Meu nome é Amália. E se você olhar bem, vai ver uma garota bonita, talvez até mais do que isso. Mas ninguém realmente vê quem eu sou. Eles veem apenas o corpo. O reflexo perfeito do que os outros desejam, mas que ninguém quer entender. E a verdade? Eu não ligo mais para o que pensam. Eu não sou mais nada além de uma carcaça bonita que já não sente mais nada.
Eu sou bonita. Cabelos cacheados que caem de maneira rebelde, corpo que parece ter sido feito para atrair olhares. Mas isso não é tudo. Não importa o quanto me vejam, ninguém consegue entender que, por dentro, eu sou um abismo de dor. Eu aprendi a gostar disso. A dor, a humilhação, a rejeição… Tudo isso virou parte de quem eu sou.
Na escola, minha vida é um reflexo perfeito daquilo que me fizeram. As meninas me olham com inveja, mas também com desprezo. Me chamam de nomes, me empurram pelos corredores, fazem piadas sobre mim. E eu? Eu não reajo. Não mais. Afogo minha cabeça no vaso do banheiro, sinto a água fria e suja me invadir. E, de alguma forma, a dor ali me acalma, me dá uma sensação de controle. É como se me afogar na dor fosse o único jeito de me manter inteira, de sentir algo além desse vazio.
Os meninos? Eles me atacam de outra maneira. Gritam, batem. Já me roubaram o dinheiro da carteira, me deram tapas na cara, achando que estavam me humilhando. Mas a verdade é que eu gosto disso. Não por gostar da dor em si, mas porque ela é a única coisa que me faz sentir viva. Eu sei que deveria reagir, gritar, fugir. Mas, no fundo, tudo o que eu quero é que parem de fingir que sou uma pessoa. Sou apenas um objeto, e já aceitei isso. No fundo, a dor me liberta de todas as expectativas que os outros têm sobre mim.
Em casa, a história é a mesma. Minha mãe me bate, me humilha, e eu não faço nada. Eu apenas vivo com isso, como uma sombra, uma casca vazia. Meu pai está preso, mas ainda tenta me escrever, me mandar um pouco de carinho, mesmo que esteja distante. Mas eu não preciso disso. Eu sou o que a dor fez de mim. A dor é minha companheira. E é o que me mantém de pé, por mais quebrada que eu esteja.
E quando o dia chega ao fim, quando vou para o trabalho, tudo é só uma repetição. Eu trabalho em uma loja de roupas, porque meu corpo é um atrativo. Porque ele é desejado. Eu sou o tipo de garota que as pessoas olham e pensam: "Essa vai ser boa para a vitrine". Mas já estou cansada. Meu chefe, um homem gordo com olhar lascivo, me olha de uma forma que me faz querer vomitar. Ele toca em mim com as mãos suadas, diz coisas nojentas que me fazem querer desaparecer. Mas, como sempre, eu não reajo. Apenas sou.
Eu sei que deveria ter vergonha disso. Que deveria querer algo mais. Mas a verdade é que eu não quero. A dor, a humilhação, a rejeição… Eu as carrego como uma carga que ninguém mais pode entender. Elas são parte de mim. E, no fim, é isso que eu sou: uma garota bonita que aprendeu a viver com a dor, que aprendeu a desejar o sofrimento porque, de alguma maneira, ele é a única coisa que me mantém inteira.
Eu sou Amália. E a dor é minha única verdade.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 34
Comments