o cotovelo no balcão. Encarei o nada.

— Acordo cedo. Minha mãe já tá gritando com alguém, ou com o espelho, ou com o próprio passado. Me obriga a tomar café com ela pra fingir que somos uma família.

— E vocês são?

— Somos uma mentira. Mas bem maquiada.

Victor não disse nada. Só escutava. E eu continuei.

— Depois vou pra faculdade. Chego, ninguém fala comigo. Literalmente.

— Sério?

— Sério. Sou aquela “esquisita”. A que nunca ri. A que não tem Instagram, nem foto de biquíni.

— A que ninguém tem coragem de provocar, mas todo mundo fala por trás.

Sorri de lado.

— Isso aí.

— E por que ainda vai?

— Porque eu gosto de aprender. Gosto de entender as regras... antes de quebrar todas elas.

Ele riu. E foi sincero.

— Eu gosto disso em você.

— E você? — perguntei — Vive do quê?

— Vivo dos restos dos outros. Do que sobra da sujeira.

— Isso não diz nada.

Ele girou o anel no dedo, pensativo.

— Eu sou dono de boates, rodo dinheiro sujo, cuido de guerras que ninguém quer que o mundo veja.

— É o Diabo de terno, né?

— Algo assim.

Ficamos em silêncio uns segundos. O bar tava cheio, mas parecia que a mesa era só nossa.

— Vamos sair daqui? — ele perguntou.

— Pra onde?

— Lugar sem som, sem gente, sem perguntas.

— Mas com bebida?

— Sempre.

Saímos. O motorista dele já esperava. Preto, blindado, ar condicionado no grau certo. Entramos.

No caminho, ele me olhou de novo.

— Nunca conheci ninguém como você.

— E nunca vai conhecer.

A gente seguiu em silêncio. Mas não era silêncio desconfortável. Era o tipo de silêncio onde duas almas podres se reconhecem.

Quando chegamos na cobertura dele, vi que não era só rico. Era cuidadoso. Detalhista. Frio.

Igual a mim.

Ele me ofereceu um vinho caro. Aceitei. Sentamos frente a frente.

E aí ele perguntou:

— E se eu te oferecesse mais do que só uma noite?

Eu encarei. Sem piscar.

— Tipo o quê?

— Tipo… parceria.

— Negócios?

— Sangue.

Dei um gole no vinho, devagar.

— Eu topo.

— Nem perguntei o que ia envolver.

— Eu não pergunto, Max. Eu só mato.

Ele me olhou com aquele jeito de quem quer mais do que resposta.

Olhar de quem quer entrar sem bater.

Mas eu sempre tranco a porta.

— Nunca conheci ninguém como você — ele disse.

— Não tem outra igual. Nem parecida.

A taça tava na minha mão, e o vinho rodando sem pressa.

Ele se inclinou pra frente, olhando direto nos meus olhos.

— Posso te fazer uma pergunta?

— Já tá fazendo.

— Você parece saber tudo sobre os outros… Mas ninguém sabe nada de você.

Levantei uma sobrancelha.

— Isso não é uma pergunta.

— Tá. Então vou direto: você já teve alguém?

Ri. Sem humor.

— Isso importa?

— Importa pra mim.

Dei outro gole no vinho.

— Nunca deixei ninguém me tocar. Nunca.

— Nunca tipo…?

— Nunca — repeti — Nunca me entreguei. Nunca tirei a roupa por querer. Nem por dinheiro. Nem por carência. Nem por amor.

Ele piscou, como se isso tivesse pego ele de surpresa.

— Mas por que…?

— Porque meu corpo é meu. Só meu.

Porque eu vi o que acontece quando alguém acha que tem o direito de tomar o que não é dele.

Vi no olhar da minha mãe. Vi nas cicatrizes da minha infância. Vi nas mãos do homem que tentou… você já sabe.

Max ficou em silêncio. Respeitoso. Raro.

— Então, quer dizer que você… — ele começou.

— Que eu sou virgem? — cortei ele, seca. — Sou. E não tenho pressa de deixar de ser. Porque quem quiser isso de mim, vai ter que me conquistar de um jeito que ninguém nunca conseguiu. Vai ter que sobreviver ao inferno que eu carrego por dentro.

Ele encostou no sofá.

— Você me dá medo.

— E ainda assim não consegue parar de olhar.

O silêncio voltou, pesado. Mas íntimo. Quente.

— Você não tem medo de ninguém? — ele perguntou.

— Eu tenho medo de virar igual a minha mãe.

— E você já tá perto disso?

— Eu sou o avesso dela. Mas carrego o sangue. Isso é o que me preocupa.

Ele se aproximou, mais uma vez.

— E se eu quisesse… te conquistar?

Olhei bem nos olhos dele, sorri com canto da boca.

— Boa sorte, Max. Porque você tá tentando domar um incêndio.

Ela chegou mais perto. Devagar. Como quem não tem pressa pra matar.

Max tava encostado na bancada de mármore, mexendo no relógio de ouro no pulso, mas o olhar... o olhar tava cravado nela.

Amália parou a poucos centímetros.

Sussurrou perto do ouvido dele.

— Sabia que, se eu quisesse... você já tava de joelhos?

Ele deu um risinho.

— Tô começando a acreditar.

Ela encostou os dedos no peito dele, subindo devagar, até o ombro. O olhar ainda frio, mas o corpo? Corpo falava outra língua.

Ele prendeu a respiração.

Ela percebeu. E gostou.

— Seu coração acelerou, Max…

— Normal. Olha o que tem na minha frente.

Ela sorriu, se inclinou até a boca quase tocar a dele.

— Pena que eu gosto de homens difíceis. E você parece fácil demais.

Deu um tapinha no rosto dele, bem leve, debochada.

— Relaxa, garanhão. Foi só um teste. Você não passou.

Virou as costas e saiu rebolando só o suficiente pra provocar.

Mas sem dar nada. Sem prometer nada.

Ele riu alto, meio sem acreditar.

— Você é doida.

Ela virou o rosto por cima do ombro, piscou.

— Doida, não. Intensa. Tem diferença.

Capítulos
1 Capítulo: Apresentando a Dor
2 Capítulo: O Jogo da Vingança
3 Capítulo: O Fogo da Vingança
4 Roubei foi o cafetão
5 Capítulo: A Sombra Do Medo
6 Capítulo: "Quando a Dor Não Basta"
7 Capítulo: "Nada além de arranhões"
8 Capítulo: "Predadores Se Reconhecem"
9 Capítulo — Entregue à Escuridão
10 Capítulo:A Coroação da Rainha Sombria
11 Capítulo - Devolvendo Cada Cicatriz
12 Capítulo – O Inferno Tem Novo Nome
13 Capítulo – O Amor Também Mata
14 Capítulo – A Rainha do Submundo
15 Capítulo – O Preço da Insubordinação
16 Capítulo – O Amor Talves Exista...
17 Capítulo – Eliza
18 Capítulo – A Presa
19 Capítulo – A Primeira Palavra. Quando o amor, vira fraqueza.
20 Capítulo – Doce para uns. Faca para outros.
21 Capítulo — Fera em Pele de Homem
22 Capítulo:A primeira lição de Sangue.
23 Capítulo:O Professor Que Amava a Morte.
24 Capítulo — O Brilho Letal da Nova Geração
25 Capítulo: O Garoto Normal
26 Capítulo — Corações de Guerra
27 Capítulo – A Mentira do Sangue
28 Capítulo 146 — A Filha Perdida da Morte
29 Capítulo — Ecos de Sangue
30 Capítulo — O Herdeiro da Gargalhada
31 Capítulo – A Bruna Que Nunca Morreu
32 Capítulo — O Espelho de Pietro
33 Capítulo — A Filha da Culpa
34 Capítulo — "A Herdeira dos Espelhos"
35 Capítulo — Reinicie o jogo, ou morra nele
36 Capítulo – “Os Mortos que Andam”
37 Capítulo – “Códigos de Sangue”
38 Capítulo – “O Dom de Katya”
Capítulos

Atualizado até capítulo 38

1
Capítulo: Apresentando a Dor
2
Capítulo: O Jogo da Vingança
3
Capítulo: O Fogo da Vingança
4
Roubei foi o cafetão
5
Capítulo: A Sombra Do Medo
6
Capítulo: "Quando a Dor Não Basta"
7
Capítulo: "Nada além de arranhões"
8
Capítulo: "Predadores Se Reconhecem"
9
Capítulo — Entregue à Escuridão
10
Capítulo:A Coroação da Rainha Sombria
11
Capítulo - Devolvendo Cada Cicatriz
12
Capítulo – O Inferno Tem Novo Nome
13
Capítulo – O Amor Também Mata
14
Capítulo – A Rainha do Submundo
15
Capítulo – O Preço da Insubordinação
16
Capítulo – O Amor Talves Exista...
17
Capítulo – Eliza
18
Capítulo – A Presa
19
Capítulo – A Primeira Palavra. Quando o amor, vira fraqueza.
20
Capítulo – Doce para uns. Faca para outros.
21
Capítulo — Fera em Pele de Homem
22
Capítulo:A primeira lição de Sangue.
23
Capítulo:O Professor Que Amava a Morte.
24
Capítulo — O Brilho Letal da Nova Geração
25
Capítulo: O Garoto Normal
26
Capítulo — Corações de Guerra
27
Capítulo – A Mentira do Sangue
28
Capítulo 146 — A Filha Perdida da Morte
29
Capítulo — Ecos de Sangue
30
Capítulo — O Herdeiro da Gargalhada
31
Capítulo – A Bruna Que Nunca Morreu
32
Capítulo — O Espelho de Pietro
33
Capítulo — A Filha da Culpa
34
Capítulo — "A Herdeira dos Espelhos"
35
Capítulo — Reinicie o jogo, ou morra nele
36
Capítulo – “Os Mortos que Andam”
37
Capítulo – “Códigos de Sangue”
38
Capítulo – “O Dom de Katya”

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